Ministro da Defesa afirma que aguarda ‘comprovações’ de militares envolvidos em atos golpistas

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, fala com a imprensa após reunião de Lula com comandantes das Forças Armadas (Pedro Ladeira/Folhapress)
Da Revista Cenarium*

BRASÍLIA – O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou nesta sexta-feira, 20, que aguarda “comprovações” para que sejam adotadas providências contra militares que participaram dos atos de vandalismo em 8 de janeiro. Múcio disse que os militares estão cientes e concordam com isso.

Ele deu a declaração após reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os comandantes das Forças Armadas.

“Não foi discutida [punição de militares], porque isso está com a Justiça. Estamos atrás, aguardando as comprovações para que providências sejam e serão tomadas.”

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Múcio afirmou que entende não ter havido envolvimento direto das Forças Armadas nos atos golpistas de 8 de janeiro, que terminaram com a invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.

“Eu entendo que não houve envolvimento direto das Forças Armadas. Agora, se algum elemento, individualmente, teve a sua participação, ele vai responder como cidadão”, afirmou o ministro a jornalistas, no Palácio do Planalto.

Sala com mesa com três bancadas, ao fundo, está o presidente Lula, entre os demais homens presentes, estão os comandantes das Forças Armadsa vestindo uniforme
Reunião do presidente Lula com os comandantes das Forças Armadas, no Palácio do Planalto (Ricardo Stuckert/Divulgação)

Como mostrou a Folha, um relatório em posse do Ministério da Justiça identificou, ao menos, oito militares da ativa lotados na Presidência da República, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), que compareceram, no ano passado, a atos no acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército.

Além disso, o documento mostra que alguns participaram de grupos de WhatsApp em que foram trocadas e compartilhadas mensagens antidemocráticas e ameaças a Lula.

O relatório foi produzido durante a transição de governo, com base em conversas obtidas de grupos de WhatsApp. Os militares estavam alocados, em especial, no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência durante a gestão do general Augusto Heleno, um dos principais aliados de Bolsonaro.

Apesar de refutar um envolvimento direto das Forças Armadas, no ato golpista, Múcio admitiu que a reunião foi antecipada para reduzir a tensão da relação entre Lula e as Forças Armadas.

“Não tenho a menor dúvida que foi por isso, nós procuramos antecipar essa reunião”, disse.

Ele afirmou que a previsão é que o encontro ocorreria no final de janeiro ou começo de fevereiro, mas que pediu aos chefes militares para anteciparem a conclusão dos relatórios solicitados por Lula sobre a situação de cada corporação para apresentar ao mandatário.

Nesta sexta-feira, a reunião de Lula com os comandantes das Forças Armadas também teve a participação do presidente da Fiesp, Josué Alencar, e de outros empresários.

O ministro da Defesa afirmou que as questões envolvendo as manifestações golpistas de 8 de janeiro não foram discutidas no encontro. A pauta seria o fortalecimento da indústria de Defesa nacional. Múcio afirmou que os comandantes têm consciência que Lula, em seus primeiros dois mandatos, fortaleceu a Marinha, Exército e Aeronáutica, com projetos estratégicos como o submarino nuclear e os novos caças.

“E ele [Lula] quis renovar essa confiança. Evidentemente, que não poderíamos ficar com essa agenda última [do ato golpista], a gente tem que pensar para frente, a gente tem que pacificar esse País. A gente tem que governar”, afirmou.

Apesar de refutar um envolvimento direto das Forças Armadas, no ato golpista, Múcio admitiu que a reunião foi antecipada para reduzir a tensão da relação entre Lula e as Forças Armadas (Reprodução/Ricardo Suckert)

Múcio e as Forças Armadas viraram alvo de crítica de petistas, por causa da facilidade com que os manifestantes invadiram a Esplanada dos Ministérios e provocaram a destruição dos prédios públicos.

A situação do ministro da Defesa ficou delicada porque ele evitou tratar os acampamentos em frente aos quartéis como ações antidemocráticas. Múcio chegou a afirmar que o próprio Jair Bolsonaro era um democrata. O titular da pasta disse não se arrepender de suas falas.

“Não me arrependo [de ter classificado como democráticas], porque eu vim para negociar. Eu não podia negociar com você e, a priori, criar um pré-julgamento para você. Não me arrependo”, afirmou.

O ministro afirmou que os militares estão cientes de que vai precisar haver uma investigação sobre os eventos de 8 de janeiro e eventual punição, mas que será preciso cuidado na investigação.

“Os militares estão cientes e concordam que nós vamos tomar essas providências. Evidentemente que, no calor da emoção, a gente precisa ter cuidado para que esse julgamento, essas acusações, sejam justas, para que as penas sejam justas. Mas tudo será providenciado em seu tempo”, afirmou.

Múcio ainda afirmou que queria “virar a página”, em relação aos atos golpistas, e disse que não há hipótese de que essas ações venham a se repetir. Afirmou que, agora, as Forças Armadas “irão se antecipar”.

Após o encontro com Lula, Múcio e os comandantes militares participaram de uma outra reunião para os preparativos de uma viagem de última hora do presidente a Roraima. Participaram desse encontro, também, os ministros Rui Costa (Casa Civil), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Nísia Trindade (Saúde), Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Esther Dweck (Gestão).

(*) Com informações da Folhapress
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