Termômetro da Amazônia: pesquisadora analisa comportamento das borboletas em diferentes tipos ambientais

Pesquisadora Isabela Oliveira com uma Morpho Menelaus, popularmente conhecida como borboleta azul (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

Paulo Bahia – Da Revista Cenarium

MANAUS – Sensível às mudanças ambientais, a borboleta é um dos animais ideais para a elaboração de diagnósticos de uma região. Por causa desse potencial, a bióloga Isabela Freitas Oliveira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), está desenvolvendo sua pesquisa de doutorado, com foco na análise do padrão de ocorrência desses animais em relação aos diferentes tipos de ambientes e sua resposta frente ao pulso de inundação dos rios amazônicos.

Ao estudar esses animais, a pesquisa busca identificar respostas e entender melhor as mudanças que o meio ambiente está apresentado para a biodiversidade. “Elas são um termômetro. Com as borboletas a gente consegue fazer um diagnóstico ambiental do local, há quanto tempo aquele lugar foi desmatado, se é uma área boa, bem preservada. As borboletas, só pela identidade delas, a gente consegue avaliar a qualidade ambiental”, disse Isabela.

Até o momento, a pesquisa analisou 372 espécies de borboletas e 1.026 unidades do animal. O trabalho científico tem como base a análise de animais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Piagaçú-Purus, no Amazonas, e do Parque Nacional do Monte Roraima, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

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A pesquisa envolve padrões ecológicos e a utilização das borboletas como modelos de estudo. A pesquisadora lembra, ainda, um artigo do pesquisador Dr. Ricardo Spaniol, no qual ele verifica como as fragmentações da floresta contribuem com a redução da variedades de coloração desses tipos de animais, desenvolvido no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais.

“Eu ainda estou na fase de análise e de resultados. Em breve a gente deve ter alguma resposta desse padrão da estrutura ecológica de borboletas na Amazônia. As borboletas são ótimos organismos modelos, tanto de qualidade ambiental quanto de impactos ambientais. Elas estão muito relacionadas ao tipo de ambiente que estão. Se tem um ambiente muito bem conservado que tem um sub-bosque, sombreamento, água, vai ter um conjunto de espécies que estão adaptadas aqueles locais. Por outro lado, se tem um local que teve muito desmatamento é possível identificar apenas com o conjunto de espécies”, disse Isabela.

RDS Piagaçú-Purus 

A pesquisa analisa a estrutura da comunidade de borboletas em três tipos de florestas da Amazônia Central (Terra Firme; Várzea; Igapó), os resultados preliminares apontam que a estruturação dessas borboletas depende muito do tipo florestal. O conjunto de espécie que ocorre na terra firme é diferente das de áreas de várzea e igapó. Estudando o fenômeno das cheias dos rios, a pesquisa identifica que as espécies continuam no local, mostrando que elas estão adaptadas a esse tipo de ambiente, tendo em vista que é um processo que ocorre há milhares de anos. Outro fenômeno que ocorre é a vinda de outras espécies para áreas que antes não habitavam. O estudo é feito na região do baixo Purus, no Amazonas.

Monte Roraima

O estudo também analisa o efeito da mudança de altitude na comunidade de borboletas do extremo norte do País, na região do Monte Roraima. A variação de clima e vegetação são fatores que diferenciam as espécies. Um tipo de borboleta que existe a 1000m de altitude é diferente da encontrada a 1.400m, por exemplo. O doutorado deve ser concluído em 2023.

Políticas Públicas

No Dia Internacional da Biodiversidade, celebrado neste sábado, 22, não há muito o que se comemorar no Brasil com relação a investimento em pesquisas sobre meio ambiente. Para 2021, a previsão orçamentária do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) é de R$ 2,7 bilhões. Uma redução de 34% em relação ao ano de 2020, quando foram investidos R$ 3,6 bilhões. Os pesquisadores também enfrentam redução de recursos destinados às universidades federais, que tiveram corte de R$ 1 bilhão também em 2021.

Isabela afirma que esse é um momento difícil para ciência brasileira. “Tem sido um período muito frustrante, confesso. Tem sido muito frustrante fazer ciência no País hoje em dia”, desabafa. “Isso afeta muito a nossa autoestima, a nossa vontade de fazer pesquisa no País e infelizmente vários pesquisadores tem saído do Brasil, porque não tem oportunidade aqui. E esse conhecimento valioso para o País está indo embora, porque não tem investimento nem valorização do profissional”, finaliza.

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