Lula e Bolsonaro miram microrregiões em que possuem chance de ‘virada’

Lula e Bolsonaro (Ricardo Stuckert e Isac Nóbrega/Reprodução)
Com informações da Estadão

MANAUS – Ao menos cinco microrregiões do Brasil viraram objeto central da disputa entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL, neste 2° turno das eleições. Com mais de 20 milhões de eleitores, Triângulo Mineiro, Zona da Mata, Região Metropolitana de Belo Horizonte – todos em Minas – Pampa Gaúcho e Grande São Paulo são áreas em que há a maior possibilidade de virada de votos.

Nos últimos quatro anos, essas regiões foram na contramão da cristalização histórica da votação no País. No 1° turno de 2018, Bolsonaro venceu nelas, mas, neste ano, Lula foi o mais votado. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, a eleição passada é atípica. Foi quando a pauta anticorrupção puxou apoio para o atual mandatário.

Agora, o eleitorado de baixa renda e menos radicalizado, sobretudo, nessas regiões metropolitanas, voltaram para o ex-presidente em razão de frustrações com o Governo Bolsonaro. Já em Minas, há ainda uma identificação maior com políticas sociais do Governo Lula do que com o PT, o que explica também a vitória do ex-presidente no Estado, neste pleito, na primeira fase da disputa.

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”Essa oscilação é o que vai resolver a eleição. É uma das dinâmicas mais importantes”, afirmou a cientista política Daniela Constanzo, do Instituto de Estudos Avançados da USP. Ela destaca como exemplo as mudanças registradas em São Paulo, no 1° turno deste ano, em que Lula recuperou a capital e Bolsonaro sai na dianteira no interior.

Nas últimas duas décadas, os mapas de votação do Brasil mostram uma divisão regional, com os candidatos petistas ao Palácio do Planalto, com vitória majoritária em municípios do Nordeste e prevalência no Norte. Enquanto isso, nomes mais ligados à direita foram os mais votados no Centro-Oeste, Sul e Sudeste.

Minas Gerais aparece nesses pleitos como um Estado oscilante, que acaba por definir o resultado da eleição. Esse cenário se repetiu, ainda que em menor medida, no 1° turno deste ano. Agora, na segunda etapa da campanha, os dois candidatos focam atividades, justamente, em cidades mineiras e em São Paulo para tentar consolidar ou virar votos.

Mudança

Há 20 anos, na eleição de 2002, os eleitores identificados com a esquerda e aqueles mais à direita ainda se apresentaram dispersos no território nacional. Tanto José Serra (PSDB) quanto Lula tiveram vitórias em um grande número de cidades de todos os Estados e regiões do País. A partir do 1° turno de 2006, no entanto, é possível notar uma maior divisão nos votos do eleitorado brasileiro por região.

Essa tendência de cristalização de votos majoritários nas regiões fica clara quando se analisa o 1° turno das últimas seis eleições presidenciais com base no Geografia do Voto. A ferramenta, uma parceria da Agência Geocracia com o Estadão, georreferenciou mais de 5 bilhões de votos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde 1996.

De acordo com os especialistas, a distribuição de antipetismo e petismo nas regiões não se traduz, exclusivamente, em uma questão regional, já que a polarização nacionaliza a disputa. Políticas sociais encampadas nas gestões Lula, por exemplo, e a inflexão ao centro das reformas petistas contribuíram para uma mudança no perfil de seu eleitorado a partir de 2006.

O PT consolidou mais votos entre os mais pobres, enquanto Bolsonaro conquistou os mais ricos, o que se reflete no contraste visual dos votos nas regiões, mas também em regiões periféricas de grandes centros urbanos, por exemplo. Isso ajuda a explicar a retomada das cinco regiões “perdidas” pelos petistas em 2018.

”O que se pode considerar é que, em determinados aglomerados sociais, com população mais pobre, lideranças políticas que encarnam, efetiva ou simbolicamente, políticas sociais focalizadas neste segmento obtêm maior apoio eleitoral”, disse Paulo Fábio Dantas, cientista político da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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