‘Reciclagem de gases presentes em condicionadores de ar é alternativa para reduzir emissão de HCFC’, diz especialista

Com dezenas de equipamentos acumulados, técnico faz a substituição do gás, liberando substância poluente (Divulgação / Instituto JLira de Desenvolvimento Empresarial  

Alessandra Leite – Da Revista Cenarium

Com informações da assessoria

MANAUS – Uma casa ou empresa com quatro aparelhos de ar-condicionado de 9.000 BTUS cada, se instaladas em uma região com temperaturas variando entre 30 e 40 graus, têm o potencial de lançar, no ambiente, fluidos refrigerantes no mesmo volume do seu potencial de aquecimento, o que corresponde a 3,71 toneladas de dióxido de carbono – C02 – na atmosfera.

PUBLICIDADE

Os dados, repassados pelo engenheiro de produção e perito ambiental Abraão Rodrigues Lira, apontam para uma média total de 2,6 quilos de um tipo de gás HCFC (Hidroclorofluorcarbonetos) – também conhecidos como fluidos refrigeradores, muito utilizados na indústria e presentes nos sistemas de refrigeração de eletrodomésticos, como condicionadores de ar, freezers, bebedouros e geladeiras – injetados nos sistemas desses aparelhos.

“Se imaginarmos, neste mesmo local, uma manutenção sendo realizada simultaneamente nesses aparelhos, podemos imaginar que, caso a manutenção não siga procedimentos de segurança ambiental no armazenamento desses gases, esses fluidos estarão sendo lançados no ambiente no mesmo volume de 2,6 kg vezes seu potencial de aquecimento atmosférico de 1430. Ou seja, os gases HCFC são extremamente mais poluentes que o C02”, explica.

O especialista esclarece que, qualquer quilograma lançado desses gases HCFC na atmosfera pelo cidadão comum e pelas empresas, se somados às emissões mundiais, haverá uma contribuição significativa nas mudanças climáticas do planeta, com relação direta com as grandes enchentes, as queimadas, a desertificação, as secas, altas e baixas temperaturas e outras consequências. “Tudo isso traz consigo uma série de implicações que impactam diretamente as nossas vidas, como falta de alimentos, velhas e novas doenças, migração em massa de povos, entre outras decorrências”, disse Lira.

Devido a esses efeitos que, em maior ou menor grau, todos produzem para o planeta, o especialista chama a atenção para alguns hábitos que considera essenciais no comportamento do consumidor ecologicamente responsável. Um deles, aponta, é chegar na loja e perguntar se os aparelhos eletrodomésticos consomem energia de forma mais eficiente e qual a destinação correta dos gases e equipamentos, quando estes deixarem de ser úteis, tornando-se resíduos. “Outra preocupação que todos deveríamos ter, diz respeito ao momento em que chamamos um serviço técnico para consertar aparelhos em nossas casas. Perguntar ao profissional qual o destino dos gases de efeito estufa do tipo HCFC dos equipamentos após a manutenção. Caso o técnico for trocar o gás, é importante os donos da casa se certificarem se ele irá mandar o gás velho para o centro de reciclagem desse gás”, orienta.

O centro mais próximo da região Norte do País está em Recife, Pernambuco. Com sede na capital pernambucana, o Instituto JLira realiza consultorias empresariais de processo, projetos de sustentabilidade, cursos práticos e capacitações em company (remotos e presenciais) sobre gerenciamento de resíduos visando a implantação de Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) para empresas, instituições públicas e profissionais autônomos (prestadores de serviços), interessados em contribuir para a melhoria da qualidade ambiental dos seus negócios e do planeta.

Destinação correta dos resíduos é prevista em lei ambiental (Divulgação / Instituto JLira de Desenvolvimento Empresarial)

Destinação correta é obrigatória

O Brasil é signatário do Protocolo de Montreal e em 2011 lançou o Programa Brasileiro para Eliminação de Hidroclorofluorcarbonos (PBH), gerido pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio do Ibama. Em 2018, uma instrução normativa do órgão ambiental federal, a de nº 5, estabeleceu para os fabricantes a obrigatoriedade da destinação correta desse tipo de Substâncias Destruidoras da Camada de Ozônio (SDOs), o que na prática não vem acontecendo de forma ainda mais eficiente.

“Infelizmente não há um controle efetivo por parte do Poder Público em monitorar esse processo e muito pouco é destinado aos centros de reciclagem”, observa Abraão, enfatizando a necessidade de conscientização das partes envolvidas. “Atualmente, os resíduos mais monitorados no Brasil e eficientes na gestão são embalagens de agrotóxicos, baterias automotivas, pneus e pilhas”.

Fluidos refrigeradores

Os gases de efeito estufa do tipo HCFC (Hidroclorofluorcarbonetos), também conhecidos como fluidos refrigeradores, bastante utilizados na indústria e presentes nos sistemas de refrigeração de eletrodomésticos como condicionadores de ar, freezers, bebedouros e geladeiras, possuem um poder de destruição da camada de Ozônio na estratosfera pelo menos 20 vezes maior que o Carbono (CO2).

Toneladas desses gases são liberadas de forma ilegal, contribuindo para intensificação do aquecimento global, ou permanecem armazenadas irregularmente durante anos.

Camada de Ozônio

A camada de Ozônio, em volta da Terra, tem uma importância fundamental para a manutenção da vida no nosso Planeta. Ela protege animais, plantas e humanos dos raios ultravioleta emitidos pelo Sol e é formada por gases atmosféricos, que se encontram entre 20 km e 35 km de altitude, na estratosfera. Ao realizar essa função primária, os resultados são positivos, pois o filtro UV impede o aquecimento da Terra, que, por sua vez, não desenvolve o efeito estufa, o aquecimento global, doenças desencadeadas por esse processo, como o câncer de pele, a diminuição de biodiversidade, entre outros. Sua destruição está ocorrendo pela emissão desenfreada de gases como o CFC, o que provoca o aumento do efeito nocivo à saúde humana e do planeta.

Protocolo de Montreal

As discussões acerca dos gases de efeito estufa com potencial destruidor  de Ozônio tiveram início em 1985, com a assinatura do Protocolo de Montreal. O tratado internacional – firmado por ocasião da Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio – estabeleceu metas de redução das emissões desses gases. Em 2007, teve início nova fase do Protocolo, em que anteciparam o cronograma mundial de eliminação do consumo de HCFC. Desde então, a destinação correta desse tipo de material vem preocupando autoridades mundiais. No Brasil, se tornou objeto de resoluções do governo federal, relacionadas à Política Nacional de Resíduos Sólidos, que não vêm sendo cumpridas.

Usados como fluidos de refrigeração, os HCFCs surgiram como alternativa aos CFCs na época em que não havia outros tipos de fluidos para substituição dos CFCs. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), as características danosas dos HCFCs motivaram as partes signatárias do Protocolo de Montreal a abolir, de maneira gradativa, o uso da substância até 2040. A decisão foi tomada em setembro de 2007. A primeira fase do cronograma definiu que cada País teria um limite de utilização da substância a partir da linha base do ano de 2013. Após esta data, os participantes do acordo teriam que voltar à média de uso dos HCFCs registrada entre 2009 e 2010. Na segunda etapa do programa, a meta seria reduzir em 10% a utilização da substância até 2015. Já em 2020 e 2025, a diminuição terá que ser de 35% e 67,5%, respectivamente.

O Protocolo de Montreal estima que, em 2030, os consumidores terão que abrir mão de 97,5% do consumo de HCFC. Entre as substâncias que serão eliminadas do mercado, destacam-se o HCFC-22 (ou R22) e o HCFC-141b (ou R141b). Esses gases são usados em larga escala como fluido refrigerante – em geladeiras, freezers e aparelhos de ar-condicionado – e nos processos de produção de espumas e plásticos de poliuretano, como agente de expansão.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.