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Mercúrio utilizado no garimpo ilegal também contamina animais, águas, solo e ar
Mercúrio usado no garimpo contamina as areias de praias de rios localizados dentro da Terra Indígena Yanomami, em Roraima (Ibama mar.2017/Divulgação)
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06 de fevereiro de 2023
Da Revista Cenarium*
MANAUS – O mesmo mercúrio usado pelo garimpo ilegal que está causando doenças entre o povo Yanomami também contamina os animais, a água dos rios e igarapés, o solo da floresta e até o ar. Altamente tóxico e de difícil remoção, o metal representa um risco sanitário e ambiental. No Brasil, o seu uso é controlado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Hoje, todo mercúrio que é usado em mineração é irregular, segundo um integrante da coordenação do Ibama da operação Hermes (Hg), que, no ano passado, investigou a “lavagem” do metal contrabandeado. Enquanto operações em garimpos normalmente apreendem entre cinco e dez quilos de mercúrio, a ação em parceria com a Polícia Federal confiscou 200 kg e inutilizou a autorização para o uso de outras sete toneladas de mercúrio.
Somada a uma operação de 2018, que apreendeu outros 340 kg de mercúrio e suspendeu a licença de importação de uma empresa que controlava quase todo o mercado, a circulação regular de mercúrio para garimpo no Brasil ficou totalmente paralisada.
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O funcionário do Ibama, que falou em condição de anonimato por temor de represálias da parte dos criminosos, explica que não existe fonte legal para mercúrio atualmente e que nenhuma empresa tem permissão para importar mercúrio para venda no varejo, assim como nenhuma recicladora é autorizada.
Mesmo assim, o mercúrio é usado em grandes quantidades em operações ilegais de mineração, como as que são executadas nos territórios kayapó, munduruku e yanomami. Um estudo recente mostrou que o garimpo em terras indígenas na Amazônia Legal aumentou 1.217% nos últimos 35 anos.
O ouro pode ser encontrado na natureza sob duas formas: em pepitas (ou seja, pedras) e como partículas muito finas misturadas ao solo ou ao sedimento do fundo dos rios. “É nessa forma de partículas finas que se apresenta na Amazônia”, afirma a química ambiental Anne Fostier, pesquisadora do Instituto de Química da Unicamp que há três décadas estuda o ciclo do mercúrio na região.
Para encontrar o ouro é preciso cavar o solo ou sugar o sedimento do fundo dos rios, o que é feito com balsas. Essa lama é misturada ao mercúrio metálico (a mesma forma encontrada em termômetros, por exemplo), que forma uma amálgama com o ouro. Em seguida, essa amálgama é queimada. Como o mercúrio é volátil, quando é queimado ele vira um gás e sobra só o ouro.
Com o descarte da lama contaminada, o mercúrio vai parar no solo e na água dos rios e lençóis freáticos. Com a queima, polui a atmosfera.
Tanto o mercúrio que vai para o solo quanto o que vai para a atmosfera podem, em algum momento, acabar caindo no rios. Esse é o maior foco de preocupação, porque é em ambientes aquáticos que o mercúrio assume uma das suas formas mais tóxicas.
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