Ilha que recebeu Macron, no Pará, enfrenta precariedade no transporte
Por: Fabyo Cruz
20 de fevereiro de 2025
BELÉM (PA) – Falta transporte escolar, a energia elétrica é instável, a água potável não chega a todas as casas e o atendimento de saúde é precário. Essa é a situação enfrentada por moradores da Ilha do Combu, local distante 15 minutos de Belém (PA), que ganhou destaque internacional em 2024, quando recebeu a visita do presidente francês Emmanuel Macron a convite do chefe do Executivo Luiz Inácio Lula da Silva.
“Os problemas aqui são inúmeros”, resume a membro da diretoria da Associação de Mulheres Ribeirinhas do Igarapé Combu (Amric) Valcleane Sá. Segundo ela, um dos mais graves é a paralisação do transporte escolar, feito por lanchas que prestam o serviço à Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc). “Nossos filhos que estudam em Belém estão há quase um mês sem poder ir para a escola, por falta de condução. Os barqueiros estão em greve, pois estão há cinco meses sem receber”, denuncia.
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De acordo com Sá, a falta de transporte atinge as cinco comunidades da ilha. Procurada pela reportagem, a Seduc-PA informou que “está em tratativas para que o transporte escolar na região seja regularizado o mais rápido possível”. A pasta não informou um prazo para que as viagens sejam regularizadas.
No início do ano, conta a denunciante, houve promessa de que os pagamentos atrasados seriam quitados e seria repassada a verba para a compra da gasolina, o que não aconteceu. Após isso, as embarcações entraram em greve. “Ano passado, tiveram quatro greves e não resolveu. Esse ano, abasteceram a lancha dois, três dias, e desde então os alunos não vão para a aula”, afirma.

O impacto vai além da paralisação. O custo da travessia se torna inviável para muitas famílias bancar a ida e volta dos estudantes. “A passagem aqui é R$ 10 para Belém e R$ 10 para voltar. Tem família com dois filhos estudando lá. Já pensou ter que desembolsar R$ 40 todo dia? Não tem como. E aqui não aceitam meia passagem”, explica Valcleane Sá.
Saúde incerta
A comunidade do Combu também enfrenta dificuldades para ter acesso à saúde pública. A única unidade de atendimento depende de uma lancha para o transporte dos profissionais de saúde, mas a falta de abastecimento de combustível tem comprometido o serviço. “A unidade atende cerca de 3.200 pessoas. Já tem três semanas que funciona um dia sim, dois não. Ou três dias sim, dois não. Estamos nessa situação”, relata a membro da diretoria da Amric.
Valcleane Sá diz que a unidade de saúde atende as cinco comunidades da ilha. Segundo ela, após uma nova denúncia, o abastecimento foi feito, e os atendimentos foram retomados, mas ela teme a descontinuidade dos serviços caso o problema retorne. As lanchas prestam serviço à Prefeitura de Belém, que também foi procurada pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos até a publicação desta matéria.
Energia e água potável
Outro problema enfrentado pelos moradores é a falta de energia elétrica. “Sempre foi um problema, mas de um tempo para cá a situação só piora. A falta é constante, quase diária, prejudicando não só os estabelecimentos comerciais, mas toda a comunidade”, diz Valcleane Sá.
A concessionária Equatorial Pará teria se comprometido a modernizar a rede elétrica, substituindo o sistema monofásico pelo trifásico, mas os moradores não sabem quando a melhoria será concluída. “Instalaram alguns postes, mas não temos previsão de quando irão funcionar. Não nos dão retorno, não fazem reunião para informar nada”, critica.
Procurada pela reportagem, a empresa informou que “está com um plano de investimentos em curso com ações de manutenções que envolvem podas de árvores e atendimentos emergenciais na Ilha do Combu. Adicionalmente a estas ações rotineiras, a distribuidora está em fase de conclusão da modernização da rede elétrica que atende a Ilha, transformando a rede monofásica, existente hoje, em trifásica. Também estão sendo implantados religadores, equipamento que diminui o tempo de normalização do fornecimento de energia, quando há interrupções intempestivas”.
A empresa disse ainda que “as obras de modernização finalizarão até o final de março deste ano, quando os moradores e empreendedores da Ilha perceberão a melhoria do serviço. O investimento total para essas obras estruturais está em torno de R$ 2,3 milhões”.
A situação da água potável também preocupa. “A maioria das famílias não têm condições de comprar água para preparar os alimentos. Então, são obrigadas a usar a água do rio para as necessidades básicas”, denuncia Valcleane. “Estamos tão perto de Belém e, ao mesmo tempo, tão longe. Essa é a nossa realidade”, lamenta.
Diante das denúncias, ela disse que uma reunião foi marcada para dia 25 deste mês na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), com o deputado estadual Zeca Pirão (MDB), oportunidade em que as demandas serão apresentadas. Até lá, os moradores seguem enfrentando diariamente os desafios de viver na ilha.