Incêndios florestais ameaçam qualidade da água, alerta pesquisadora da Fiocruz


06 de outubro de 2023
Incêndios florestais ameaçam qualidade da água, alerta pesquisadora da Fiocruz
Imagem aérea de queimadas na cidade de Altamira, Estado do Pará. (Foto: Victor Moriyama / Greenpeace)
Yana Lima – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Além dos efeitos mais conhecidos dos incêndios florestais – destruição da vegetação, morte de animais, erosão do solo e fumaça -, os incêndios também podem gerar consequências na qualidade das águas. O alerta é da pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Sandra Hacon, em entrevista à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA.

A pesquisadora explica que as chamas emitem partículas, transportadas pelo vento para regiões distantes. Segundo ela, levantamentos recentes mostram que focos de calor no Amazonas lançaram resíduos que alcançaram até o Sul do país, essas partículas carregam uma mistura prejudicial de elementos e compostos.

“O transporte de material particulado envolve diversos elementos e compostos que, dependendo das condições, podem se depositar nos recursos hídricos, tais como rios e fontes de água. Para a população tradicional, o rio e o poço frequentemente representam a única fonte de abastecimento de água disponível. Essa água pode estar contaminada por vários poluentes, o que representa um risco para a saúde das pessoas que a consomem”, explica.

Sandra Hacon alerta para o impacto dos incêndios florestais nos recursos hídricos (Virginia Dantas/ENSP Fiocruz)

Hidrocarbonetos

A água contaminada pelas partículas provenientes dos incêndios pode conter uma gama de poluentes, incluindo os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA’s). Nesse sentido, o benzo(a)pireno, por exemplo, é um HPA comprovadamente cancerígeno, segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (International Agency for Research On Cancer – Iarc), conforme aponta o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Contudo, conforme a pesquisadora, as partículas podem conter ainda metais pesados, materiais orgânicos da queima da vegetação. Isso sem falar na possibilidade e contaminação por agrotóxicos utilizados na agricultura.

“As comunidades tradicionais da Amazônia, dependentes de rios e poços como sua única fonte de abastecimento de água, estão particularmente em risco. A presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos na água intensifica os problemas de contaminação já existentes, aumentando os riscos à saúde das comunidades afetadas”, alerta.

Sem acesso a água tratada, ribeirinhos e indígenas são os mais afetados por contaminações (Marcelo Camargo/Agência Brasil
Focos de Calor

O número de focos de calor e incêndios no Amazonas preocupam. Nessa segunda-feira, 2, 22 especialistas em incêndios florestais desembarcaram em Manaus, para o combate às queimadas descontroladas. O grupo integra o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

De acordo com dados do Corpo de Bombeiros, o Amazonas enfrentou 6.991 focos de calor até setembro. A região metropolitana, que normalmente não é associada a incêndios florestais, já registra quase 900 focos, 12,96% do total.

O Corpo de Bombeiros do Amazonas atua em 21 municípios, com quase 1,5 mil incêndios combatidos.

O uso do fogo é permitido em atividades agropastoris, quando utilizado em processos de queima controlada, ou seja, o uso do fogo em áreas com limites físicos previamente estabelecidos. Para tanto, a autorização deve ser obtida no Ibama ou em órgão ambiental estadual. Nesta segunda-feira, o governador Wilson Lima (UB) afirmou que o Estado registra R$ 17 milhões em multas em todo o Amazonas.

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