Estudo mostra que a prática do perdão melhora a saúde mental e alivia o emocional

Na imagem, duas mulheres se abraçam, chorando, em atitude de perdão (Reprodução/Internet)
Da Revista Cenarium*

ESTADOS UNIDOS – Para alguém que tem uma vida tranquila, meu filho de 8 anos pode guardar um rancor sério. Do nada, ele, recentemente, trouxe à tona “aquela coisa ruim do lápis que aconteceu”. Levei algum tempo para decifrar que ele estava falando sobre o colega que roubou um de seus utensílios de escrita… quase dois anos atrás.

Eu pensava sobre a incapacidade do meu filho de esquecer o Grande Incidente do Lápis da Primeira Série, quando soube, recentemente, de uma nova pesquisa que sugere que o perdão melhora o bem-estar mental – e oferece um roteiro para chegar lá.

No estudo, que foi apresentado em uma conferência interdisciplinar sobre perdão, na Universidade de Harvard, e está, atualmente, em revisão para publicação, os pesquisadores designaram, aleatoriamente, 4.598 participantes de cinco países em grupos. Um conjunto recebeu uma apostila de perdão com exercícios que eles fizeram por conta própria.

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Perdoar melhora a saúde mental (Maria Medem/The New York Times)

(Um exemplo: escreva a história de uma mágoa específica que você deseja perdoar. Em seguida, escreva-a, novamente, como um observador, sem enfatizar o quão ruim o malfeitor foi ou como você se sentiu vitimado. Procure, pelo menos, três diferenças entre as duas versões.) Os do grupo de controle esperaram duas semanas antes de receber a apostila.

Quando as duas semanas terminaram, os pesquisadores descobriram que os participantes que concluíram o caderno de exercícios se sentiram mais inclinados ao perdão do que os do grupo de controle – e reduziram os sintomas de ansiedade e depressão. Essas descobertas concordam com outros estudos sobre o perdão, que descobriram que pode ser uma bênção para a saúde mental, ajudando a fazer coisas como diminuir o estresse e melhorar o sono.

“O que o perdão faz é libertar a vítima do ofensor”, diz Tyler VanderWeele, diretor do Programa de Florescimento Humano, em Harvard, e um dos coautores do estudo. “Eu nunca diria ‘Uma vez que você perdoou, está tudo bem’.” Mas é uma alternativa melhor à ruminação ou repressão, afirma. E é, provavelmente, por isso que pode melhorar o bem-estar mental geral.

Como meu filho demonstra, pode ser difícil perdoar até mesmo transgressões menores – e não estou pensando nele aqui. Eu poderia, facilmente, tagarelar sobre uma lista de ofensas que venho segurando há anos. Mas VanderWeele acredita que o perdão é uma habilidade que pode ser praticada. Falei com ele sobre como começar.

Numa sociedade com polarização e animosidade crescentes, essa disposição para perdoar é, potencialmente, muito necessária (Reprodução/Internet)

As perguntas e respostas foram editadas e condensadas para maior clareza.

O que significa perdoar alguém? Minha definição de trabalho é apenas substituir má vontade por boa vontade em relação ao ofensor. Perdoar não é esquecer a ação ou fingir que não aconteceu, não é desculpar ou tolerar a ação, e não é o mesmo que se reconciliar ou abrir mão da justiça. Pode-se perdoar enquanto ainda se busca um resultado justo.

O livro de exercícios do estudo depende muito do trabalho de um dos coautores, Everett Worthington, que também tem uma notável história de perdão: sua mãe foi assassinada em meados da década de 1990 e ele perdoou o perpetrador. Quais são algumas das principais estratégias? Uma delas é recordar a mágoa, não tentar reprimi-la. Outra é tentar ter empatia com o ofensor – sem tolerá-lo ou invalidar seus próprios sentimentos.

Mais fácil dizer do que fazer! Um exercício é colocar duas cadeiras e fingir que o infrator está numa delas. Depois de descrever o que aconteceu pela sua perspectiva, você se senta na cadeira do ofensor e descreve o que aconteceu da perspectiva dele. Pode ser um pouco perturbador, mas é uma experiência muito poderosa.

Você acha que as pessoas podem melhorar no perdão ao longo do tempo? É possível mudar para uma disposição melhor em relação ao perdão. Pensar: “Como quero interagir com o mundo de maneira mais geral? Esta, certamente, não será a última vez que serei magoado ou ofendido por outras pessoas, então, quando isso acontecer novamente, posso estar numa posição melhor para perdoar?”.

Numa sociedade como a nossa, com polarização e animosidade crescentes, essa disposição para perdoar é, potencialmente, muito necessária.

Leia também: Cientistas descobriram que partes da região do cérebro governa corpo e mente
(*) Com informações da Folhapress
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