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Estudantes indígenas do Inpa convergem saberes étnicos à ciência
Os estudantes indígenas de mestrado do Inpa, localizado em Manaus, são exemplos de lutas, avanços e conscientização social e política (Reprodução/Arquivo Pessoal)
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19 de abril de 2023
Mencius Melo – Da Revista Cenarium*
MANAUS – O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) destaca estudantes indígenas que fazem parte dos seus quadros de mestrado. São alunos dos Programas de Pós-Graduação em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia (MPGAP) e da Ecologia (PPGECO). Originários do Amazonas, Rondônia e Mato Grosso, os mestrandos pertencem aos povos Baré, Baniwa, Cinta Larga e Kuikuro. Juntos, eles fazem do Inpa um ponto convergente entre os saberes ancestrais e a ciência, aliando conhecimento étnico ao científico.
Entre os futuros mestres está a professora Sandra Castro, 54 anos, do povo Baré, de Santa Isabel do Rio Negro. Sandra revelou que optou por entrar no mestrado para absorver conhecimentos e usá-los em defesa dos territórios indígenas. “Eu considero de maior importância para a vida no meio ambiente ter esse conhecimento científico, pois o prático, nós, povos indígenas, já temos e sabemos fazer, do nosso modo, para usarmos na preservação dos nossos territórios. Essa troca de conhecimentos só agrega mais valores em prol de uma natureza quase que perdida, e não é na nossa geração que vamos deixar ela ser mais destruída” declarou.
Outro que também ingressou para buscar o fortalecimento da educação entre o seu povo é Joaquim da Silva Lopes, do povo Baniwa, da aldeia Canadá, no Alto Rio Negro. Estudante do mestrado em Ecologia, diz que após sua graduação em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ficou três anos à espera da oportunidade de ingressar em algum mestrado e prosseguir em sua vida acadêmica e profissional. Quando foram abertas as seleções, pelo Inpa, para Ecologia, em 2022, Joaquim não perdeu tempo.
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Avançar
Joaquim revelou que a escolha também partiu da observação sobre as carências do território indígena, no que diz respeito ao fortalecimento da grade curricular. “Durante minha trajetória, verifiquei no território educativo Canadá, que falta avançar muito, na questão de recursos humanos, na área da biologia. Pensei em fazer mestrado em biologia porque não têm pessoas que conheçam essa área no território educativo. Vivenciamos o conhecimento, mas não há pessoas que fazem registros sobre o conhecimento para a nova geração”, observou Baniwa.
Do povo Cinta Larga, Diogo Cinta Larga é mestrando também em Ecologia. O rondoniense é formado em Ciências Ambientais pelo Centro Universitário São Lucas. Atua como professor no território Cinta Larga. Militante contra o preconceito estabelecido pelo marco da ocupação portuguesa de 1.500, ele declarou: “O índio não é burro, ele é igual a todo mundo. Eu tive dedicação para sair da minha aldeia, conquistar meus estudos e continuar”, destacou.
Consciente de seu papel como agente de mudança e transformação na vida do povo Cinta Larga, de Rondônia, Diogo faz uma análise. “O etnoambiental se concilia com o científico, pois existem vários medicamentos na minha cultura que a gente pega da floresta. Meu objetivo, como mestrando, é juntar o conhecimento etnoambiental com o científico, na ecologia. Além do mestrado, eu quero seguir carreira no doutorado e pós-doutorado”, adiantou o estudante.
Xingu
Representante do Xingu, na leva de estudantes do Inpa, o mato-grossense Peiecu Kuikuro, também conhecido como Yuri, é mestrando em Ecologia. Originário do povo Kuikuro, um dos povos que habita o Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso, Kuiruro destaca a importância do conhecimento. “Cuidar dessa biodiversidade não é só responsabilidade do indígena, mas de todos os seres humanos que vivem nesse mundo. A comunidade indígena tem um papel fundamental na conservação do meio ambiente e é importante compartilhar seus conhecimentos e visões com outros povos”, argumentou.
Docente do Inpa, a pesquisadora Ana Carla Bruno desenvolve inúmeras pesquisas com povos indígenas na instituição. Carla faz uma análise sobre os povos indígenas e a produção do conhecimento. “Os indígenas, por muito tempo, foram sempre objetos e temas da produção de conhecimento de diversas áreas da ciência. Acho que, nos últimos anos, a gente tem visto um movimento que, agora, eles passam a ser também produtores desses conhecimentos e isso é muito importante. Mas é preciso que a ciência leve mais a sério a produção desses conhecimentos”, avaliou.
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