Mesmo após diplomação de Lula, manifestantes mantêm acampamento em frente ao Comando Militar da Amazônia

Aparente calmaria dos manifestantes em frente ao CMA, contrasta com a festa pela diplomação de Lula e Alckmin em Brasília (Ricardo Oliveira/CENARIUM)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Os manifestantes do ato antidemocrático que acontece há quase dois meses em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), localizado na Avenida Coronel Teixeira, Zona Oeste de Manaus, receberam a informação, sem reação, da diplomação oficial do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia ocorrida nesta segunda-feira, 12, em Brasília. A REVISTA CENARIUM foi ao local e constatou que o acampamento estava em silêncio e o propalado dia “D” para “algo” acontecer ainda não chegou.

A cena contrasta com os picos de aglomeração e com as séries de ilegalidades cometidas na ocupação no CMA. As infrações eram de trânsito, poluição sonora, ligações clandestinas e ocupação irregular das vias públicas. As ações obrigaram a intervenção da juíza federal Jaiza Fraxe que “impôs regras aos manifestantes, entre elas, a de não fazer apologia a crimes, não praticar poluição sonora, não gerar transtornos no trânsito, não usar pessoas em desenvolvimento (crianças e adolescentes), como membros da manifestação, e não praticar crimes de furto de energia elétrica“, despachou.

Leia mais: No Amazonas, ato antidemocrático em frente ao CMA enfraquece, mas ameaças em grupos continuam

Os atos são considerados antidemocráticos porque pedem intervenção federal para impedir um governo legitimamente constituído, conforme a Lei N° 14.197, conhecida como Lei do Estado democrático de direito. Manifestantes pedem que as Forças Armadas ajam para interromper a posse de Lula.

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O Artigo 359-L do dispositivo indica que é crime “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado democrático de direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais“, e o Artigo 359-M afirma que é passível de penalização “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído“.

Placa em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), em Manaus, pede a ação das Forças Armadas (Ricardo Oliveira/3.12.22/CENARIUM)

Mesmo com a aparente calmaria, o sociólogo Luiz Antônio prevê, em recente entrevista à CENARIUM, que essa realidade pode mudar a qualquer momento e não necessariamente para melhor: “A meu ver, existe algo que indica que há um risco real de Jair Bolsonaro tentar um golpe em cima da hora, tomar uma ‘invertida’ e sair preso. O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Senado, mais que a Câmara, têm dado indicações claras a ele: ‘não tente, vai perder…‘”, observou o sociólogo.

Sociólogo Luiz Antônio (Reprodução)

No Alvorada

No momento em que Lula e Alckmin eram diplomados, Jair Bolsonaro foi para frente do Palácio da Alvorada para encontrar uma pequena multidão que se aglomerou em frente ao espelho d’água. Um homem que se identificou como padre fez uma série de palavras de ordem e orações. “Abençoe sua vida de militar, sua vida de político”, pregou o religioso. “Abençoe, senhor, o nosso capitão. O senhor já o presenteou com o milagre da vida, depois daquela facada. Obrigado, senhor, pelo vereador, deputado e presidente Jair Bolsonaro”, destacou o padre.

Em frente ao Alvorada, apoiadores repetiram palavras de ordem e orações com súplicas para que Deus mostre o caminho para Jair Bolsonaro (Reprodução/Internet)

A cada palavra do religioso, aplausos e gritos de apoio ao presidente. Em silêncio, Bolsonaro parecia aprovar cada palavra emitida pelo padre e repetida pelo povo ali reunido. Em uma delas, o padre comparou Bolsonaro ao personagem bíblico João Batista, mentor de Jesus Cristo. “Deus abençoe Bolsonaro, que discursa como João Batista pregava no deserto”, comparou. “Obrigado, senhor, pelo nosso presidente que não disfarça que é pobre, ele abraça o pobre”, afirmou.

Recado

Durante a cerimônia de diplomação, o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, falou com dureza sobre os atos antidemocráticos e quem os financiam: “Essa diplomação atesta vitória plena e incontestável da democracia contra os ataques antidemocráticos, desinformação e contra o discurso de ódio proferido por diversos grupos que identificados, garanto, serão responsabilizados para que isso não retorne nas próximas eleições”, declarou.

O ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, entrega o diploma de presidente eleito a Luiz Inácio Lula da Silva (Reprodução/BBC News Brasil)

Além de mirar nos financiadores dos atos, Alexandre de Moraes reafirmou a eficiência do sistema eleitoral brasileiro e do orgulho com o resultado das diligências sobre as urnas eletrônicas. “E mais uma vez, como era de se esperar, ficou constatada a ausência de qualquer fraude, qualquer desvio ou mesmo qualquer problema. Jamais houve uma fraude constatada nas eleições realizadas por meio das urnas eletrônicas, verdadeiro motivo de orgulho e patrimônio nacional”, declarou o magistrado.

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