Indígenas estão entre os atingidos no litoral de São Paulo, após maior temporal da história

O volume das chuvas resultou em alagamentos e deslizamentos que vitimaram os povos indígenas do litoral de São Paulo, com perdas de casas e suspensão de serviços básicos (Reprodução/Arquivo Pessoal)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Mais de cem famílias do povo Guarani foram atingidas pelos fortes temporais que caíram sobre o litoral de São Paulo entre os dias 18 e 19 de fevereiro. As pancadas de chuva provocaram alagamentos e deslizamentos de terra com mortos e desabrigados. De acordo com o técnico da Funai, José Alvin Nascimento, ao menos 120 famílias Guarani estão entre os atingidos. Além de perderem pertences como eletrodomésticos, roupas e alimentos, alguns perderam suas casas.

As chuvas provocaram fortes enxurradas que arrastaram carros, casas e pessoas durante aquele que é considerado o maior temporal da história de São Paulo (Caio Gomes/Tribuna do Povo)

Ainda de acordo com o técnico, a aldeia teve a estrutura de saúde destruída e a escola da comunidade também foi atingida pelos fortes alagamentos. As ruas foram inundadas e a comunidade se encontra isolada por via terrestre, sendo possível ter acesso somente por barco, que é o único meio de transporte usado pelos desabrigados. Para ajudar a população Guarani, a prefeitura de Bertioga, interior de São Paulo, e a Funai estão arrecadando doações.

A região da Terra Indígena (TI) Ribeirão Silveira é habitado por cerca de 500 famílias das etnias Guarani, Guarani Mbya e Guarani Ñandeva. Em entrevista ao Uol, o líder espiritual de Rio Pequeno, uma das comunidades que compõem a estrutura de aldeias do povo Guarani, Sergio Macena, diz que nunca tinha visto tamanho volume. “Eu levei um susto porque foi a primeira vez que vi uma chuva de tamanha proporção. Foram 12 horas de chuvas seguidas. Foi assustador”, relatou.

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Abrigo

Sergio relata que há quase uma semana, pessoas que procuraram abrigo em sua casa, permanecem lá sem poder retornar para seus locais de origem. “As pessoas ficaram ilhadas, com a casa inundada. Elas foram para a minha casa em busca de abrigo e, até agora, tem uma família que está lá”, revelou. Ele contou que a situação ficou dramática para membros do núcleo Guarani. “Algumas famílias ficaram sem nada e aqueles que moram mais para a costa do morro podem ainda estar isolados”, explicou.

A previsão da defesa civil do Estado de São Paulo é para mais chuvas ainda no mês de fevereiro. Cidades ficaram em alerta (Adriano Ferreira/IStock)

Animais peçonhentos

Com a alteração provocada pelas chuvas, muito do habitat natural foi alterado na região do litoral norte de São Paulo. Animais foram arrastados pela água e passaram a fazer parte da rotina dos indígenas. Cobras jararacas se espalharam pelas aldeias e uma idosa foi picada por um desses répteis; ela chegou a ficar cega e surda devido ao veneno. Para piorar, o único posto médico de saúde da aldeia foi destruído pelo temporal.

Novo alerta

Após uma semana da tragédia provocada pelas chuvas, os núcleos populacionais dos Guarani seguem sem serviços básicos, como fornecimento de água e eletricidade. As doações estão chegando, mas, o que preocupa os moradores são as previsões para mais chuva ainda no final de fevereiro. A Defesa Civil do Estado de São Paulo emitiu um alerta para o sábado, 25, domingo, 26, e segunda-feira, 27. “Há previsão para pancadas de chuvas, acompanhadas por descargas elétricas, fortes rajadas de vento e granizo em algumas regiões do Estado de São Paulo”, informou o texto.

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