Temporais com nível elevado dos rios causam enchentes e deslizamentos no Norte e Nordeste do País

Embora tenham acendido um alerta aos governos locais e autoridades das defesas civis, a quantidade de água prevista nas últimas semanas não foge do padrão médio para a época do ano (Ricardo Oliveira/REVISTA CENARIUM)
Da Revista Cenarium*

SÃO PAULO – As fortes chuvas que ocorrem no Norte e Nordeste do País, desde a última semana, provocaram deslizamentos, arrastaram casas e deixaram milhares de pessoas desabrigadas.

Embora tenham acendido um alerta aos governos locais e autoridades das defesas civis, a quantidade de água prevista nas últimas semanas não foge do padrão médio para a época do ano, dizem especialistas.

Porém, a conjunção da precipitação elevada, com um aumento do nível dos rios e alterações das marés, provoca o fenômeno chamado “águas grandes”, ou “águas de março” que, em locais de maior risco, com terrenos baixos e próximos às margens dos rios, podem provocar enchentes, explica o meteorologista Olívio Bahia, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

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“Março é o período chamado de ‘águas grandes’, onde temos os rios com níveis sempre elevados, combinado com a grande quantidade de chuva que caiu nas últimas semanas, provocando as enchentes. Em algumas cidades mais próximas ao litoral, como Belém (PA) e São Luís (MA), temos ainda o efeito das marés que também provocam esse aumento da água”, diz.

Tradicionalmente, os meses do ano que compreendem o verão, no Brasil, são caracterizados por fortes chuvas. Na Região Norte, ocorre o chamado “inverno amazônico”, período com precipitação elevada e com aumento de nebulosidade, devido ao clima abafado. Com isso, o excesso de nuvens provoca uma temperatura mais baixa (por isso, é chamado de inverno).

Área residencial alagada, após as fortes chuvas que atingiram Rio Branco (AC), na última sexta, 24 (Odair Leal/24.mar.23/Reuters)

A concentração da umidade provoca as chuvas, que podem chegar a 200 milímetros em algumas localidades. “Quando a maré sobe e, ao mesmo tempo, vem a chuva, a água não tem para onde escoar e provoca alagamentos, o que faz com que algumas das metrópoles próximas às margens dos rios, infelizmente, sejam dragadas”, afirma Bahia.

Uma das cidades mais atingidas da Região Norte, Marabá (distante 560 quilômetros de Belém), está localizada próximo a um delta, entre os rios Tocantins e Itacaiúnas. Mesmo sem as chuvas, o nível dos rios já sobe, aproximadamente, 20 centímetros, no mês de março, de acordo com a Defesa Civil local.

Atualmente, há um alerta para uma precipitação elevada (acima de 100 milímetros, em diversos locais dos Estados do Norte e Nordeste, e acima de 150 milímetros, no Acre, em Manaus e em Belém do Pará) que pode ocorrer a partir deste domingo, 26, até o dia 3 de abril, segundo o site WXMaps.

O meteorologista do Inmet também disse que o órgão segue monitorando a situação na faixa norte do País, compreendendo os Estados das regiões Norte e Nordeste, para continuidade de chuvas na região. “A condição meteorológica indica chuva com volumes acumulados que podem atingir 100 milímetros no Acre, Amazonas, parte de Roraima, Pará, Tocantins e uma pontinha do Maranhão também”, diz.

O geólogo e professor do programa de pós-graduação em Ciência Ambiental da USP Pedro Luiz Côrtes afirma que há, ainda, a possibilidade de um “rescaldo” do fenômeno conhecido como La Niña, que provoca chuvas fortes no Norte do País e seca no Sul. “O La Niña, que esteve presente no último ano e meio, já não está mais presente. Ele consiste em um resfriamento das águas do oceano Pacífico equatorial, próximo ao litoral da América do Sul”, explica o professor.

Porém, as condições atmosféricas podem levar de algumas semanas até meses para “voltar ao normal”, período no qual vivemos uma espécie de “despedida” do La Niña.

“Quando a situação oceânica e atmosférica passam a trabalhar seguindo o mesmo padrão, ocorre o que chamamos de acoplamento. Atualmente, embora o La Niña tenha acabado, a atmosfera ainda não registrou essa mudança, se comportando como se ainda estivesse presente”, explica.

Moradora da Comunidade da Sharp, na cidade de Manaus, Estado do Amazonas (Ricardo Oliveira/REVISTA CENARIUM)

Previsão para os próximos dias

No Sul e Sudeste, embora, atualmente, a previsão do tempo esteja apontando um clima quente e seco, na maior parte dos Estados, na região oeste de São Paulo e no litoral sul há previsão de fortes chuvas, acima de 70 milímetros a partir deste domingo, 26, e na próxima segunda, 27.

Segundo Bahia, do Inmet, a região é bem delicada devido à proximidade com o litoral, com a serra do Mar e por ser bem populosa. “Colocamos um aviso, nessa área, de uma frente fria que deve se deslocar entre a noite de hoje (domingo) e amanhã e que vai juntar umidade.”

“E são as pessoas mais vulneráveis que acabam morando em áreas de risco ambiental que sofrem com as chuvas fortes e alagamentos”, afirma o meteorologista.

A Defesa Civil do Estado afirmou que monitora a chegada da frente fria que deve provocar chuvas no litoral paulista e na região do Vale do Ribeira, neste domingo, 26, com previsão de até 70 milímetros acumulados.

“Já emitimos o alerta para chuvas intensas no litoral e Vale do Ribeira, para a Defesa Civil desses municípios e em nossas mídias sociais, via sistema de mensagem [SMS], aos usuários cadastrados e por meio do Site SP Alerta”, disse, em nota, o órgão.

De acordo com a Defesa Civil, o Estado mantém a campanha “SP Alerta” para as regiões com calor intenso, no interior do Estado, especialmente, com orientações sobre como agir diante de cenários climatológicos de altas temperaturas. Informou, ainda, que não há previsão de mudança deste cenário.

(*) Com informações da Folhapress
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