Petrobras adia pagar compensação ambiental de R$ 140 mil por petróleo na Foz do Amazonas desde 2014

Foz do rio Amazonas vista por Satélite da Nasa (Foto: Reprodução / Observatório do Clima)
Da Revista Cenarium*

MANAUS (AM) – A Petrobras agiu por seis vezes, pelo menos, para protelar o pagamento de uma compensação ambiental devida em razão da tentativa de exploração de petróleo na bacia Foz do Amazonas. O projeto acabou abandonado, após um acidente, o que não anulou a obrigação da compensação. O valor original da dívida era de R$ 140 mil.

Documentos obtidos pela Folha, parte deles por meio da Lei de Acesso à Informação, detalham a estratégia protelatória da estatal nos anos de 2014, 2016, 2017, 2019 e 2021.

A ofensiva teve êxito. O processo se arrasta por mais de nove anos, como mostrou reportagem do jornal publicada em 10 de dezembro. Até hoje, a compensação não foi depositada, e o valor foi atualizado para R$ 282 mil.

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A empresa e o governo Lula (PT) manifestam o desejo de explorar um outro bloco, com possibilidade de impacto negativo no ambiente ainda maior, conforme um cálculo do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o que, portanto, exige o desembolso de compensação ainda mais alta: R$ 4,3 milhões.

Vista aérea de encontro de águas com área verde do parque
Parque Nacional do Cabo Orange, na costa do Amapá, em foto de 2016 – Victor Moriyama/Greenpeace

Os ofícios da Petrobras para tentar escapar do pagamento foram enviados ao Ibama, responsável pelo cálculo do grau de impacto do empreendimento e pela definição do valor da compensação, e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), destinatário dos recursos.

Os motivos para protelar o depósito, apresentados pela estatal, foram os mais diversos: falta de obrigatoriedade de pagar uma compensação em casos de perfuração para prospecção de petróleo, necessidade de análise por um órgão hierárquico superior, limitações na tramitação interna de processos e discordância do critério para atualização monetária.

Em nota, a Petrobras afirmou que não protela o pagamento e que a destinação dos recursos foi definida em 2018, na Câmara de Compensação Ambiental e Florestal. “Somente em junho de 2023, o Ibama definiu a taxa de atualização monetária do valor de pagamento e, com isso, em dezembro de 2023, o ICMBio disponibilizou a versão final do termo de compromisso para assinatura.”

A assinatura do documento ocorreu no último dia 15, segundo a estatal. A empresa disse que o valor será pago em abril, após publicação de índice de atualização.

O destino do dinheiro deve ser o Parque Nacional do Cabo Orange, que fica na região de Oiapoque (AP). A reserva é uma importante e delicada área de conservação de mangues e campos inundáveis.

O bloco na bacia Foz do Amazonas em questão é o FZA-4, que fica a uma distância de 110 a 126 km da costa do Amapá.

https://arte.folha.uol.com.br/ambiente/2024/01/31/bloco-na-foz-do-amazonas-teve-acidente-em-2011/?initialWidth=630&childId=infographic-1&parentTitle=Petrobras%20agiu%206%20vezes%20para%20protelar%20compensa%C3%A7%C3%A3o%20ambiental%20-%2004%2F02%2F2024%20-%20Ambiente%20-%20Folha&parentUrl=https%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br%2Fambiente%2F2024%2F02%2Fpetrobras-agiu-por-6-vezes-para-protelar-compensacao-ambiental-por-petroleo-na-foz-do-amazonas.shtml

Em dezembro de 2011, durante atividade de perfuração do bloco, um acidente resultou em danos em equipamentos e em vazamento de óleo hidráulico. A Petrobras abandonou o projeto de vez em 2016 —e prosseguiu com a protelação do pagamento da compensação ambiental.

“O poço permaneceu em condição absolutamente segura a todo momento e não houve qualquer dano ao meio ambiente ou acidentes com pessoas”, disse a Petrobras. “Nenhum equipamento de perfuração foi deixado no fundo do mar e qualquer ilação contrária é improcedente.”

O chamado bloco 59, que a estatal e o governo Lula (PT) querem explorar ainda em 2024, está bem próximo do FZA-4. A distância da costa, na linha de Oiapoque, é de 160 a 179 km.

Em maio de 2023, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, negou concessão de licença para perfuração do bloco 59. A Petrobras recorreu, e Lula é favorável à exploração de petróleo na costa amazônica, apesar dos riscos ambientais, das críticas pela aposta em combustíveis fósseis e da contradição com planos assumidos pelo governo para redução de emissão de gases de efeito estufa.

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Reportagem publicada pela Folha na terça-feira (30) mostrou que o grau de impacto ambiental do projeto no bloco 59 atingiu escala máxima, com alta magnitude do impacto negativo, influência em biodiversidade formada por espécies ameaçadas de extinção e comprometimento de áreas ainda desconhecidas.

O cálculo é feito pelo Ibama, para definição do valor da compensação ambiental. O grau de impacto foi calculado em 0,5%, numa escala de 0 a 0,5% —o maior valor, portanto.

Já no caso da perfuração no bloco FZA-4, o índice ficou em 0,28%, embora componentes usados no cálculo tenham atingido valores máximos, como a magnitude dos potenciais impactos.

Para o projeto que a Petrobras e o governo querem explorar, o Ibama definiu que a compensação ambiental a ser paga é de R$ 4,3 milhões. O valor é definido com a multiplicação do grau de impacto pelo valor de referência do empreendimento, informado pela estatal —R$ 859,6 milhões.

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Foz do Amazonas: entenda a disputa pela exploração de petróleo na região

Parque Nacional do Cabo Orange, na costa do estado do Amapá, na foz do Amazonas, região que está na mira da indústria petrolífera. A Petrobras fez pedido para perfurar bacia na foz do rio Amazonas com o objetivo de explorar petróleo a mais de 500 km da costa
Parque Nacional do Cabo Orange, na costa do estado do Amapá, na foz do Amazonas, região que está na mira da indústria petrolífera. (Victor Moriyama/Greenpeace) 

A compensação obrigatória para o atual projeto na bacia Foz do Amazonas é bem superior à do projeto anterior, cujo pagamento a Petrobras buscou evitar.

Leia a matéria na íntegra neste link.

(*) Com informações da Folhapress

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