General do Irã em primeira declaração oficial admite ao menos 300 mortes em protestos

De acordo com a agência Associated Press, o militar incluiu nessa conta o que chamou de mártires, em possível referência a agentes de forças de segurança mortos em conflito com manifestantes (Marud Sezer/21.set.22/Reuters)

SÃO PAULO – Um general iraniano deu, nesta segunda-feira, 28, a primeira declaração oficial, em ao menos dois meses, sobre mortes nos protestos desencadeados pela morte da jovem Mahsa Amini, há dois meses e meio. Os atos representam o maior desafio público ao regime em anos.

Segundo um site alinhado à Guarda Revolucionária, o comandante da divisão aeroespacial das forças paramilitares, Amir Ali Hajizadeh, admitiu que mais de 300 pessoas morreram nas manifestações — o texto não cita um número exato nem a origem da informação.

Grupo de homens da milícia Basij reunido durante discurso do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Hhamenei, na capital Teerã (Regime do Irã/26.nov.22/AFP)

De acordo com a agência Associated Press, o militar incluiu nessa conta o que chamou de mártires, em possível referência a agentes de forças de segurança mortos em conflito com manifestantes. Até aqui, a versão oficial do regime menciona apenas mortes de policiais e militares.

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Nesta segunda, segundo a Reuters, Ali Bagheri Kani, vice-chanceler do País, falou em cerca de 50 policiais mortos nos atos, além de centenas de feridos. O balanço também não especifica se o número de vítimas inclui representantes de forças paramilitares ou da Guarda Revolucionária, por exemplo.

Pela contagem de entidades de direitos humanos que monitoram a situação no Irã, porém, os números oficiais são subdimensionados. A ONG Direitos Humanos, no Irã, estima em 451 manifestantes e 60 agentes mortos desde o início dos atos, dias depois que Amini, 22, morreu sob custódia da polícia moral — ela havia sido detida sob acusação de não usar, de forma correta, o hijab, o véu islâmico.

Ainda segundo a AP, Hajizadeh teria dito que muitas das vítimas são iranianos comuns, que não se envolveram nos protestos. O general ainda reforçou a versão do regime de que os atos são fomentados por rivais de Teerã, como a Arábia Saudita, os EUA e outros países ocidentais, como forma de desestabilizar o País.

Iranianas queimam véu em protesto pela morte de Mahsa Amini (Yasin Akgul/21.set.22/AFP)

O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou, na última semana, a criação de uma missão para investigar a repressão no País do Oriente Médio. Como esperado, Teerã se recusou a colaborar com a iniciativa para esclarecer as ações de suas forças de segurança, em grande parte chefiadas pelo líder supremo do País, o aiatolá Ali Hhamenei.

Nesta segunda, o porta-voz da chancelaria iraniana, Nasser Kanaani, afirmou que a missão se trata de uma espécie de comitê político. “Temos informações provando que os EUA, países ocidentais e outros aliados americanos têm papel nos protestos”, disse ele, sem detalhar.

No fim de semana, o aiatolá Ali Khamenei se reuniu com membros da milícia paramilitar voluntária Basij, na capital do País, Teerã. A força é uma das que atua na repressão a civis. Às dezenas de homens disse que muitos sacrificaram suas vidas no que chama de tumultos.

“Muitos sacrificaram suas vidas para proteger as pessoas dos manifestantes; a presença de Basij mostra que a Revolução Islâmica está viva”, disse em discurso que também foi televisionado.

(*) Com informações da Folhapress
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