Suspeito de espionar a Rússia e se passar por professor brasileiro é preso por autoridades norueguesas

Bryggen, o colorido porto de Bergen considerado Patrimônio Mundial da Unesco, serviu como inspiração para o reino de Arendelle, de Frozen (Reprodução/Getty)
Com informações do Estadão

BRUXELAS – Autoridades da Noruega prenderam nesta terça-feira, 25, na cidade de Tromso, perto do Círculo Polar Ártico, um suspeito de espionar a região para o governo da Rússia. O homem tinha documentação brasileira e se passava por um professor universitário identificado como José Assis Gianmaria. Segundo o Ministério do Interior norueguês, ele deve ser expulso do País, mas ainda não está claro se o homem tem, de fato, cidadania brasileira ou se era um russo com documentos falsos.

A prisão ocorre em meio à crescente preocupação em Oslo com a espionagem russa no Ártico – uma região rica em recursos naturais e energéticos. A situação se agravou depois da crescente tensão entre a Rússia e a Otan, da qual a Noruega faz parte, por conta da guerra da Ucrânia, que levou o Kremlin a ameaçar cortar o fornecimento de gás para a Europa durante o inverno.

Na semana passada, autoridades norueguesas alertaram que poderia haver mais prisões depois que, pelo menos, sete russos – entre eles, o filho de um associado próximo do presidente Vladimir Putin – foram detidos nas semanas recentes por usar drones para tirar fotografias nas proximidades de regiões sensíveis, ocasionando uma investigação do serviço doméstico de inteligência.

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Ataque ao Nordstream

A Noruega e outros países estão se mobilizando para garantir a segurança de infraestruturas cruciais após a sabotagem ocorrida nos gasodutos Nord Stream. Desde então, avistamentos de drones foram relatados nos vastos campos marítimos de petróleo e gás natural da Noruega, assim como em aeroportos do País.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, atribuiu as ocorrências à “inteligência estrangeira” – e apontou o dedo, indiretamente, para a Rússia. “Não é aceitável que inteligência estrangeira acione drones sobre aeroportos noruegueses. Russos não têm autorização para acionar drones na Noruega”, afirmou ele, segundo a agência de notícias norueguesa NRK.

Imagem divulgada no dia 27 de setembro deste ano (2022) mostra vazamento de gás do gasoduto Nord Stream 2 em território dinamarquês (Danish Defence/AFP)

Instalações marítimas de prospecção de petróleo e gás natural são centrais para economia da Noruega. Desde que a Rússia lançou sua invasão em escala total da Ucrânia, a Noruega se tornou fornecedora crucial para uma Europa sedenta de energia.

Store deu as declarações horas depois de um drone ser avistado próximo a Bergen, a segunda cidade mais populosa do País, fechando, temporariamente, o tráfego aéreo.

As autoridades também divulgaram a prisão de um homem com dupla cidadania, russa e britânica, acusado de pilotar um drone sobre o Arquipélago de Svalbard, no Oceano Ártico, supostamente, violando uma regra que impede russos de pilotar drones no País.

O homem, Andrei Yakunin, de 47 anos, é filho de Vladimir Yakunin, ex-presidente da companhia ferroviária Ferrovias Russas e confidente de Putin. Vladimir Yakunin foi sancionado pelos Estados Unidos após a Rússia invadir a Crimeia, em 2014.

Quando Andrei Yakunin foi preso, a polícia apreendeu drones e aparelhos eletrônicos com ele, afirmou a promotora de Justiça Anja Mikkelsen Indbjor ao site Barents Observer. “O conteúdo registrado pelo drone é de grande importância no caso”.

Andrei Yakunin – protagonista de uma reportagem do Financial Times, que relatou sua viagem, em seu iate de 26 metros de comprimento, para esquiar em uma região remota do ártico norueguês — pediu para que a corte o considerasse cidadão britânico, segundo relatos.

Seu advogado, John Christian Elden, afirmou por e-mail que seu cliente é cidadão britânico, que estudou, trabalha e tem família no Reino Unido. Elden não negou que Yakunin pilotou um drone, mas afirmou que isso é ilegal apenas para cidadãos russos, não para britânicos.

Andrei Yakunin foi preso quase uma semana depois da polícia norueguesa deter um russo por pilotar um drone sobre um aeroporto em Tromso, no norte da Noruega. Na sexta-feira, as autoridades apreenderam “grande quantidade” de equipamentos de fotografia, incluindo um drone e cartões de memória. A polícia também encontrou fotos do aeroporto de Kirkenes, cidade norueguesa na fronteira com a Rússia, e de um helicóptero militar norueguês.

Um russo de 50 anos foi detido no mesmo dia, na fronteira da Noruega com a Rússia, ao ser encontrado com dois drones e vários equipamentos de armazenamento, de acordo com a Associated Press. Outros quatro russos foram detidos dias depois por tirar fotos em áreas em que registros de imagens são proibidos, de acordo com as autoridades norueguesas.

As autoridades norueguesas têm afirmado que existe um risco intensificado, mas baixo, de maneira geral, de um ataque contra infraestruturas cruciais e que o propósito dos drones pode ser gerar medo.

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