Oficial de Justiça debocha de religião afro e recebe apoio de seguidores

O oficial de Justiça do TJ-CE João Ivan Dutra (Reprodução/Redes Sociais)
Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – O oficial de Justiça do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE) João Ivan Sobrinho Dutra, lotado na Comarca de Bela Cruz, interior do Estado, publicou um vídeo nas redes sociais em que debocha de uma manifestação religiosa de matriz africana. As imagens foram gravadas na praia do Preá, no município de Cruz, e compartilhadas no sábado, 19.

“Faz o ‘L’, faz o ‘L'”, diz, em referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto mostra um grupo que entoa cantos religiosos na praia. Na legenda da postagem, ele escreveu: “‘Fazuéli’ já chegou aqui na praia do Preá, a macumba do SUS”.

Vídeo publicado no Instagram do oficial de Justiça (Reprodução/Redes Sociais)

Na publicação, o servidor público recebeu a aprovação de alguns seguidores. Em um dos comentários, uma internauta cita a primeira-dama do País, Rosângela Lula da Silva, conhecida como Janja, que já declarou publicamente possuir ligação com religião de matriz africana. “Macumbeira Janja que assina os atestados”, escreveu.

PUBLICIDADE

Outros comentários vão ao encontro do autor da postagem: “Chamar macumba de religião, só se for mesmo. Amigo, aí tá é longe de religião”, disse uma mulher. “Meu Deus, só faltava isso mesmo”, escreveu outro usuário da rede. A REVISTA CENARIUM questionou o oficial de Justiça sobre as declarações, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Comentários extraídos da publicação do oficial de Justiça Ivan Dutra (Reprodução/Redes Sociais)

Na contramão do que foi publicado pelo servidor, outros usuários do Instagram apontaram intolerância religiosa na publicação de João Ivan. “Ridículo, intolerância religiosa! Respeito às religiões é bom, viu…“, disse uma internauta.

Algumas pessoas apontaram intolerância religiosa na publicação (Reprodução/Redes Sociais)
Macumba no SUS?

O oficial de Justiça do TJ-CE João Ivan Sobrinho Dutra usou o termo “macumba do SUS” para se referir à recente recomendação do Conselho Nacional de Saúde (CNS), ao Ministério da Saúde, que propõe o reconhecimento de manifestações culturais de matriz africana como práticas complementares ao atendimento convencional do Sistema Único de Saúde (SUS).

A resolução 715, aprovada pelo CNS em julho, possui 59 propostas voltadas à saúde pública no País, das quais uma delas entende que terreiros, barracões e templos religiosos afros podem ser considerados lugares “promotores de saúde e cura”. A recomendação não tem o objetivo de substituir o tratamento convencional e, além disso, a responsabilidade pela decisão sobre o tema permanece sob a jurisdição do ministério.

Na última semana, a notícia passou a circular de forma distorcida e virou alvo de fake news nas redes sociais. Em uma publicação, um perfil menciona possível “cristofobia”. “Incluir o candomblé e congêneres como auxiliar do SUS na gestão da saúde, na cura de enfermidade e recebimento de recursos públicos (impostos) pagos por cristãos (em sua maioria) sem incluir o cristianismo no mesmo patamar é algo absurdo e um exemplo claro de cristofobia”, diz o texto.

Resolução 715 do SUS virou alvo de fake news (Reprodução/Redes Sociais)
Intolerância religiosa

O Ministério Público do Paraná (MP-RR) explica que a intolerância, em geral, é a atitude odiosa e agressiva a culturas e opiniões diferentes das suas próprias, sendo a intolerância religiosa “materializada por condutas de deslegitimação de crenças e religiões que diferem das suas, de modo a estigmatizar, excluir, desqualificar, segregar e silenciar as crenças e rituais considerados inferiores, em uma tentativa de manutenção do exercício de poder do que é socialmente visto como hegemônico”.

Dados do “2° Relatório sobre Intolerância Religiosa: Brasil, América Latina e Caribe”, publicação organizada pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas e pelo Observatório das Liberdades Religiosas, com apoio da Representação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), no Brasil, apontou, ainda em janeiro deste ano, o aumento dos casos de intolerância religiosa no País.

Segundo dados do portal Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foram registrados 477 casos de intolerância religiosa em 2019, 353 casos em 2020 e 966 casos em 2021. Os dados do estudo indicam que as religiões de matriz africana, mesmo sendo uma minoria religiosa, são as mais atingidas pela intolerância. Em 2020, foram notificados 86 casos de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana e 244 casos em 2021.

Leia mais: Tratamento complementar de matriz africana no SUS é ‘reparação’, diz candomblecista
PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.