‘SOS Forças Armadas é maquiagem de discurso para pedir ditadura’, dizem especialistas sobre ato no CMA

Mudança de discurso evidencia o mesmo objetivo na voz e nas ações da extrema-direita brasileira, em Manaus (Jander Souza/CENARIUM)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Após decisão da juíza federal da 1ª Vara, Jaíza Fraxe, na terça-feira, 15, que impede que os manifestantes acampados em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), localizado na Avenida Coronel Teixeira, Zona Oeste de Manaus, peçam por “intervenção militar” – o que, na prática, significa exigir que a democracia seja suplantada por uma ditadura militar, o discurso passou a ser de “SOS Forças Armadas”.

Em cartazes e nas vozes dos extremistas, a nova roupagem é um recurso eufêmico para driblar a ordem emitida pela magistrada federal. Segundo o doutor em linguística, Sergio Freire, a pressão provoca tal metamorfose. “O discurso encontra formas de dizer aquilo que ele não pode dizer de determinado jeito”, observou. Para o especialista, a aparente mudança tem como efeito prático manter a mensagem, apesar da pressão. “Isso é uma estratégia enunciativa no intuito de fugir àquilo que foi determinado pela Justiça.

Veja o vídeo:

Manifestantes de extrema-direita gritam ‘SOS Forças Armadas’ em frente ao CMA, Zona Oeste de Manaus (Jander Souza/CENARIUM)

Para Freire, o contexto legal está no âmbito da interpretação. “Cabe, agora, esperar, aguardar e ver se a justiça federal, que é quem julga, se ela (a Justiça) vai entender essa paráfrase como algo que contempla o que foi decidido ou não”, ponderou o linguista. Ainda de acordo com Sergio Freire, diante do que vem acontecendo em frente ao CMA, a abordagem do discurso é apenas um dos pontos a serem fiscalizados. “Existe a questão do conselho tutelar, do furto de energia, enfim, uma série de coisas que precisam ser cumpridas”, resumiu.

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Não engana

Para o cientista político Paulo Queiroz, os extremistas estão sendo orientados. “Eles estão usando de artifícios. Uma maneira de ludibriar o sistema. Estão modificando a estrutura contida na proibição, mas, empregando o mesmo sentido e objetivo. Só que isso não engana, porque a Justiça não olha com esses olhos. A Justiça olha para a ordem judicial, não trabalha com modificações de critérios, particularidades do impedimento, da proibição. Isso não tem futuro”, avaliou.

Crítico, Paulo Queiroz chama atenção para o caráter do “SOS Forças Armadas”. “Estão tentando enganar a Justiça com essas burlas e com isso perdem toda a legitimidade do protesto”, atestou. Outro detalhe que chama atenção do cientista político é o desgaste dos símbolos nacionais. “Os símbolos da pátria estão sendo usados à debalde, ou seja, à toa. Estão depreciando a bandeira, as cores, a camisa… Tudo perdendo valor aos olhos da sociedade”, lamentou.

“Esses dribles que a extrema-direita está tentando dar na Justiça reforça o caráter da camisa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), de forma irônica, claro”, alfinetou. “Ainda bem que Deus é bom com a gente e está nos mandando a Copa do Mundo para a gente tirar esse estigma da camisa da seleção”, comemorou Paulo Queiroz. “Mesmo que eles (os extremistas) façam malabarismos, isso não é garantia de que estarão fora daquilo que a Justiça determinou”, finalizou o linguista Sergio Freire.

Fiscalização do movimento

Nesta quarta-feira, 16, agentes de segurança da Polícia Militar (PM), Polícia Federal (PF), Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (Immu), Bombeiros do Amazonas e conselheiros tutelares estiveram no acampamento montado por extremistas de direita em frente ao Comando Militar da Amazônia (CMA), Zona Oeste de Manaus.

Os agentes buscavam pelas irregularidades descritas na decisão liminar concedida no feriado da Proclamação da República, 15, entre elas, o furto de energia, a permanência de crianças em situação de rua, mesmo tendo um lar, e estacionamento irregular. Os motoristas que mantinham carros parados nas faixas de ciclovia tiveram que remover os veículos.

À esquerda, imagens da manifestação no dia 15. À direita, imagens após fiscalização do Immu (Ricardo Oliveira/CENARIUM)

Conforme o diretor de operações do Immu, Stanley Ventilari, que esteve no local, os condutores que se recusarem a fazer a remoção dos veículos terão os carros apreendidos e serão multados. Até o fim da fiscalização, ainda era possível notar a presença de alguns carros estacionados irregularmente, inclusive, o carro onde está fixado o gerador de energia, que segundo os manifestantes, é utilizado para alimentar as barracas.

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