Advogada que denunciou estupro deixa cargo na OAB-SE: ‘Desamparada’

A advogada Bruna Hollanda (Composição de Paulo Dutra/Revista Cenarium)
Da Revista Cenarium*

SÃO PAULO (SP) – A advogada Bruna Hollanda anunciou renúncia ao cargo de conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Sergipe (OAB-SE). Semanas antes, ela denunciou um colega de profissão, também conselheiro, pelo crime de estupro em um bloco de Carnaval, e disse que não se sentiu acolhida pela seccional do órgão.

Hollanda disse deixar o cargo “profundamente decepcionada e indignada”, além de se sentir “desamparada e humilhada” pela gestão da OAB-SE. “Finalizo minha participação profundamente decepcionada e indignada com a postura desrespeitosa, falaciosa, machista e perigosamente astuta (…) Sou mulher, sou advogada, sou mãe, fui violentada covardemente, sou vítima de estupro, fui dilacerada no corpo, na alma e socialmente (…) Continuei calada e firme aguardando o acolhimento institucional que não tive até hoje”, declarou em live nas redes sociais na última segunda-feira, 18.

Bruna criticou o fato de a presidente da Comissão de Direito e Defesa da Mulher ter sido instituída como advogada do suposto agressor. “Outra surpresa impactante foi saber que a presidente da Comissão de Direito e Defesa da Mulher tinha sido instituída como advogada do meu agressor. Que absurdo, logo a maior e mais importante comissão, que representa várias mulheres, não pode me representar, logo eu, mulher, advogada e conselheira”, disse.

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A advogada relatou, ainda, ter sofrido tentativas de intimidação e de “reversão dos fatos”. Segundo contou, houve um “uso ostensivo e ilegal da OAB-SE para defender” o suposto agressor, que é sócio do presidente da seccional, e criticou a Ordem por falar em seu nome e dizer que ela “estava bem”, quando, na verdade, não estava.

Hollanda destacou, também, a falta de apoio institucional. “Em nenhum momento foi feita uma campanha de ação institucional de apoio, preservação e acolhimento a mim e à minha família. Mesmo após o avassalador vazamento ilegal do inquérito para a mídia com exposição constrangedora de todas as provas, que incluíam fotos das minhas partes íntimas“, afirmou.

O que diz a OAB-SE

Em vídeo no Instagram, a seccional sergipana negou que tenha sido omissa em relação à denúncia feita por Bruna Hollanda. O presidente da Ordem no Estado, Danniel Costa, afirmou se solidarizar com a vítima nesse “difícil momento que ela está vivendo” e lamentou o fato de ela ter renunciado ao conselho.

A vice-presidente da seccional, Clara Arlene, afirmou que foram tomadas as medidas possíveis, como o afastamento do suspeito do conselho. “Dentro da sua esfera de competência, a OAB adotou todas as medidas que estavam ao seu alcance, inclusive com instauração de processo disciplinar e afastamento do conselheiro. No entanto, nada que a ordem fez e ainda fará será capaz de cicatrizar as dores vivenciadas por nossa colega”, afirmou.

Entenda o caso

O crime teria ocorrido no dia 27 de janeiro, em Aracaju, e o boletim de ocorrência foi registrado em fevereiro. A denúncia veio à tona na imprensa no dia 20 do mês passado.

Na ocasião, a vítima e o suposto agressor teriam saído juntos de um bloco pré-carnavalesco. O suspeito ofereceu uma carona à Hollanda, que aceitou. No caminho, ele teria alegado que precisaria passar em sua residência e, ao chegar no apartamento, adotou comportamento agressivo, dando um tapa no rosto da vítima e a empurrado, antes de cometer o estupro.

A vítima passou por um ginecologista, que constatou a presença de lesões em sua genitália, além do vírus da herpes, que é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST). Como o suspeito não teve a identidade revelada, não foi possível localizá-lo para pedir posicionamento. O espaço segue aberto para manifestação.

Veja declaração da advogada:
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(*) Com informações da Universa
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