Incêndios florestais ameaçam qualidade da água, alerta pesquisadora da Fiocruz

Imagem aérea de queimadas na cidade de Altamira, Estado do Pará. (Foto: Victor Moriyama / Greenpeace)
Yana Lima – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Além dos efeitos mais conhecidos dos incêndios florestais – destruição da vegetação, morte de animais, erosão do solo e fumaça -, os incêndios também podem gerar consequências na qualidade das águas. O alerta é da pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Sandra Hacon, em entrevista à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA.

A pesquisadora explica que as chamas emitem partículas, transportadas pelo vento para regiões distantes. Segundo ela, levantamentos recentes mostram que focos de calor no Amazonas lançaram resíduos que alcançaram até o Sul do país, essas partículas carregam uma mistura prejudicial de elementos e compostos.

“O transporte de material particulado envolve diversos elementos e compostos que, dependendo das condições, podem se depositar nos recursos hídricos, tais como rios e fontes de água. Para a população tradicional, o rio e o poço frequentemente representam a única fonte de abastecimento de água disponível. Essa água pode estar contaminada por vários poluentes, o que representa um risco para a saúde das pessoas que a consomem”, explica.

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Sandra Hacon alerta para o impacto dos incêndios florestais nos recursos hídricos (Virginia Dantas/ENSP Fiocruz)

Hidrocarbonetos

A água contaminada pelas partículas provenientes dos incêndios pode conter uma gama de poluentes, incluindo os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA’s). Nesse sentido, o benzo(a)pireno, por exemplo, é um HPA comprovadamente cancerígeno, segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (International Agency for Research On Cancer – Iarc), conforme aponta o Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Contudo, conforme a pesquisadora, as partículas podem conter ainda metais pesados, materiais orgânicos da queima da vegetação. Isso sem falar na possibilidade e contaminação por agrotóxicos utilizados na agricultura.

“As comunidades tradicionais da Amazônia, dependentes de rios e poços como sua única fonte de abastecimento de água, estão particularmente em risco. A presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos na água intensifica os problemas de contaminação já existentes, aumentando os riscos à saúde das comunidades afetadas”, alerta.

Sem acesso a água tratada, ribeirinhos e indígenas são os mais afetados por contaminações (Marcelo Camargo/Agência Brasil
Focos de Calor

O número de focos de calor e incêndios no Amazonas preocupam. Nessa segunda-feira, 2, 22 especialistas em incêndios florestais desembarcaram em Manaus, para o combate às queimadas descontroladas. O grupo integra o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

De acordo com dados do Corpo de Bombeiros, o Amazonas enfrentou 6.991 focos de calor até setembro. A região metropolitana, que normalmente não é associada a incêndios florestais, já registra quase 900 focos, 12,96% do total.

O Corpo de Bombeiros do Amazonas atua em 21 municípios, com quase 1,5 mil incêndios combatidos.

O uso do fogo é permitido em atividades agropastoris, quando utilizado em processos de queima controlada, ou seja, o uso do fogo em áreas com limites físicos previamente estabelecidos. Para tanto, a autorização deve ser obtida no Ibama ou em órgão ambiental estadual. Nesta segunda-feira, o governador Wilson Lima (UB) afirmou que o Estado registra R$ 17 milhões em multas em todo o Amazonas.

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