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Diarreia, pneumonia e desnutrição matam mais crianças pretas e indígenas do que as brancas, revela estudo
Mais de 230 mil óbitos de menores de 5 anos foram registrados em sete anos, por pesquisadores da Fiocruz Bahia (Júnior Hekurari/Reprodução)
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24 de setembro de 2022
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – Crianças pretas e indígenas morrem mais do que as brancas por doenças evitáveis, como diarreia, desnutrição e pneumonia. É o que revela um estudo do Instituto Gonçalo Moniz – Fiocruz Bahia, considerado o maior levantamento já feito sobre mortalidade infantil com recortes étnico e racial.
Publicada na The Lancet Global Health, uma das mais respeitadas revistas sobre saúde do mundo, a pesquisa confirma a realidade do abandono sofrido, especialmente pelos povos da floresta.
Mortalidade
Os pesquisadores acompanharam mais de 19 milhões de crianças nascidas entre 1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2018. Nesses sete anos, foram registrados mais de 230 mil óbitos de menores de 5 anos.
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A desnutrição tem taxa 16 vezes maior entre indígenas do que entre os brancos. No caso de diarreia, o índice é 14 vezes maior e de pneumonia, sete vezes.
Já entre crianças pretas, o risco de morrer por desnutrição é duas vezes maior do que para as brancas, além de 78% maior por pneumonia e 72% por diarreia.
Racismo
Diante dos dados, os autores do estudo concluíram que o racismo é determinante para os problemas da saúde no País, e que isso provoca sérios danos durante a gravidez, com redução, inclusive, dos cuidados pré-natais. Condições que se agravam durante e após o parto, gerando aumento das taxas de mortalidade infantil.
“Eu diria que o racismo é a condição atravessadora da situação. A gente usou a raça/cor da pele da mãe como proxy [variável] do racismo e, aí, a gente estuda a desigualdade racial nesse cenário”, explicou a pesquisadora líder do estudo, Poliana Rebouças, à REVISTA CENARIUM.
A pesquisa mostra, também, que, no Brasil, mães negras, pardas e indígenas vivem em condições desfavoráveis e com menor escolaridade. Por isso,Rebouças defende que é preciso romper as barreiras que essas mães e famílias encontram como obstáculos ao acesso a serviços de saúde com qualidade.
“A saúde é o resultado de inúmeros determinantes sociais, então, são as melhorias nas condições de vida que precedem as condições de saúde, como moradia, renda, empregos, escolaridade e por fim, o acesso a serviços de saúde”, disse a pesquisadora.
“É importante que exista uma agenda que priorize a saúde das crianças pretas, pardas e indígenas no nosso País, se a gente quer, de fato, cuidar da sobrevivência das crianças”, acrescentou Poliana Rebouças.
Descaso nas aldeias
Para o líder indígena Júnior Hekurari Yanomami, boa parte desse cenário poderia ser revertida com ações mais robustas do governo federal.
Ele relembra a foto de uma criança indígena, debilitada e com quadro grave de malária, pneumonia, verminose e desnutrição, publicada por um missionário, no ano passado. Um fiel retrato da falta de assistência e do avanço da fome.
“Aquela imagem mostrada ano passado (…) está na mesma situação [a realidade na Terra Indígena Yanomami]. Nós, indígenas, estamos pedindo. Nós, indígenas, estamos gritando, pedindo socorro. Alguém [precisa] ouvir a nossa voz, para salvar a população indígena, a população criança (…) essas crianças precisam ser salvas”, desabafou Júnior Hekurari, que também é presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Yek’wana (Condisi-YY).
À REVISTA CENARIUM, Hekurari alerta que essa realidade não é exclusividade do Povo Yanomami, mas que assola a todos os Povos Indígenas do Brasil.
“Tem muitas crianças que estão adoecendo, emagrecendo, tendo desnutrição e morrendo. Estamos perdendo muitas crianças desde a entrada do Governo Bolsonaro. Essa é a verdadeira realidade que nós estamos enfrentando, nós não estamos inventando isso. Não existe um olhar do governo federal”, lamentou.
Retrocesso
A pesquisadora da Fiocruz Bahia Poliana Rebouças,diz que apesar de o Brasil ter reduzido gradativamente as taxas de mortalidade infantil desde 1990, quando os cientistas voltam os olhares essas mortes, de maneira mais aprofundada, se torna evidente quão escancarada é a relação entre mortalidade e as desigualdades de Norte a Sul do Brasil.
“O País tem uma política nacional de saúde integral da população negra, importante registrar isso. E dos povos indígenas, também. Porém, são políticas que não foram, ainda, aplicadas, de forma genuína. Seria uma recomendação do nosso estudo, a partir dos resultados que tivemos, que essas políticas sejam, de fato, implementadas e com foco na infância”, concluiu Rebouças.
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