Estrela Eta Carinae vai atingir seu maior brilho aparente em 2032, diz estudo

Eta Carinae já foi a segunda estrela mais brilhante do céu (Divulgação)
Da Revista Cenarium Amazônia*

SÃO PAULO (SP) – A estrela mais luminosa da Via Láctea, Eta Carinae, poderá ser vista com clareza a partir do ano de 2032, após a dissipação total do glóbulo de poeira que dificulta a visualização do sistema duplo central a olho nu. É o que indica o estudo liderado pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), publicado no The Astrophysical Journal.

O estudo mostra, ainda, que a estrela se estabilizou em cerca de 50 anos após a grande erupção de 1840, teve suas camadas internas acomodadas nesse tempo e não em uma escala de tempo de centenas e milhares de anos, como previsto pela teoria atual de Estrutura Estelar.  

Essas descobertas compõem estudo liderado por pesquisadores do IAG/USP, publicado no mês de setembro pela revista científica The Astrophysical Journal. Internacional e multicêntrico, reunindo 27 autores. O estudo é liderado pelo astrônomo e astrofísico Augusto Damineli Neto, professor titular do Departamento de Astronomia do IAG/USP. O estudo, na íntegra, está disponível em https://iopscience.iop.org/article/10.3847/1538-4357/ace596/pdf.

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A Eta Carinae adquiriu a reputação de estrela imprevisível na década de 1840, quando se tornou a segunda estrela mais brilhante do céu. Era tida como uma estrela sozinha e instável, que ainda estava se recuperando da Grande Erupção e que levaria muitos séculos para voltar ao normal. A primeira revolução, feita anteriormente por outros autores, foi a demonstração de que explodiu como uma verdadeira supernova, apesar de ter sobrevivido à explosão, possivelmente pela fusão de duas estrelas de um sistema triplo. Parte da intrincada variabilidade espectroscópica e fotométrica se explicaram pela descoberta de que ela é um sistema duplo com alta excentricidade.

Na Grande Erupção, ao invés de morrer como uma supernova, como seria esperado, houve uma emissão brutal de energia que causou uma explosão que levou a Eta Carinae a ejetar uma camada de poeira que a escondeu, deixando-a invisível. Em meados de 1900, ela começou a aumentar de brilho novamente, dando a ela uma fama de estrela problemática. “Se imaginava que poderia haver uma grande explosão novamente, com uma ideia fantasiosa que poderia causar não apenas a morte desta estrela, como também a nossa morte. Porém, não estamos diante da Estrela da Morte, como ela chegou a ser apelidada”, explica Damineli Neto, autor do estudo, astrônomo e astrofísico, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo – USP.

Modelo de cálculo

Com a proposta de mensurar se a estrela Eta Carinae estaria evoluindo intrinsecamente, ou seja, perdendo cada vez menos matéria pelo vento, o grupo liderado por Damineli fez uma simulação utilizando o código CMFGEN e mostrou que isso não ocorre. “Ele mostra que uma estrela evoluindo sozinha, não produziria tudo o que se observa. Embora uma pequena parte das observações poderia ser explicada por uma redução da taxa de perda de matéria, esta é uma explicação que falha completamente em um monte de aspectos”, afirma o autor.

A estrela é um pouco menor que a órbita de Mercúrio. O glóbulo de poeira é cerca de cinco a seis vezes maior que a estrela e, com isso, cobre a parte central da estrela. “Esse glóbulo cobre só a parte interna, mas não a externa do vento estelar. Conseguimos calcular o vento sem estar totalmente encoberto pelo glóbulo de poeira. Foi então possível, de forma inédita, mostrar que todas as variações ao longo prazo observadas não correspondem a uma evolução da estrela, mas a uma evolução desse glóbulo de poeira, que está se dissipando e ficando cada vez mais transparente. Então, vemos como se a estrela estivesse aumentando em brilho, mas não é verdade. É o glóbulo se tornando transparente”, finaliza.

Sobre o IAG/USP

O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo é um dos principais polos de pesquisa do Brasil nas áreas de Ciências Exatas e da Terra. A missão é contribuir para o desenvolvimento do país, promovendo o ensino, a pesquisa e a difusão de conhecimentos sobre as ciências da Terra e do Universo e aspirando reconhecimento e liderança pela qualidade dos profissionais formados e pelo impacto da atuação científica e acadêmica.

Na graduação, o IAG recebe em seus três cursos 80 novos alunos todos os anos. Já são mais de 700 profissionais formados pelo IAG, entre geofísicos, meteorologistas e astrônomos. Os quatro programas de pós-graduação do IAG já formaram mais de 870 mestres e 450 doutores desde a década de 1970. O corpo docente também tem posição de destaque em grandes colaborações científicas nacionais e internacionais.

(*) Com informações da assessoria

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