Presidente do Egito convida Lula para Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP27

Organizações da sociedade civil se mobilizam com propostas de inovações e melhorias, apontando aquilo que esperam além do que já foi feito pelo petista em seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010 (Ricardo Stuckert/Reprodução)
Com informações do Infoglobo

SÃO PAULO – O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu participar da conferência sobre mudanças climáticas da ONU, a COP27, que acontece entre os dias 6 e 18 de novembro, no Egito, decisão que foi bem recebida por ambientalistas. A expectativa é que o petista já chegue à conferência na cidade de Sharm el-Sheikh, o primeiro grande evento internacional desde sua vitória, com o nome do indicado para comandar o Ministério do Meio Ambiente em seu governo.

O convite para a participação de Lula foi feito pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). Houve também contato do governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), que preside o Consórcio de Governadores da Amazônia Legal — grupo que reúne os nove líderes da região e terá, pela primeira vez, um estande no evento. Organizações da sociedade civil, que terão um espaço próprio, foram outro grupo que estendeu convites para o governo de transição.

Lula também foi convidado na própria segunda-feira pela Presidência do Egito e se juntará a uma lista de peso internacional. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, irá à conferência, assim como Giorgia Meloni, nova premier italiana, e o presidente da França, Emmanuel Macron. Não está claro, contudo, se todos estarão, simultaneamente, no evento.

PUBLICIDADE

Há uma cúpula para os líderes, nos dois primeiros dias da COP27, mas Biden só irá ao Egito no dia 11, por exemplo. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, o mais provável é que o petista faça a viagem na segunda semana da conferência, devido às questões logísticas, orquestrando sua agenda com as dos governadores amazônicos — os cinco que confirmaram sua ida estarão lá, simultaneamente, entre os dias 14 e 15.

Aliados consideram natural que o petista já chegue à COP27 com o nome de seu ministro para apresentar ao mundo. Uma das citadas para assumir a pasta é a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), que foi ministra do Meio Ambiente nos dois primeiros governos de Lula. Ela também irá à conferência na segunda semana.

Lideranças petistas, porém, afirmam que seria mais provável que Marina fosse indicada para comandar a Autoridade Climática, instituição que irá coordenar a ação de vários ministérios na questão ambiental. A criação da autoridade foi uma das propostas apresentadas pela líder da Rede a Lula como condicionante para que ela declarasse apoio ao petista.

A decisão de Lula foi bem recebida por ambientalistas, que apontam para o bom cartão de visitas dos seus governos anteriores, como um sinal de que as sinalizações do presidente eleito para a pauta ambiental não são palavras ao vento: entre 2004 e 2012, anos em que Lula e Dilma Rousseff estiveram no Palácio do Planalto, o desmate na Floresta Amazônica caiu 80%. Nos três primeiros anos de Bolsonaro, subiu 73%.

“O fato do Lula ir para a COP é uma demonstração da importância do tema climático para o governo petista e para retirar o Brasil da posição de pária”, disse ao GLOBO Ana Toni, diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade. “Além disso, ele, certamente, deve pautar o tema de transição justa, de assegurar que os temas de clima e desenvolvimento caminhem colados uns aos outros (…). A ida dele para a COP também dá esse tom: o Brasil está de volta, o desmate vai acabar, mas trazendo junto o combate à pobreza”.

Para Stela Herschmann, especialista de políticas climáticas do Observatório do Clima, a ida de Lula será um “movimento muito importante que irá remarcar a entrada do Brasil no tabuleiro internacional e no multilateralismo”:

“Nós já vimos isso começar, só com as mensagens que ele recebeu dos chefes de Estado. Muitos deles, enfatizando a questão ambiental”, disse ela. “A presença dele na COP será um momento de fazer acenos importantes nesta agenda e encontrar, pessoalmente, alguns desses líderes e começar, antes mesmo de assumir, a restaurar essas relações que foram tão prejudicadas nos últimos anos.

Governo de transição x governo de saída

Se o governo de Jair Bolsonaro chegou às últimas duas COPs sem ter o que apresentar, a decisão de Lula deve ofuscar a participação do mandato que termina. A atual equipe do Planalto planejava driblar seu passivo de desmate e de emissões recordes de gases-estufa para, também tirando proveito da crise energética provocada pela guerra na Ucrânia, promover o País como um expoente da energia limpa.

O MMA planeja um megaestande, em parceria com as Confederações Nacionais da Indústria e da Agricultura, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos e o Sebrae. A instalação ficará bem em frente ao espaço dos governadores na Zona Azul — a área onde ocorrem as negociações entre os países — e perto do lugar onde ficarão as organizações da sociedade civil.

“Ninguém vai prestar atenção nos representantes oficiais do governo do Brasil”, disse o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas globais sobre Amazônia”. Talvez só alguns queiram ir lá para perguntar como a bancada do novo Congresso, com muitos defensores do governo atual, vai se manifestar com relação aos compromissos do Brasil com a mudança climática.

Para Nobre, os primeiros sinais dados por Lula em sua fala, minutos após o Tribunal Superior Eleitoral confirmar sua vitória, foram positivos: o Brasil está “pronto para retomar seu protagonismo na luta contra a crise climática”, disse o presidente eleito, sinalizando promessas de reindustrialização, a criação de um ministério para os povos originários e o desmate zero:

“É a primeira vez que um presidente diz que irá levar o desmatamento a zero. Não diminuí-lo, mas zerá-lo. Isso vai criar uma nova economia, na Amazônia, de floresta em pé, vai proteger as comunidades locais e os povos indígenas, dar um protagonismo do combate à emergência climática.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.