Pastor barra banda infantil de rock em Marcha para Jesus

À esquerda, o presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos do Amazonas, pastor Valdiberto Rocha, e a Banda Família Seven (Arte: Mateus Moura/Cenarium)
Ívina Garcia – Da Revista Cenarium

MANAUS – A banda gospel Família Seven foi impedida pelo presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos do Amazonas (Omeam), pastor Valdiberto Rocha, de se apresentar na 29ª edição da “Marcha Para Jesus”, no último sábado, 10, no Centro de Convenções de Manaus, Sambódromo, zona Centro-Sul de Manaus. Para o líder da banda, Cleudivaldo da Cunha Vieira, o grupo musical foi barrado por usar roupas pretas e alguns integrantes possuírem cabelos compridos.

De acordo com Cleudivaldo, conhecido como ‘Vieira Seven‘, a organização do evento está mais conservadora. A Omeam tem histórico de apoiar políticos tradicionalistas, como o deputado federal Silas Câmara (Republicanos), o candidato derrotado ao Senado Coronel Menezes (PL) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O presidente da Omeam (à esquerda) com o ex-presidente Jair Bolsonaro na Marcha para Jesus 2022 (Reprodução/Instagram)
O presidente da Omeam (à esquerda) com Silas Câmara. (Reprodução/Instagram)

O grupo é composto por Vieira, a esposa Kayla Franco de Moura, 36 anos, e os filhos: Victor Gabriel de Moura Vieira, 15; Kaliel de Moura Vieira, 13; Davi de Moura Vieira, 10; e Anna Gabrielly de Moura Vieira, 6. O pai relatou que as crianças ficaram frustradas e traumatizadas com o tratamento recebido durante a marcha, para a qual se prepararam e tinham grandes expectativas de se apresentarem.

PUBLICIDADE

“Tivemos gastos com os equipamentos e com o estúdio, toda a preparação que fizemos para chegar na hora e não apresentar. Nem conseguimos entrar onde os artistas estavam. Foi muito humilhante, eles jogavam a situação um para o outro e diziam que não sabiam de nada”, conta Cleudivaldo, lembrando que as crianças precisaram ficar do lado de fora do evento, sem qualquer assistência da organização. No aplicativo TikTok, o grupo tem vídeos com mais de 100 mil visualizações.

Card produzido pela organização anunciava show da banda no Sambódromo. (Reprodução)

A banda estava com apresentação marcada para acontecer no trio da Omeam, segundo Vieira, porém, o grupo foi impedido de tocar no evento. “A gente toca pop-rock, e na conversa que tive com o presidente [pastor Valdiberto Rocha], ele falou sobre a questão do rock e do cabelo dos meus filhos“, afirma o vocalista.

Após a negativa de apresentação no trio, o grupo foi ao Sambódromo, onde marcaram de se apresentar. “Eles alegaram que não deixaram a gente ir no trio por conta das crianças, mas a gente sabe que tinha filho de outras pessoas lá, na cabine, e tinha vaga. Não levaram por conta de discriminação, e isso me deixa muito revoltado“, ressaltou Vieira Seven, vocalista da banda.

Família na concentração da “Marcha Para Jesus” após ser barrada de entrar no trio elétrico. (Reprodução)
Visual

Segundo Vieira, em outra reunião com membros da Omeam, as crianças foram alvo de comentários maldosos por conta do cabelo comprido. “Em um dos cafés que aconteceu na Igreja Renascer, nós tocamos lá e meus filhos foram discriminados por dois pastores. As crianças ficaram com trauma. Eles são acostumados a ter o cabelo grande, é algo deles, como eles se sentem bem“, lembra.

A banda fez uma publicação na rede social Instagram (Divulgação)

Vieira conta que após relatar o que aconteceu a Valdiberto Rocha, o mesmo humilhou ainda mais o grupo. O vocalista promete, ainda, denunciar a discriminação ao Ministério Público.

A banda fez uma publicação na rede social Instagram (Divulgação)

Ele falou ‘se eu sou o Todo-Poderoso, vocês vão cantar depois da Aline Barros’, num tom de humilhação mesmo, sendo que quando ela saísse as pessoas iriam embora e os donos do som iam desligar e acabar o show. Isso é muito humilhante e me dói no coração. Eu vou ao Ministério Público denunciar, eu tenho testemunha do que fizeram comigo“, conta Cleudivaldo.

A banda fez uma publicação na rede social Instagram (Divulgação)

A REVISTA CENARIUM entrou em contato com a Omeam para questionar sobre as afirmações feitas pelo líder da banda, mas não obteve retorno.

Cura dos autistas

Valdiberto Rocha foi criticado, nesta semana, por associações e mães de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) após dizer que pessoas autistas foram curadas após participarem da “Marcha para Jesus” do ano passado. A declaração aconteceu durante entrevista ao programa Manhã de Notícias, da Rede Tiradentes, na manhã de sexta-feira, 9.

O líder religioso fazia o convite à sociedade para a edição 2023 da celebração evangélica. “Eu conheço pessoas que marcharam no ano passado, que estavam com câncer e, neste ano, estão curadas, porque o Senhor fez o milagre. Eu conheço pessoas que tinham filhos autistas, que vieram para a marcha e, neste ano, estão curados”, afirmou Rocha.

Relações políticas

A esposa do presidente da Omeam, Dionélia de Oliveira Rocha, trabalha desde 2019 no gabinete do deputado federal Silas Câmara, ocupando o cargo de secretária parlamentar, ganhando cerca de R$ 4 mil mensais, segundo dados disponíveis no Portal da Transparência da Câmara Federal. Silas aparece em imagens ao lado do esposo de Dionélia, pastor Valdiberto Rocha, durante a Marcha Para Jesus de 2022, na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Salário da esposa do presidente da Omeam, no gabinete de Silas Câmara. (Reprodução/Câmara dos Deputados)


PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.