Ruptura: vice não apoia prorrogação de mandato do atual presidente do Garantido

Antônio Andrade e Ida Silva: juntos pela democracia, em 2020, e, hoje, separados por um projeto em que ela acredita ser danoso para a condução institucional da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido (Thiago Alencar/REVISTA CENARIUM)
Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – A empresária Ida Silva, vice-presidente da gestão “Um Só Garantido”, que tem o servidor público federal Antônio Andrade como atual presidente da Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido (AFBBG), lançou nota oficial condenando a proposta do mandatário de prorrogar o mandato da gestão por mais um ano. Antônio Andrade convocou assembleia-geral extraordinária para o dia 4 de março, cuja pauta é a extensão, por mais um ano, de seu período administrativo. O dirigente alega que seu mandato foi prejudicado pela pandemia. Antônio e Ida foram eleitos em 2020 para uma gestão de três anos.

O Boi Garantido perdeu o título do festival, na volta da pandemia, mas, continua sendo o mais vitorioso bumbá na disputa de Parintins. São 32 títulos contra 24 do boi Caprichoso (Reprodução/viagemturismo)

Em nota, Ida Silva argumentou: “Não quero e acredito que o estatuto tem que ser cumprido. A gestão acaba em setembro, com novas eleições, e cada gestão dura três anos, sem possibilidade de reeleição. Assim está escrito. Assim deve ser cumprido. Tudo fora dessas prerrogativas tem cor e cheiro de golpe e isso está fora do que acredito”, declarou. A vice completou: “Achamos (eu e minha família) melhor me antecipar e colocar minha posição. Se a assembleia acontecer, pego o microfone e reafirmo minha posição a todos os presentes”, afirmou.

Em entrevista à CENARIUM, a vice-presidente reafirmou sua opinião e foi categórica em refutar a proposta do atual presidente: “Não tenho como apoiar isso, o Garantido possui um estatuto que rege nossa democracia, nossas eleições e nossos órgãos de ética e fiscalização financeira, pode não ser o estatuto mais bem-acabado do mundo, mas ainda é o conjunto das nossas leis. Acho, inclusive, que ele precisa ser revisto e aperfeiçoado”, opinou.

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Ida Silva apresentou questionamentos que vão além do mérito proposto por Antônio Andrade em sua tentativa de extensão do período outorgado pelo voto direto, em 2020: “Se o mandato se encerra em 2023 e, caso Antônio consiga a prorrogação, como fica o Conselho Fiscal e o Conselho de Ética? Eles foram eleitos em uma votação independente, ou seja, não faziam parte de chapa. Como fica isso, gente?” Indagou.

Abandono

Mesmo superando em organização e coreografia, o Garantido pecou no projeto alegórico e isso deu ao adversário, Caprichoso, cinco preciosos décimos que impactaram na derrota do bumbá da Baixa de São José, em 2022 (Reprodução/SRzd)

Em mais um trecho da nota, Ida criticou a falta de lealdade de Antônio Andrade para com aqueles que apoiaram sua candidatura e se envolveram na gestão. “A diretoria (não se tratando dos atuais contratados) virou as costas para quem tentou, de todas as formas possíveis, amenizar o caos e também virou as costas para todos que apoiaram, de forma verdadeira e espontânea, a eleição do atual presidente. Ligações não são atendidas e perguntas são ignoradas”, lamentou a vice-presidente.

Fibra

Ida Silva é parintinense e atua no ramo de cozinha industrial no mercado manauara. Foi membro do grupo de ritmistas do Boi Garantido, conhecido, popular e oficialmente, como “Batucada Encarnada”. Por sua popularidade e ingerência em setores do boi, recebeu, em 2020, o convite de Antônio Andrade para formar a chapa “Um Só Garantido” para concorrer às eleições daquele ano.

A chapa sagrou-se vitoriosa no pleito e passou a gerir política e administrativamente o Garantido. Com a chegada da pandemia, o Festival Folclórico de Parintins foi cancelado por dois anos. Com o controle da Covid -19, o festival, finalmente, aconteceu em 2022. Na disputa, o Boi Garantido perdeu para o Boi Caprichoso, que ganhou duas das três noites disputadas.

Com a ausência do presidente Antônio Andrade na sala de apuração, no dia do resultado, coube a Ida Silva receber o troféu de vice-campeão. “Ela foi altiva como dirigente e como mulher de fibra”, declarou, à época, a sócia Raquel Palandi.

Ida Silva é parintinense da Baixa do São José, torcedora, sócia e batuqueira do Garantido no instrumento “surdo”. Atualmente, é vice-presidente do bumbá vermelho e branco (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Em outro episódio considerado lamentável por sócios e torcedores, Ida Silva enfrentou, no dia seguinte à derrota, um motim de trabalhadores que cobravam o pagamento por seus serviços. A confusão generalizada aconteceu na Cidade Garantido, que foi depredada e quase incendiada.

Sozinha na condição de gestora e acuada em uma sala da administração, Ida articulou pagamentos e enfrentou, com coragem, os protestos violentos dos trabalhadores. “Fui, literalmente, ao campo de batalha (correndo até risco de morte, como muitos viram), teria, no mínimo, respeito. Entretanto, o inverso aconteceu”, criticou.

Silêncio

Procurado pela reportagem da CENARIUM, o presidente Antônio Andrade não respondeu às solicitações, até a publicação desta matéria, quanto ao posicionamento da vice-presidente Ida Silva. A REVISTA CENARIUM se coloca à disposição do gestor para esclarecimentos.

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