Os ideais iluministas e o viés econômico da luta de Tiradentes pela independência do Brasil

Moeda brasileira com o rosto idealizado de Tiradentes. A imagem de um Brasil republicano que nasceu em meio a um mundo de liberalismo econômico (Reprodução/Internet)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é símbolo da luta pela liberdade do Brasil ante à opressão econômica e política imposta pelo regime da coroa de Dona Maria I – A Louca, então, rainha do Reino Unido de Portugal. Mas os ideais que motivaram o alferes e o grupo do qual fazia parte, a enveredar pela conspiração e queda do regime, estão ancorados na visão de mundo alimentada a partir dos séculos XVII e XVIII em um movimento chamado de: Iluminismo. Dentro do pensamento Iluminista está o “liberalismo econômico”, tese que vai ao cerne da questão: a riqueza econômica de um Estado.

Entre os pensadores do Iluminismo estão economistas históricos, entre eles: Adan Smith, David Hume, Vicent de Gournay dentre outros. Naquele período, florescia na Europa a ideia de “Laissez faire, laissez passez” (Deixe fazer, deixe passar), mantra dos liberais econômicos e, nesse ponto, o absolutismo da coroa portuguesa era um entrave para o crescimento do Brasil. Minas Gerais era então, literalmente, “a joia da coroa”, por ser a capitania mais rentável da colônia. Eram das minas que saiam ouro e diamantes que alimentavam a reconstrução de Lisboa, destruída por um terremoto em 1755.

Na época, Vila Rica, atual Ouro Preto, em Minas Gerais, era berço dos separatistas inconfidentes (Reprodução/Uwe Bergwitz)

Para essas e outras obras, Marquês de Pombal, homem forte da coroa, aumentou a pressão fiscal sobre a colônia e daí nasce o sentimento separatista. Para a economista Denise Kassama, a pesada cobrança de impostos gerou a revolta. “Um dos pontos da luta inconfidente era contra a alta cobrança de impostos. Eu não tenho um estudo de quanto era a carga tributária no tempo de Tiradentes, mas é claro que esses tributos não se convertiam em benefícios para o povo brasileiro daquele período”, avaliou.

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Precursor

Mesmo Tiradentes sendo uma figura enovoada em sua substância real ou, historicamente, superestimada por uma simbologia libertária carregada de ingenuidade, Denise Kassama reconhece a contribuição do alferes para a formação do Brasil. “Sei que há uma carga de fantasia na história. Também sabemos que ele era um militar, no meio de uma maioria formada por comerciantes, e há quem diga que Tiradentes foi um mero ‘bode expiatório’, mas, ‘bode expiatório’ ou não, a gente pode considerar que ele é um precursor do liberalismo econômico no Brasil”, considerou.

O delator Joaquim Silvério dos Reis entregou os inconfidentes mineiros que foram condenados pelo crime de lesa-majestade (Reprodução/Internet)

Já o historiador Raphael Russo avalia Tiradentes como uma “invenção” do militarismo republicano brasileiro, e que seu papel dentre os inconfidentes era o menor possível. “Tenho por formação, como ponto de vista histórico, que Tiradentes é uma construção dos militares quando derrubam a monarquia e proclamam a República em 1889. Eles precisavam de um herói nacional. De preferência, que tivesse uma patente militar e tivesse enfrentado a coroa portuguesa”, detalhou.

Construção

Segundo Russo, Tiradentes foi uma construção necessária. “Tiradentes era sequer o líder, ele era o menor deles, tanto que os principais líderes não foram mortos, possivelmente, somente ele foi morto. Aí os militares, após a Proclamação da República, criaram uma imagem cristã para ter o herói nacional. Em períodos de conflito é preciso um símbolo para pacificar o País. No texto de José Murilo de Carvalho, chamado ‘A formação das Almas’, é possível entender essas simbologias. Posso citar como exemplo o Ayrton Senna, que se tornou um herói pós-ditadura militar”, exemplificou.

O retrato de Tiradentes, por Oscar Pereira da Silva, traz a imagem idealizada de uma figura que lembra Jesus Cristo (Reprodução/Internet)

Questionado se Joaquim José da Silva Xavier era um liberal econômico, Raphael Russo limita a imagem de Tiradentes. “Naquele tempo, os iluministas questionavam o absolutismo e pontificaram o liberalismo econômico, e essas ideias foram absorvidas pelo grupo dos inconfidentes, que era o grupo de Tiradentes. E esse grupo defendia o liberalismo econômico. Nisso eu acredito”, opinou. “Tiradentes não era ninguém dentre os inconfidentes, então, na minha visão, sigo o ponto de vista de José Murilo de Carvalho: Tiradentes é uma construção, mas, seu grupo, esse, sim, era liberal econômico, provavelmente“, finalizou.

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