Países precisam diminuir CO2 para controlar temperatura, aponta climatologista

Emissão de CO2. (Reprodução/Pixabay)
Mayara Subtil – Da Revista Cenarium Amazônia

BRASÍLIA (DF) – Nunca antes o planeta viveu um cenário com tantos gases de efeito estufa sobrecarregando a atmosfera, uma sequência longa de recordes diários de calor, a redução das extensões da camada de gelo da Antártica e do Ártico, além de um El Niño atípico, deixando os mapas dos oceanos cada vez mais vermelhos.

À REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA, o climatologista Francisco Eliseu Aquino declarou nesta sexta-feira, 22, que, a menos que o mundo alcance zero emissões líquidas de CO2, as temperaturas continuarão em alta.

Ondas de calor, recordes de temperatura se tornam cada vez mais intensas e frequentes. Nos cabe lidar com esse cenário. Precisamos aumentar e muito a nossa resiliência. É por em prática o esforço global de diminuição até 2035 a redução dos gases de efeito estufa em 50% e, quem sabe, uma redução quase próxima a zero em 2050“, disse o também chefe do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).

Climatologista Francisco Aquino diz que é preciso por em prática meta global de emissão dos gases de efeito estufa. (Reprodução/ SENGE-RS)

A ONU alertou recentemente que o mundo precisará reduzir suas emissões em 43% até 2030 e 60% até 2035 em relação a 2019 para viabilizar a neutralidade das emissões em 2050, passo essencial para conter o aquecimento em 1,5ºC. Mas sobre os compromissos climáticos atuais dos países para conter o aquecimento global neste século, o quadro não é bom.

Conforme último relatório da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (UNFCCC), apesar de terem elevado a ambição de suas promessas de redução das emissões de gases de efeito estufa, os comprometimentos atuais das nações seguem garantindo um aquecimento acima dos 2ºC definidos pelo Acordo de Paris como limite máximo ao aumento de temperatura em relação aos níveis pré-industriais.

Se nada for feito, surgirão novos riscos: perda de biodiversidade, escassez de água em terras áridas, eventos climáticos mais extremos, além da produtividade dos sistemas alimentares. E a intensa da onda de calor que vem sufocando o Brasil nos últimos dias é resultado das mudanças climáticas.

Estamos registrando ao longo de 2023 recordes de temperatura em todos os continentes e nos dois hemisférios. Por isso que durante todo o inverno e agora nos próximos dias iremos observar temperaturas acima da média com alguns recordes“, complementou Francisco Eliseu Aquino.

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Medidas

Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, esclareceu à REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA que uma das estratégias, sobretudo do Brasil, é descarbonizar. “Tem que desacelerar o ritmo das emissões atuais. Nós conseguiríamos chegar em 2030 com 80% de emissão se reduzirmos radicalmente o desmatamento em todos os biomas brasileiros, aumentarmos a restauração florestal na casa dos 4 milhões de hectares e, por fim, colocarmos um preço no carbono, ou seja, instituir um mercado regulado“, detalhou.

Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, defende a descarbonização como estratégia para diminuir os impactos das mudanças climáticas. (Reprodução/TOPVIEW)

Nesta semana, o Brasil anunciou na Cúpula de Ação Climática a correção do compromisso que havia sido reduzido no governo Bolsonaro. Para corrigir o que ficou conhecido como “pedalada climática”, houve uma alteração percentual — de 37% para 48% até 2025 e de 50% para 53% até 2030.

Tenho a satisfação de anunciar hoje que vamos atualizar nossa contribuição nacionalmente determinada no âmbito do Acordo de Paris, a NDC. Vamos retomar o nível de ambição que apresentamos originalmente na COP 21 e que tinha sido alterado no governo anterior“, leu Marina em nome do presidente Lula durante a cúpula.

Ministra Marina Silva discursa na Cúpula da Ambição Climática, em Nova York. (Reprodução/ Mark Garten/ONU)

A NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira de 2015 tinha a meta de reduzir em 37% as emissões do país até 2025, em relação a 2005. Ainda indicava que as emissões poderiam ser reduzidas em até 43% em 2030. “Entendemos que o governo atual não está fazendo nada mais o que sua obrigação de reafirmar o que, até hoje, foi a melhor oferta colocada pelo Brasil na mesa do clima”, reforçou Natalie.

De acordo com o climatologista Francisco Eliseu Aquino, reduzir o desmatamento na Amazônia é o mesmo que reduzir os impactos climáticos no Brasil e no mundo. Além disso, a preservação da floresta contribui para a preservação da economia do país.

É desmatamento zero, recuperação de áreas de preservação, proteção de margens de rio, implementação de todo o regramento ambiental, planejamento de cidades, de economia, de cenários futuros de desenvolvimento do nosso país“, disse.

Para se ter uma ideia, uma árvore em pé é capaz de absorver carbono da atmosfera, produzir alimentos, abrigar espécies e proporcionar serviços ambientais. Mas cada uma que tomba diminui a habilidade do bioma amazônico em produzir chuva ao país, por exemplo. Se é queimada pior ainda, pois libera para a atmosfera o CO2 que demorou décadas para estocar.

Amazônia

Segundo Natalie Unterstell, é necessário que os governos estaduais brasileiros façam um processo participativo e inclusivo de discussão das metas da NDC na região amazônica. “É particularmente importante olhar do ponto de vista amazônico.

Já que a região tem uma grande participação nas emissões, a gente precisa fazer uma conversa dos amazônidas para o Brasil, que enfrente não só os desafios da redução das emissões, mas da transformação da economia, de bem-viver. A NDC pode ser um plano de investimento, um verdadeiro plano de investimento verde”, concluiu.

Leia mais: Na ONU, Lula diz que mudança climática e desigualdade são principais desafios globais
Editado por Jefferson Ramos
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