Massacres na Califórnia quebram padrão de autoria na idade avançada de atiradores

Onze pessoas foram mortas e nove ficaram feridas num ataque a tiros no sábado, 21, em Monterey Park, na Califórnia (Frederic J. Brown/Reprodução)
Da Revista Cenarium*

CALIFÓRNIA (LA) – A polícia ainda investiga as motivações por trás dos dois ataques a tiros que mataram, ao menos, 18 pessoas na Califórnia nos últimos dias. Uma caraterística os diferencia da grande maioria dos episódios do tipo, nos Estados Unidos, nos últimos 50 anos, no entanto — em ambos os casos, os supostos atiradores eram idosos.

Huu Can Tran, suspeito de matar 11 pessoas em uma boate, em Monterey Park, perto de Los Angeles, tinha 72 anos. Zhao Chunli, acusado de assassinar sete pessoas ao abrir fogo em duas fazendas em Half Moon Bay, ao sul de São Francisco, tinha 67 anos.

Isso faz com que eles tenham um perfil bastante raro em relação aos demais autores de massacres a tiros nos EUA. A afirmação é dos pesquisadores Jillian Peterson e James Densley, coordenadores do The Violence Project, que mapeia tiroteios em massa — isto é, quando quatro ou mais pessoas são baleadas — no País.

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Em um artigo para o portal The Conversation, eles afirmam que apenas seis, de um total de 172 autores de crimes do tipo ocorridos entre 1966 e 2020, tinham mais de 60 anos. A lista inclui o responsável pelo maior massacre a tiros da história dos EUA. Então, com 64 anos, Stephen Paddock matou 60 pessoas e deixou outras centenas feridas em um festival de música country em Las Vegas, em 2017.

Vigília em homenagem às vítimas do massacre em Monterey Park, na Califórnia, em frente à prefeitura da cidade (Frederic J. Brown/24.jan.23/AFP)

Dada a singularidade do perfil, pesquisadores têm, relativamente, pouco conhecimento sobre seus padrões de comportamento. O que se sabe é que, ao contrário dos mais jovens, esses agressores tendem a não comunicar, com antecedência, suas intenções e, em geral, suas ações não são guiadas por qualquer ideologia ou têm uma mensagem específica.

Seus atos também não costumam ser motivados por ódio ou por uma busca pela fama, como suas contrapartes mais jovens, mas por problemas legais, financeiros ou ligadas a relacionamentos, como dívidas ou conflitos familiares e, em geral, têm fichas criminais.

Por fim, eles, constantemente, têm como alvos seus locais de trabalho — caso de Tran, que no início dos anos 2000 deu aulas de dança quase todas as noites na boate que invadiu — ou ambientes frequentados por comunidades que conhecem intimamente.

Os pesquisadores sublinham, porém, que os autores dos massacres em Monterey Park e Half Moon Bay têm uma diferença marcante em relação aos demais atiradores de mais de 60 anos. Ambos eram de origem asiática, enquanto a maioria dos representantes dessa faixa etária são brancos.

Ao mesmo tempo, dois fatores ligam o comportamento dos dois aqueles dos demais autores de massacres a tiros nos EUA. Eles eram homens, caso de quase 98% dos atiradores da base de dados do The Violence Project. E os massacres são encarados por eles como seus últimos atos — eles ou são mortos na cena do crime; cometem suicídio, como no caso de Tran; ou esperam ser presos, como Chunli fez. “Ataques a tiros em massa representam um ato final de desesperança e raiva”, concluem os pesquisadores no artigo.

Os casos aumentam o histórico de massacres com armas nos EUA. Segundo a ONG Gun Violence Archive, que acompanha a violência armada no País, foram registrados 40, desde o início do ano até esta quarta-feira, 25, uma média de 1,66 por dia.

De 2018 a 2021, o número de ataques provocados por atiradores nos EUA dobrou, segundo relatório do FBI divulgado em maio. No primeiro ano do levantamento foram 30 ações provocadas por um ou mais indivíduos com a intenção de matar em áreas populosas. Em 2021, esse número subiu para 61.

Ainda segundo a Gun Violence Archive, houve 354 ataques a tiros com vítimas fatais no ano passado. Mais de 44 mil pessoas morreram devido a armas de fogo no País em 2022, mais da metade das quais por suicídio. Os EUA têm mais armas do que pessoas: um a cada três adultos possui, ao menos, um artefato do tipo, e quase um a cada dois adultos vive em uma casa onde há uma arma.

(*) Com informações da Folhapress
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