Longe dos holofotes, senador Plínio Valério reaparece para defender atos golpistas e impeachment de ministro do STF

Eleito com 832.149 votos, Valério, desde então, desapareceu dos holofotes e voltou à cena com uma pauta que une cassação de ministro do STF e incentivo a atos golpistas (Roque de Sá/Agência Senado)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – O senador pelo Amazonas, Plínio Valério (PSDB), ao que parece, redescobriu o papel, outorgado pelo povo, do maior Estado da Federação na eleição de 2018. Eleito com 832.149 votos, Valério, desde então, desapareceu dos holofotes e voltou à cena com uma pauta que une cassação de ministro do STF e incentivo a atos golpistas. Em um pronunciamento na quarta-feira, 23, o senador mandou um “Vocês não podem esmorecer” aos manifestantes acampados nas portas dos quartéis País afora.

A fala do senador trouxe um componente que se choca com o papel político que um representante da democracia deveria defender. Ao incentivar as manifestações que pedem “intervenção militar”, Plínio Valério atenta contra o próprio estado democrático. “Vocês, que estão nas ruas, não desistam! Não desistam também do Senado”, chocou-se. “Eles (Bolsonaristas) esperam que nós possamos fazer algo. Porque só o Senado pode!”, afirmou.

De acordo com a Lei 14.197/2021, do Código Penal Brasileiro, é crime “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o estado democrático de direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”, com pena de reclusão de quatro a oito anos, além da pena correspondente à violência.

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Veja o vídeo:

Em coletiva, Plínio Valério fez um discurso contraditório que chamou a atenção da opinião pública e da imprensa nacional (Reprodução/Redes Sociais)

“Hoje, desses que aí estão (os ministros do STF), eu não sei dizer quem não infringiu os cinco itens, os cinco incisos da Lei 1.079, de 1950 (Lei do Impeachment). Eles acham que a lei está antiga e precisa ser mudada. Eu acho que a lei tem que ser cumprida”, afirmou. Durante a fala, o senador ironizou o ministro Ricardo Lewandowski. “Estão correndo com a Comissão de Revisão do Impeachment (a Lei é de 1950). A comissão de ‘notáveis juristas’, presidida pelo Lewandowski…”, falou em tom de deboche.

Sabotagem

Ainda durante a coletiva, o senador amazonense criticou o que ele vê como possível sabotagem orquestrada dentro da comissão formada no Senado para revisar a Lei de Impeachment. A comissão foi formada em março de 2022 e o presidente Rodrigo Pacheco (PSD) nomeou Lewandowski como presidente do grupo de trabalho. “Lá (na comissão) eles vão complicar por mil vezes a dificuldade de um ministro (do STF) ser impichado (Sic!)”, desconfiou.

O ministro do STF, Ricardo Lewandowski, foi nomeado pelo presidente do Senado, Rodrigo pacheco (PSD), para presidir a Comissão de Revisão do Impeachment (Reprodução/Agência Senado)

Ainda no pronunciamento, Plínio Valério dedicou palavras de incentivo aos golpistas, que pedem intervenção do Exército, para impedir que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seja empossado. “Nós estamos nos virando a exemplo de vocês que estão nas portas dos quartéis. Vocês estão dando exemplo para todos nós, e continuem acreditando no Senado”, declarou o parlamentar.

Em mais uma fala que surpreendeu pelo choque de ideias e ausência de leitura histórica, o político afirmou: “Não concordo com intervenção militar, mas defendo até o fim o direito dessa gente”, observou. Na coletiva, foi apresentado o pedido de impeachment do ministro Luís Roberto Barroso do STF. Além de Plínio, também são autores, Eduardo Girão (Podemos-CE), Luiz Carlos Heinze (PP-RS), Styvenson Valentim (Podemos-RN) e Lasier Martins (Podemos-RS).

Atuação

Plínio Valerio (PSDB) foi eleito em 2018 numa disputa acirrada com Luís Castro, à época, da Rede, e Eduardo Braga (MDB). Chegou ocupando a primeira vaga e Eduardo Braga ficou com a segunda. Foi empossado em janeiro de 2019, e de lá para cá pouco apareceu na mídia. Sua atuação no Senado reúne pautas como o “voto impresso”. Outra bandeira foi a CPI das ONGs, para investigar as organizações, seus recursos e atuações.

Veja o vídeo:

Em live de novembro de 2020, o senador Plínio Valério defende o “o Plínio defende o voto impresso, considerado um retrocesso democrático (Reprodução/YouTube)

Recentemente, ele se declarou contra a PEC da Transição do Governo Lula, que propõe recompor o orçamento da União para poder pagar os R$ 600 do Bolsa Família, mais R$ 150 por filho. Em uma rede social ele declarou: “Do jeito que enviaram a ‘PEC sem Teto’, não voto a favor nem a pau. Caso contrário, seria aceitar a condição de ‘mané’ que o PT e o ministro Barroso querem nos impor”, tuitou o senador pelo Amazonas.

(Reprodução/Redes Sociais)

Números

Das grandes comissões permanentes do Senado, Plínio Valério ocupa apenas cadeira na Comissão de Meio Ambiente. Conforme o Portal do Senado Federal, o parlamentar realizou 33 pronunciamentos, em 2022, 23, em 2021, 36, em 2020, e 76 em 2019. Plínio Valério gastou, dos recursos do Senado, em 2022, R$ 324.625,25. Em 2021, foram R$ 335.710.69. Em 2020, R$ 261.980,95 e, em 2019, R$ 296.932,06, perfazendo um total de R$ 1.219.248,95 em quatro anos de atuação.

Gastos 2022

Gastos de 2022 (Reprodução/Portal Senado)

Gastos 2021

Gastos de 2021 (Reprodução/Portal Senado)

Gastos 2020

Gastos de 2020 (Reprodução/Portal Senado)

Gastos 2019

Gastos de 2019 (Reprodução/Portal Senado)

Esses valores não incluem o salário de senador que é de R$ 33.763. O senador pelo Amazonas emprega em seu gabinete de Brasília, de acordo com o Portal do Senado Federal, 17 pessoas. Além da equipe na capital federal, Valério emprega, ainda, mais 44 pessoas em seu escritório de apoio em Manaus. O escritório está localizado na Avenida Theomário Pinto da Costa, 811, Edifício Sky Platinum Offices, sala 1805, Bairro Chapada.

Equipe contratada pelo senador (Reprodução/Agência Senado)

Veja os números direto na Agência Senado: Recursos utilizados por Plínio Valério em 2022 – Transparência e Prestação de Contas (senado.leg.br)

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