Movimento renascentista: pais acusam educadora por aula inadequada nos EUA

Governada por Ron DeSantis, o republicano apontado como possível sucessor político de Donald Trump, a Flórida protagoniza um cerco a educadores, nos últimos meses (Reprodução/Internet)
Da Revista Cenarium*

SÃO PAULO – A Tallahassee Classical School, no Estado americano da Flórida, deu as boas-vindas, no início da semana, à terceira diretora da escola, desde sua inauguração, há três anos. Porém, pais desta instituição de ensino acusaram uma educadora por aula inadequada ao abordar o movimento renascentista.

Uma reunião de emergência, na segunda-feira, 20, oficializou o pedido de renúncia do cargo de Hope Carrasquilla que, há menos de um ano, tinha aceitado o convite para dirigir a instituição. Segundo a educadora, o motivo foi uma aula sobre o movimento renascentista, acusada por pais de ser inadequada.

“Entristece-me que meu tempo aqui tenha terminado dessa forma”, afirmou Carrasquilla ao jornal Tallahassee Democrat, que revelou a história.

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A renúncia após um ultimato do presidente do conselho da escola, Barney Bishop, aconteceu depois que ela exibiu aos seus alunos da sexta série imagens da escultura de Davi e do afresco “A Criação de Adão”, de Michelangelo, além da tela “Nascimento de Vênus”, de Boticelli, todas, obras essenciais do período renascentista, conteúdo contemplado pela escola para estudantes daquela faixa etária.

Visitantes da Academia de Belas Artes de Florença, na Itália, observam a estátua de Davi, criada por Michelangelo (Max Rossi/8.set.2004/Reuters)

O protocolo usual, segundo Carrasquilla, é enviar uma carta aos pais, avisando que tais obras serão exibidas aos alunos. Há dez anos passando esse tipo de conteúdo às crianças, ela disse ao site Huffpost saber que “de vez em quando tem algum pai que fica chateado com a arte renascentista”.

Uma falha de comunicação, porém, impediu que o aviso chegasse aos responsáveis neste ano, e três deles reclamaram.

“Neste ano, cometemos um erro flagrante”, afirmou Bishop em uma entrevista à revista Slate, referindo-se à falha de comunicação. “

“Os pais, depois de verem toda a porcaria que está sendo ensinada nas escolas públicas durante a pandemia, decidiram, por conta própria, que não queriam que seus filhos aprendessem isso. Aqui ensinamos o currículo de Hillsdale, com foco em valores cívicos e morais. Ensinamos sobre a civilização ocidental tradicional e a educação clássica liberal. Se houver tópicos ou assuntos polêmicos, avisamos os pais com antecedência.”

O Hillsdale College é uma instituição conservadora e cristã, fundada em 1844, à qual a escola é afiliada — embora, em 2022, os laços entre as duas entidades tenham sido cortados, brevemente, por padrões de qualidade, segundo o Huffpost.

De acordo com Carrasquilla, dois pais afirmaram que gostariam de ter sido avisados antes sobre a aula, enquanto um terceiro classificou o conteúdo passado em sala de “pornográfico”.

“Estão mais preocupados com os procedimentos e em apaziguar uma pequena minoria de pais do que em confiar em minha experiência como educadora por mais de 25 anos”, afirmou ela ao jornal da cidade.

“Os direitos dos pais são supremos e isso significa proteger os interesses de todos eles, sejam 1, 10, 20 ou 50”, afirmou Bishop. Ele tem repetido, a veículos de imprensa, que esse foi apenas um dos problemas que eles tiveram com a educadora.

Governada por Ron DeSantis, o republicano apontado como possível sucessor político de Donald Trump, a Flórida protagoniza um cerco a educadores, nos últimos meses.

No início de fevereiro, um aviso distrital no Estado fez com que professores de diversas escolas escondessem livros em salas de aula para escapar de acusações criminais. Os educadores tentavam se adequar a orientações emitidas pelo Departamento de Educação da Flórida, que determinou a aprovação e seleção de livros em bibliotecas escolares por um especialista de mídia.

Há um ano, o Comitê de Educação do Senado estadual aprovou uma lei batizada por críticos de “Don’t Say Gay”, que proíbe escolas de incentivar a discussão sobre orientação sexual e identidade de gênero. O texto prevê restrições quando o assunto for abordado “de uma forma que não seja apropriada para a idade ou para o desenvolvimento dos estudantes”.

Mais recentemente, em janeiro, DeSantis baniu a implementação de um curso extracurricular sobre estudos afro-americanos no ensino médio do Estado sob a justificativa de que o projeto era uma forma de doutrinação.

Leia também: Em protesto na Itália, ativistas colam as mãos em obra renascentista de 540 anos

(*) Com informações da Folhapress
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