MP de Roraima investiga falta de delegado em cidade na fronteira com Venezuela
03 de agosto de 2023
Sede da Polícia Civil de Roraima (Divulgação/Governo de Roraima)
Winicyus Gonçalves – Da Revista Cenarium Amazônia
RORAIMA (RR) – Uma portaria foi publicada no Diário Oficial do Ministério Público de Roraima (MPRR) nesta quinta-feira, 3, que instaurou inquérito para investigar a suspeita de negligência do Governo de Roraima em nomear o novo delegado titular para Pacaraima. A cidade fica na fronteira do Brasil com Venezuela e é epicentro da crise migratória que atinge o Estado.
No documento, o MPRR justifica que a abertura da investigação é motivada pela “desorganização do local de trabalho e indícios de não cumprimento da jornada de trabalho pelos servidores”. Já a Polícia Civil de Roraima (PCRR) nega a ausência de delegados titulares e afirma que há concurso em andamento para reforçar o quadro de servidores da corporação.
O atual delegado titular de Pacaraima José Wilton Nepoumuceno está de licença médica de seis meses e a outra delegada titular Simone Arruda se afastou para atividades partidárias. Atualmente, a delegacia conta com regime de rotatividade de delegados de outros municípios de Roraima, que conforme o MP de Roraima atuam na maioria das vezes apenas na tramitação de auto de prisão em flagrante.
Em alguns casos, o MP constatou a existência de inquéritos policiais com investigado preso sem a realização de diligências em caráter urgente, dos quais houve a soltura do investigado.
A presidente da Câmara Municipal de Pacaraima, a vereadora Dila Santos, reclamou da ausência de um delegado titular para a delegacia do município e, que se reunirá com o secretário da Casa Civil do Governo de Roraima, Flamarion Portela, para discutir quanto à nomeação de um delegado.
“Às vezes que procuramos delegado na delegacia nunca encontramos. Fica muito difícil porque a PM faz a prisão dos suspeitos e não tem um delegado para prosseguir com os procedimentos. Muita das vezes, os agentes é que carregam a delegacia nas costas. Temos uma delegacia nova inaugurada pelo governador, mas, infelizmente, não temos delegado fixo no município, isso é muito ruim para a nossa população”, avalia a parlamentar.
Em nota à reportagem, a Polícia Civil de Roraima informou que “a cidade de Pacaraima possui um delegado titular que, atualmente, encontra-se de licença médica”. E que, para garantir a continuidade dos serviços, foi designado um delegado substituto. A corporação complementou “que há um concurso público em andamento que visa suprir a demanda futuramente”. A reportagem também tentou contato com o governo de Roraima para comentar sobre o assunto, mas não houve retorno até o fechamento deste texto.
Pacaraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela, recebe centenas de venezuelanos, diariamente (Paolo Stefano/Divulgação)
Crise migratória
A ausência de um delegado titular para ditar ritmo aos processos criminais do município reforça a sensação de insegurança agravada nos últimos anos com a crise humanitária que atinge a Venezuela e forçou milhares de venezuelanos a atravessarem a fronteira em busca de uma vida melhor. A população da cidade chegou a 19.305 pessoas no Censo de 2022, um aumento de 85,04% em comparação com o Censo de 2010.
Vários estrangeiros vivem nas ruas de Pacaraima, com a superlotação de abrigos destinados a acolhê-los no município, e há relatos de prática de crimes, gerando críticas à permanência deles nas ruas.
Para o presidente da Associação de Comerciantes de Pacaraima, João Kléber, existe a sensação de impunidade que fortalece a atuação de criminosos no município, e moradores e comerciantes têm tomado medidas mais radicais, como o uso de equipamentos de proteção residencial e de solicitação de atestado de antecedentes criminais para contratar estrangeiros, nos casos previstos pela lei, como serviços domésticos.
“[Tomar essas medidas] se fez ainda mais necessário devido aos indícios recorrentes de violência, de furtos e de roubos, mesmo com funcionários contratados por empresas ou por moradores e também para evitar a invasão de casas, que aumentou muito aqui”, relata Kléber.
Os dados do Ministério da Justiça, entre 2017 e 2022, são de 702 mil venezuelanos que entraram no Brasil por Roraima, Amazonas e São Paulo. Destes, 325,7 mil permaneceram em território brasileiro.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.