Polícias acumularam autonomia e poder em democracias, aponta pesquisadora de Harvard

Rio de Janeiro - Polícia Militar e manifestantes entraram em confronto no centro do Rio durante protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Da Revista Cenarium Amazônia*

SÃO PAULO – A violência policial no Brasil não é um problema desconhecido para Yanilda González, pesquisadora da Universidade Harvard que estuda o problema há mais de uma década nos EUA e na América Latina.

Ao acompanhar um protesto na semana passada contra as mortes na Baixada Santista, na operação mais letal da polícia de São Paulo desde o Carandiru, ela disse ter visto a frustração de jovens e a dor de mães que sofrem com a violência do Estado.

Segundo a pesquisadora, as polícias, usadas como instrumento político ao longo do tempo, acumularam autonomia e poder, mesmo em democracias, que funcionam como barreiras contra tentativas de reforma e controle de suas atividades.

PUBLICIDADE

Ela criticou as declarações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e do secretário de segurança, Guilherme Derrite, sobre a operação. “Me chamou a atenção a politização imediata das mortes.”

A senhora esteve na Baixada Santista na última semana. Qual foi a sua impressão sobre a região?

Acompanhei dois atos de repúdio, um em Guarujá e outro em Santos. Dava para ver essa frustração dos jovens com a polícia, com o jeito que a polícia atua na região deles. Eram jovens e adolescentes gritando por paz na comunidade.

Participei de reuniões com familiares, movimentos sociais e autoridades locais e realmente havia indicação de que houve realmente abusos por parte da polícia, ameaças contra os familiares, a polícia chegando lá na região perguntando quem tinha passagem e depois voltando, que não havia, em muitos casos, as trocas de tiros ou outras justificativas para o uso de força letal.

Como vê o posicionamento do governador e do secretário de segurança, que defenderam a operação e negaram abusos?

Chamou a atenção o governador Tarcísio dizer “estou extremamente satisfeito” e que não houve excessos, antes de fazer investigação. Foi muito chamativo essa politização quase imediata das mortes.

O soldado da Rota Patrick Reis foi morto durante patrulhamento na comunidade Vila Zilda, em Guarujá, em 27 de julho; ele ingressou na PM em 7 de dezembro de 2017, e deixou a mulher e um filho de dois anos
O soldado da Rota Patrick Reis foi morto durante patrulhamento na comunidade Vila Zilda, em Guarujá, em 27 de julho; ele ingressou na PM em  Reprodução/Redes Sociais 

É comum que figuras públicas mencionem antecedentes criminais dos mortos quando questionadas sobre letalidade estatal. Que sinais isso dá?

Esse tipo de declaração viola todos os princípios de uma polícia democrática. É a politização da segurança pública, indicando que talvez a polícia esteja servindo mais para os interesses do governador. Por outro lado, dá uma justificativa para o uso ilegal da força. A lei não diz que o uso da força letal é permitido quando a pessoa tinha passagem ou antecedentes criminais.

Leia mais no link.

(*) Com informações da Folhapress

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.