Shinzo Abe, ex-premiê japonês morre após ser baleado durante discurso em comício

Político que por mais tempo permaneceu no cargo foi atacado durante ato de campanha na cidade de Nara (APhilio Fong - 22.jun.22/AFP)
Com informações da Folha de S.Paulo

NARA (JAPÃO) – O ex-premiê mais longevo da história do Japão, Shinzo Abe, 67, morreu nesta sexta-feira, 8, após ser baleado enquanto fazia um discurso de campanha eleitoral na cidade de Nara.

A Agência Japonesa de Gerenciamento de Desastres afirmou que ele foi baleado no pescoço direito e no peito esquerdo. A polícia prendeu um suspeito, Tetsuya Yamagami, 41, sob a acusação de tentativa de homicídio antes de a morte de Abe, que foi transferido para um hospital, ser anunciada. Ele teria usado uma arma caseira.

Ex-premiê do Japão Shinzo Abe com apoiadores durante ato de campanha em Tóquio – APhilio Fong – 22.jun.22/AFP

​Abe renunciou ao cargo em meados de agosto de 2020 devido a questões de saúde. Ele governava o Japão de forma ininterrupta desde 2012 após cumprir dois mandatos como primeiro-ministro.

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A violência armada é rara no país, onde apenas 10 tiroteios que terminaram com mortos, feridos ou danos materiais foram registrados no ano passado, segundo estatísticas da Agência Nacional de Polícia. Nesses incidentes, uma pessoa foi morta e outras quatro ficaram feridas —os números não incluem acidentes ou suicídios.

O atual premiê japonês, Fumio Kishida, disse em uma entrevista coletiva, antes do anúncio da morte de Abe, que o ataque foi um “ato hediondo e bárbaro que não pode ser tolerado”. “Este ataque é um ato de brutalidade que aconteceu durante as eleições, que são a base de nossa democracia, e é absolutamente imperdoável”, seguiu.

O homem suspeito de atirar disse à polícia que estava descontente com o ex-premiê e pretendia matá-lo, informou a emissora NHK+. A mídia local também apurou que Yamagami já integrou a Força de Autodefesa Marítima. Abe foi atacado durante campanha eleitoral para a Câmara Alta do Parlamento. As eleições estão marcadas para domingo (10).

Shinzo Abe sendo socorrido por pessoas que estavam ao redor no momento em que foi baleado – 8.jul.22/The Asahi Shimbun via Reuters

Ele discursava em um ato em nome de Kei Sato, 43, um membro do Partido Liberal Democrático (LDP). O ex-premiê havia iniciado a fala há menos de um minuto quando dois disparos foram ouvidos atrás dele. Sato, em uma rede social, informou que sua campanha para a Câmara Alta havia sido temporariamente suspensa.

Uma das figuras políticas mais influentes do país, a trajetória de Abe esteve inteiramente ligada ao LDP. Seu avô Nobusuke Kish, que também foi premiê, ajudou a fundar o partido. Já seu pai, Shintaro Abe, foi chanceler. Abe, mesmo aposentado da arena política, continuou liderando a ala mais influente da legenda.

Uma das balas que atingiu o político teria penetrado o coração, informou o chefe da medicina de emergência do Hospital Universitário de Nara, professor Hidetada Fukushima. Abe chegou ao local em parada cardiorrespiratória e recebeu transfusões de sangue, mas não foi possível estancar o sangramento. Uma equipe com mais de 20 médicos o atendeu.

“Qualquer que seja o motivo [do ataque], um ato bárbaro como este não pode ser tolerado e nós condenamos com firmeza”, disse o secretário-chefe do gabinete japonês, Hirokazu Matsuno. O governo anunciou a criação de um grupo para investigar o ataque. O embaixador americano no Japão, Rahm Emanuel, disse estar “entristecido e emocionado” com o acontecimento. ​

Da ala conservadora da política japonesa, Abe ficou conhecido no exterior pela estratégia de recuperação econômica batizada de Abenomics, na qual mesclava flexibilização monetária, grande reativação do orçamento e reformas estruturais.

Em uma mudança histórica em 2014, seu governo reinterpretou as leis do país para permitir que as tropas japonesas lutassem no exterior pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Um ano depois, o Japão adotou leis que suspendem a proibição de exercer o direito de defender um país aliado sob ataque. Ele também foi peça-chave para o sucesso da candidatura do Japão como sede dos Jogos Olímpicos em 2020.

A violência política no Japão, especialmente envolvendo armas de fogo, tornou-se incomum ao longo das últimas décadas. O último assassinato de uma figura política de projeção nacional, segundo o jornal americano The New York Times, foi em 1960, quando um nacionalista extremista de 17 anos esfaqueou até a morte o então líder do Partido Socialista do Japão, Inejiro Asanuma. No mesmo ano, outro ultranacionalista atacou o avô de Abe, o premiê Nobusuke Kishi, esfaqueando-o várias vezes na perna.

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