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Estudo desenvolve concreto sustentável a partir da casca do murumuru
Resultado do cimento a partir da semente do Murumuru (Divulgação)
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18 de setembro de 2023
Alessandra Leite – Especial para a Revista Cenarium
SÃO PAULO – Bastante conhecido na região amazônica pela produção de cosméticos a partir da polpa e do óleo gerados, o murumuru, semente de palmeira que cresce na região da Amazônia, agora desponta como uma possível alternativa para o aprimoramento do cimento, apoiando a busca da construção civil por estruturas mais leves e com maior impermeabilidade do concreto.
A novidade é resultado do estudo apresentado pelo Núcleo de Desenvolvimento Amazônico em Engenharia da Universidade Federal do Pará (UFPA), em parceria com o Instituto Federal do Pará (IFPA) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Segundo o censo agropecuário -IBGE de 2017-, são extraídas 253 toneladas de semente por ano do murumuru, sendo 47% de casca, o equivalente a 118,9 toneladas. Durante a pesquisa, o material, que antes seria descartado e desperdiçado, passou por um processo químico em um forno convencional para redução da massa, prática comum na região amazônica. Depois disso, o resíduo foi triturado e peneirado. A massa obtida passou por análises físico-mecânicas, mineralógicas e químicas para que fosse reaproveitada integralmente.
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Para Milleno Souza, autor do estudo e mestre em Engenharia de Infraestrutura e Desenvolvimento Energético da UFPA, o material auxilia na produção de um concreto mais leve e ecologicamente correto, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, economizando recursos naturais, bem como evitando a disposição inadequada do resíduo ou a sua queima, que resulta em mais poluentes. “Pela quantidade de toneladas extraídas por ano, podemos acreditar que, pelo menos de forma local na região amazônica, as cimenteiras poderiam aproveitar o resíduo”, avalia.
Segundo o pesquisador, a cinza da casca do murumuru demonstrou ter um efeito filler, que se trata do preenchimento dos vazios do concreto. “Desse modo, há a melhora do empacotamento dos grãos, o que torna o concreto mais impermeável, aumentando sua durabilidade. Além disso, essa cinza possui óxidos importantes, como a sílica, que podem influenciar no efeito pozolânico (reduzindo o calor de hidratação do cimento) aumentando a durabilidade e fator de resistência do concreto”, explica.
A partir das análises, segundo o autor, concluiu-se que, com o acréscimo de um aditivo plastificante, o material pode substituir parcialmente o cimento na produção de um concreto com maior durabilidade e melhores propriedades físicas, gerando benefícios para o planeta e para a construção civil. “Entre os benefícios do concreto sustentável, temos a diminuição dos poros da estrutura, deixando-a mais impermeável, bem como a redução de seu peso”, pontua.
Souza enfatiza que, embora não exista a possibilidade de substituir completamente o cimento – nem mesmo por algumas outras adições já estudadas – o percentual de 6% apresentado no decorrer da pesquisa já pode trazer um impacto benéfico para o meio ambiente. “Apenas o cimento tradicional tem propriedades físico-químicas importantes no melhoramento mecânico, então o que se pode fazer é substituí-lo parcialmente. O nosso percentual alcançado pode parecer pequeno, mas livra os resíduos que seriam queimados, sobrecarregando os aterros. Além disso, diminui, ainda que minimamente, os componentes utilizados na fabricação do cimento, no caso o clínquer, que em sua queima gera gases poluentes”, esclarece.
O pesquisador ressalta que esse é o primeiro estudo utilizando a cinza da casca do murumuru no concreto, pedindo algumas pesquisas complementares. “Nossa pesquisa tem pouco mais de um ano e os resultados já se mostram promissores inicialmente. Precisa-se buscar outros resultados, fazer análises do resíduo com outros tipos de traço de concreto, queimar as cascas em outras temperaturas. Isso tudo com o intuito de saber se ocorrerá um melhoramento nas propriedades físico-químicas e mecânicas da estrutura da cinza e do concreto”, finaliza.
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