Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – Após o presidente Jair Bolsonaro (PL) publicar, na madrugada de sábado, 30, um novo decreto zerando as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os concentrados em todo o País, afetando a Zona Franca de Manaus (ZFM), o prefeito da capital amazonense, David Almeida (Avante), chamou nesta segunda-feira, 1º, o governo federal de “burro”.
“Eu não posso concordar com um governo de burros. Essa é a realidade. Eu queria poder estar elogiando o Governo Bolsonaro, queria estar pedindo votos para Bolsonaro, queria estar dizendo que ele está ajudando a cidade de Manaus, mas ele está maltratando a gente, está tirando emprego”, declarou David Almeida, durante o lançamento do programa ‘Manaus Esportiva’, na capital.
O prefeito de Manaus destacou que defende as causas de Bolsonaro, mas que é totalmente contrário aos ataques à ZFM. David chamou o governo federal de burro, relacionando ao decreto que zerou o IPI dos concentrados à liberação da licença ambiental para a reconstrução do trecho do meio da BR-319. Para Almeida, o que Bolsonaro ganhou com a licença na quarta-feira, 27, ele perdeu na sexta-feira, 29, atacando o Polo Industrial de Manaus (PIM).
“Eu sou evangélico, protestante, de direita, defendo tudo o que ele defende, mas eu sou totalmente contrário a esses ataques que ele faz à Zona Franca de Manaus. Ele está tirando emprego da gente, está nos maltratando e queria que todo eleitor amazonense o cobrasse como eu o cobro. Eu fui eleitor dele e o candidato eleito não pode tratar o povo com chicote. O Bolsonaro está tratando o povo com chicote”, continuou o prefeito.
Almeida afirmou ainda que não consegue compreender o Governo Bolsonaro com relação ao Amazonas e que não vive diante de um fanatismo cego. “Eu não posso concordar com o cidadão que foi eleito com 65% dos votos na cidade de Manaus e tratar tão mal ela. Eu não vivo diante de um fanatismo cego. As pessoas votaram nele e têm que cobrar ele. Ele ataca a gente e tem gente que aplaude. Quando faltar comida e emprego vão lembrar do que eu estou falando. Estou pedindo para que o povo abra os olhos”, frisou David Almeida.
‘Não sou Lula e não vou apoiar Bolsonaro’
Na coletiva, apesar de confirmar ter sido eleitor do presidente Bolsonaro nas eleições 2018, o prefeito de Manaus disse que não vai apoiar Bolsonaro nas eleições 2022, mas que também não é eleitor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo após o pré-candidato do Avante à Presidência André Janones confirmar a desistência na disputa para apoiar Lula.
“Eu não sou Lula. Não voto no Lula. Não voto no Lula e não vou apoiar o Bolsonaro. Se o Janones vai apoiar Lula, o problema é do Janones. Eu sou o David e tenho autonomia no meu partido para decidir para onde eu for”, afirmou.
Decreto
O novo ataque à Zona Franca de Manaus foi consolidado durante a madrugada de sábado, 30, pelo presidente Jair Bolsonaro, por meio do decreto N°11.158, na edição extra do Diário Oficial da União (DOU). Na publicação, o governo federal reduz em 35% o Imposto Sobre Produtos (IPI) de concentrados e retira itens produzidos na ZFM da correção.
Na medida, o texto elenca uma lista de Nomenclatura Comum do Mercosul (NCMs), utilizada para identificar os produtos que representariam grande parte do faturamento do Polo Industrial de Manaus (PIM), medido em R$12 bilhões em importações.
Para o ex-superintendente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e consultor tributário Thomaz Nogueira, essa nova manobra de Bolsonaro tenta barrar as já existentes ações no Supremo Tribunal Federal, contra outros decretos já revogados pelo ministro Alexandre de Moraes. Na publicação extra, Bolsonaro extingue decretos anteriores, tentando tornar as ações no STF “sem objeto”, o que congelaria as ações movidas pela Bancada do Amazonas.
Já para o senador Omar Aziz (PSD-AM), o presidente Bolsonaro segue perseguindo a Zona Franca e o povo do Amazonas. “Ele assinou um novo decreto extremamente prejudicial à Zona Franca de Manaus. Não é o primeiro e nem o segundo”, escreveu o senador, nas redes sociais.