Tragédia: Brasil supera triste marca de meio milhão de mortes por Covid-19

No mesmo dia em que o País registra o marco de 500 mil mortes, milhares de manifestantes foram às ruas contra o Governo Bolsonaro (Amanda Perobelli/Reuters)

Com informações do O Globo

SÃO PAULO – O Brasil chegou neste sábado a 500.022 mortes por Covid-19. A perda de meio milhão de vidas, registrada pelo consórcio de imprensa do qual O GLOBO faz parte, impõe a pergunta: quantas mortes ainda teremos? Não há estudos, mas nos últimos meses, sob o clamor da CPI da Covid-19, pesquisadores têm se permitido opinar sobre o que as políticas públicas trouxeram e suas consequências.

No mesmo dia em que o País registra o marco de 500 mil mortes, milhares de manifestantes foram às ruas contra o Governo Bolsonaro. Os atos pedem o impeachment do atual presidente da República e o avanço da vacinação em meio a críticas à gestão da pandemia no Brasil.

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No momento, cerca de 11,5% dos brasileiros receberam duas doses da vacina. Levando em conta o baixo isolamento social atual, o índice vacinação mínimo para frear a pandemia é acima de 40%, diz o grupo Ação Covid-19, que envolve diversos especialistas em modelagem matemática. Se o isolamento cair a zero, o grupo afirma que seria preciso 70% da população imunizada (ou sobrevivente de infecção prévia) para conter o coronavírus.

José Paulo Guedes Pinto, cientista da Universidade Federal do ABC à frente do Ação Covid-19, lembra que os casos registrados não chegam a 10% da população — ou seja, ainda há espaço para o vírus crescer:

“Se a gente deixar todo o resto se infectar, quantos vão morrer? Não vão ser 5 milhões, porque jovens e crianças morrem menos que os mais velhos, que estão mais vacinados. Mas vamos para parar em 1 milhão, 2 milhões? Não sei”, explicou.

Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, concorda que a questão é complexa. “Quantas pessoas ainda podem morrer na pandemia no Brasil depende de muitos “se”. Mas podemos dizer, por exemplo, que se a vacinação continuar como foi no último mês, e se as medidas não farmacológicas não forem ampliadas, podemos nos preparar para manter uma média diária acima de 1.500 óbitos por dois ou três meses”, disse.

Isso implicaria mais 150 mil mortes de hoje até o fim de setembro, e a pandemia provavelmente ainda não estaria controlada pela vacina. Em junho, o ritmo de vacinação se acelerou para uma média de quase 1 milhão de doses aplicadas por dia. Nessa velocidade, o Brasil só atingiria em dezembro uma parcela de 70% da população imunizada: o limiar estimado da chamada “imunidade de rebanho”, para segurar a expansão da epidemia.

Mortes evitáveis

A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunização (PNI) por oito anos, afirma que, mesmo com atraso, a vacina pode diminuir a carga de mortes que estaria por vir:

“Os 70% são o limiar para diminuir drasticamente a incidência da transmissão do vírus, mas é possível que a gente consiga observar antes disso um impacto na diminuição da carga de óbitos da doença”, disse.

Hallal é um dos cientistas que têm usado o número de mortos como medida do fracasso do combate à pandemia. Em janeiro, o pesquisador publicou comentário na revista científica Lancet afirmando que o Brasil poderia ter evitado três quartos dos óbitos caso tivesse tido um desempenho apenas razoável na contenção do vírus.

Atualizando o cálculo, o pesquisador vê uma situação pior: como o Brasil possui 2,7% da população mundial, explica Hallal, seria natural que registrássemos uma proporção similar nas mortes pela doença. O país, porém, registrou até hoje 12,8% dos óbitos globais por Covid-19. Isso significa que um desempenho mediano em evitar mortes teria sido capaz de salvar 408 mil vidas.

“Essa conta não é um artigo científico sobre mortes evitáveis, mas uma explicação simples para a população dimensionar o tamanho da tragédia que é a Covid-19 no Brasil”, ressalta Hallal.

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