Inspeção em acervo do único museu de RR constata risco iminente de danos ao material

Fotos tiradas durante fiscalização do Iphan ao acervo arqueológico do Museu, sob responsabilidade da Secult (Foto: Divulgação)
Da Revista Cenarium*

BRASÍLIA – Integrantes do Ministério Público Federal (MPF) realizaram uma visita inspeção ao acervo que pertence ao Museu Integrado de Roraima (Mirr). Desde 2019, todos os bens e acervos do museu encontram-se no Parque Tecnológico devido à precariedade da sua sede oficial, que foi demolida no início do mês passado.

A visita teve o objetivo de diagnosticar a real situação do material patrimonial histórico-cultural da instituição e constatou que o acervo está sob iminente risco de danos. O relatório de inspeção foi divulgado nesta segunda-feira, 12. 

Instituído por decreto estadual em 1984 e inaugurado em 1985, o Museu Integrado de Roraima, único do Estado, é público e de responsabilidade do governo estadual. Entretanto, além do acervo de ciências naturais, que inclui diversas coleções de referência científica, incluindo herbário, insetário, carpoteca, xiloteca, coleções de répteis e peixes, etc, o Museu também abriga importantes coleções de artefatos arqueológicos e de objetos da cultura material dos principais grupos indígenas que habitam Roraima, bens de interesse federal específico. Estima-se que, ao todo, o acervo contemple mais de 38 mil itens.

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Acompanhados por técnicos e representantes do Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural do (Iphan), o procurador da República Matheus de Andrade Bueno e a equipe do MPF verificaram a situação das instalações em que estão alocados o acervo e a área administrativa do Mirr. Atualmente, o museu divide espaço com a Secretaria de Agricultura.

De acordo com o procurador da República Matheus de Andrade Bueno, a diligência teve o propósito não apenas fiscalizar, mas de melhor compreender a dinâmica do espaço e verificar in loco a situação atual do acervo do MIRR.

“Proteger o patrimônio histórico e cultural é um dever do poder público, de modo que não há escolha legítima possível entre destruir ou não um museu. Ao mesmo tempo, é importante enfatizar que a demolição do edifício não significa de forma automática a destruição do Museu Integrado de Roraima. Um museu não é apenas um prédio. É também o seu acervo e tem múltiplas funções de conservação, pesquisa e exposição”, ressaltou.

Matheus Bueno enfatiza que o Mirr ainda existe, resiste e, mesmo que em condições adversas, encontra-se em funcionamento. “É importante que a sociedade saiba disso, conheça as dificuldades enfrentadas e acompanhe as medidas tomadas, para que o Museu não seja de fato destruído, não pela demolição do prédio, mas pelo esquecimento. Em última análise, o Museu não é um patrimônio do governo, mas da sociedade como um todo”.

Situação precária

Durante a visita, realizada na última sexta-feira, 1°, foi constatado que o acervo do museu continua armazenado no Parque Anauá, mas em edificações vizinhas ao antigo prédio sede do Museu, recentemente demolido. Os itens estão distribuídos por corredores e salas sem espaço adequado e estrutura física necessária à preservação e acomodação do material. Apesar das limitações, o MIRR está aberto à visitação.

O MPF também constatou que diversas salas que deveriam estar disponíveis ao Museu encontram-se com equipamentos de agricultura ou até mesmo servindo como depósito, prejudicando as atividades de conservação, pesquisa e extroversão.

A direção do do MIRR contextualizou as diferentes mudanças de gestão e destinação que levaram o Museu a dividir espaço com outros órgãos. Segundo o relato, com a extinção do Instituto de Apoio à Ciência e Tecnologia (IACT), órgão ao qual o Mirr era vinculado, o Museu passou a compor a Secretaria de Cultura.

Assim, os prédios destinados ao Mirr, construídos por meio de convênio para a criação do Parque Tecnológico com o objetivo de promover melhoria na infraestrutura de pesquisa no âmbito do museu, teriam sido também ocupados por departamentos ligados à Secretaria Estadual de Agricultura.

Ainda se constatou a ausência de catalogação adequada dos itens que compõem o acervo do Mirr. Na visão do MPF, o processo de inventário é imprescindível para o conhecimento do conjunto dos materiais e funciona como pressuposto da realização das atividades de conservação, pesquisa e extroversão do museu.

Ao final da visita, o procurador da República Matheus de Andrade Bueno destacou que o MPF provocará os órgãos competentes para cumprirem seu papel constitucional de proteger o patrimônio cultural brasileiro. Realçou ainda a importância do envolvimento direto da sociedade nesse processo, de modo que será avaliado o acionamento de mecanismos de mobilização, escuta e participação sociais a respeito do tema.

Museu Integrado de Roraima

A primeira sede do Mirr, um prédio de 750 metros quadros, estava localizada no interior do Parque Anauá. A edificação do museu foi desenhada pelo premiado arquiteto e urbanista cearense Otacilio Teixeira. Inicialmente, foi pensado como uma exposição temporária em homenagem aos 25 anos de criação do Território Federal de Roraima.

Após a sua inauguração, o museu passou a desenvolver trabalhos em diversas áreas do conhecimento, tais como botânica, zoologia, etnologia, arqueologia e história, com foco no Estado de Roraima, além de buscar a formação de coleções científicas de referência.

Com o objetivo de suprir a lacuna deixada pela ausência de centros de pesquisa no estado, o museu também buscou produzir artigos e documentos, com divulgação de sua produção científica por meio do Boletim do Mirr, além de material de apoio pedagógico e de difusão cultural, programas educativos e montagem de exposições itinerantes, de longa e de curta duração.

Acervo

Além do acervo de ciências naturais e a coleções de artefatos arqueológicos e de objetos da cultura material dos principais grupos indígenas que habitam Roraima Yanomâmi, WaiWais, Ye’kuana, Macuxi, Taurepag, Wapixanas, Waimiris-Atroaris, o acervo também contempla documentos e objetos de interesse histórico, referentes à ocupação colonizadora da região e obras de artistas plásticos ativos no estado.

Relatório de inspeção 

(*) Com informações do MPF

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