Judiciário articula força-tarefa para convencer Bolsonaro a reconhecer derrota e conter manifestação

Em São Paulo, apoiadores de Bolsonaro se reúnem em frente ao Comando Militar do Sudeste em protesto contra o resultado das Eleições 2022 (Bruno Santos/Folhapress)
Com informações da Folhapress

BRASÍLIA – Em meio à série de bloqueios de rodovias no País, integrantes do Judiciário articulam uma força-tarefa para convencer Jair Bolsonaro (PL) a reconhecer a derrota na eleição e, assim, ajudar a conter os manifestantes que apoiam seu governo.

Nesta terça-feira, 1°, os ministros Bruno Dantas, do TCU (Tribunal de Contas da União), e Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), buscaram outros ministros do Supremo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ministros do governo e presidentes de partidos políticos de centro para tentar convencer Bolsonaro a falar.

Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio de Freitas, governador eleito em São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura, estão em contato com integrantes do Judiciário.

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Em meio a essa articulação, o presidente se comprometeu com aliados a dar um pronunciamento na tarde desta terça-feira. A expectativa é que ele diga que o seu grupo político não prejudica outros brasileiros, zela pela ordem e sempre criticou invasões de terra, como forma de desengajar os movimentos que estão na rua.

Interlocutores dizem, ainda, que o chefe do Executivo deve se colocar como o líder da oposição a Lula, referendado por 58 milhões de votos. O presidente, porém, pode voltar atrás na sua promessa de discursar.

A avaliação é que as manifestações escalaram tanto que uma declaração do mandatário é essencial para conter os movimentos de seus apoiadores nas ruas. Bolsonaro está há cerca de 40 horas em silêncio desde que perdeu a eleição.

O presidente também pediu a interlocutores para convidar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) para uma reunião no Palácio da Alvorada.

Os magistrados, no entanto, mandaram avisar que não irão se encontrar com o mandatário, muito menos na sede residencial do presidente, enquanto Bolsonaro não declarar publicamente que aceita o resultado da eleição.

Pessoas próximas a Bolsonaro e outros atores políticos, por sua vez, dizem que o chefe do Executivo precisa dar uma declaração reconhecendo a derrota, mesmo que faça críticas ao Judiciário.

Mais cedo, dirigentes partidários defendiam que Lira fosse até o Palácio do Planalto sozinho ou acompanhado para persuadir Bolsonaro a se posicionar, mesmo que não reconhecendo a derrota, mas pedindo aos manifestantes que deixem as estradas.

O presidente da Câmara já esteve com o mandatário na segunda-feira, 31, por cerca de meia hora, no Alvorada.

Enquanto uma ala do entorno do mandatário busca pressioná-lo para reconhecer a derrota, outra questiona ainda o resultado das urnas.

Auxiliares mais próximos de Bolsonaro têm lançado dúvidas, reservadamente, sobre a apuração dos votos. Eles reconhecem, ainda, que os bloqueios são preocupantes, mas dizem ser justificáveis, dando amparo ao discurso dos apoiadores do presidente.

Aliados de Bolsonaro dizem que o governo age para minimizar o bloqueio das rodovias, mas reclamam da decisão de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), desta segunda, 31.

O magistrado determinou que a gestão Bolsonaro adotasse, imediatamente, “todas as medidas necessárias e suficientes” para desobstruir as rodovias ocupadas por extremistas em protesto pelo resultado das eleições.

A reclamação dos aliados do presidente é que Moraes teria inflamado ainda mais os manifestantes por ser considerado um algoz de Bolsonaro. Portanto, supostamente sem legitimidade para tal decisão.

Depois da ordem de Moraes, nesta terça-feira, as polícias militares dos Estados começaram a atuar na desobstrução de rodovias bloqueadas por manifestantes bolsonaristas.

Até a noite de segunda-feira, foram mais de 300 bloqueios em estradas de 25 Estados e no DF. Os manifestantes protestam contra o resultado das eleições que teve Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como vencedor na disputa pelo Planalto.

Aliado próximo, o coordenador da comunicação da campanha, Fabio Wajngarten, usou suas redes sociais nesta terça-feira para afirmar que a democracia e a liberdade são “[cláusulas] pétreas”. E acrescentou que o momento é de paz e serenidade.
“O meu apoio e solidariedade ao presidente Jair Bolsonaro são irrestritos. Nossa campanha foi limpa, ética, e dentro das quatro linhas [da Constituição]. A democracia e a liberdade são pétreas. É momento de paz, reflexão e serenidade”, escreveu.

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