Justiça derruba decreto que legalizava garimpo de ouro no Rio Madeira, em Rondônia
20 de julho de 2022
Para vender a ideia do decreto, o governador de Rondônia revogou um dispositivo de 1991, que proibia a mineração no Rio Madeira (André Dib/National Geographic/Reprodução)
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – Um decreto aprovado pela Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO) e de autoria do governador Coronel Marcos Rocha (PSL), que legalizava o garimpo de ouro no Rio Madeira – o principal corpo hídrico em território rondoniense -, perdeu a validade, nesta semana. A decisão foi proferida em sessão do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) na segunda-feira, 18.
A regulamentação, considerada incompatível com a legislação brasileira, estava em vigor há mais de um ano. A derrubada é fruto de um pedido de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) do Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público (MPRO), Ivanildo de Oliveira.
Dragas e balsas de garimpo no Rio Madeira, em Porto Velho (Foto: Reprodução)
Inconstitucionalidade
O julgamento da ADI decidiu pela declaração de inconstitucionalidade com 12 votos favoráveis, após um pedido de vista, segundo a Corte. Assim como o MPRO, os magistrados entenderam que o Decreto N° 25.780/2021 extrapola a competência legislativa do Estado e invade o campo de decisões da União, tendo em vista que o Rio Madeira não é uma exclusividade de Rondônia.
Por desaguar no Rio Amazonas, no Estado vizinho, o afluente se trata de um corpo d’água interestadual, ou seja, de matéria restritiva do âmbito federal. Além disso, o desembargador Daniel Lagos, relator do processo, apontou a ausência de estudos prévios sobre o impacto ambiental gerado pela mineração na região. Entre os critérios, o dispositivo elenca o uso de substâncias químicas na atividade, o que causaria danos ao meio ambiente e à saúde da população abastecida pelo rio.
O decreto
Na época da publicação, em janeiro do ano passado, o Governo de Rondônia alegava que o garimpo “é uma necessidade econômica” para o Estado. Argumentação condenada por Lagos.
“É preciso sopesar [calcular, equilibrar] em que medidas o empreendimento justificaria a degradação, que extrapola a eventual poluição de mananciais com a atividade em si, para considerar que implementar um garimpo envolve desmatar áreas de florestas, inclusive para promover o acesso a balsas e dragas, assentar pessoas, o que fatalmente implicará danos quase irreversíveis”, declarou o desembargador.
Para vender a ideia, Marcos Rocha revogou outro dispositivo: o Decreto Nº 5.197, este de 1991, que proibia a mineração no Madeira, entre a Cachoeira Santo Antônio e a divisa com o Amazonas. Para a Justiça, isso foi visto como meio de “fragilizar a proteção de todos os direitos ambientais e paisagísticos”.
Nesta quarta-feira, 20, a Polícia Federal realizou uma grande operação contra o garimpo ilegal no Rio Madeira, no Amazonas. Os agentes cumpriram dez mandados de busca e apreensão, além de dez medidas cautelares no município de Jutaí, a 750 quilômetros de Manaus.
Operação cumpriu mandados judiciais, destruiu balsas e afastou prefeito de Jutaí, no Amazonas (Polícia Federal/Reprodução)
Um dos alvos da repressão ao crime ambiental foi o prefeito de Jutaí, Pedro Macario Barbosa (PDT), que foi afastado do cargo por 90 dias. Na mesma ação, a PF destruiu embarcações utilizadas na mineração ilegal.
Em novembro do ano passado, a polícia destruiu cerca de 160 balsas e dragas de garimpo, também no Rio Madeira, época em que as imagens de uma enorme invasão de garimpeiros rodou o globo.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.