Kokama: povo indígena clama pela sobrevivência contra Covid-19 na Amazônia

Náferson Cruz – Da Revista Cenarium

MANAUS – Aldeias indígenas da etnia Kokama localizadas no Alto e Médio Solimões do Amazonas, estão cada vez mais vulneráveis e suscetíveis a doenças. Quem descreve a dramática situação vivida é Milena Kokama, a vice-presidente da Federação Indígena do Povo Kokama.

Os Kokama tem demonstrado um grande empenho em manter o isolamento social e praticar autoproteção. Do ponto de vista da assistência, porém, há uma enorme lacuna. Em conversa com a equipe da CENARIUM, Milena disse que a falta de assistência associada ao descaso com a política pública indigenista, está levando a mortandade de centenas de indígenas e com a chegada da pandemia do novo coronavírus, o drama o aumentou.  

Milena relata que as aldeias não possuem postos de saúde e que nem todas são atendidas pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e, consequentemente, não há medicamentos nos Distrito Especial Sanitário Indígena (Dsei). Para amenizar a gravidade, os indígenas fazem o uso de ervas medicinais.

“O Dsei apenas acompanha as aldeias onde são atendidas pela Saúde Indígena, mas há comunidade que não são atendidas, um número bastante expressivo”, lamentou a indígena.

Barreiras

Uma das formas para conter o avanço de doenças, bem como, a entrada de ‘forasteiros’ que podem levar a Covid-19 às comunidades indígenas, foram as instalações de barreiras sanitárias nas aldeias, estas administradas pelos próprios Kokama. “É desta forma que estamos conseguindo amenizar o número de casos da Covid-19, tivemos que tomar essa iniciativa, caso contrário o número de óbitos seria bem maior”, frisou.

Em todo o Amazonas mais 60 indígenas Kokama foram mortos pela Covid-19. Em todo o País são 867 óbitos, 38.343 casos confirmados em 161 povos afetados pela doença, segundo dados contabilizados nesta terça-feira, 03, pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Em junho, as aldeias Kokama, chegaram a registrar o maior índice de mortos entre indígenas no País. Os indígenas sequer conseguiam enterrar seus mortos conforme as tradições em Manaus e entorno. Entre os 178 mortos (Apib), à época, mais de 40 vítimas fatais foram contabilizadas entre os Kokama.

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, movimentos indígenas indicaram caminhos para se estabelecer um plano, incluindo a construção de hospitais de campanha e testagem generalizada, mas nada disso foi levado adiante pelo poder público.

Por telefone, a CENARIUM entrou em contato com o Dsei e Sesai, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria.