Advogado debocha de mulher agredida: ‘Pegou peia para deixar de ser lesa’

Adalberto Silva dos Santos (Divulgação)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium Amazônia

MANAUS (AM) – O advogado Adalberto Silva dos Santos, que se identifica como especialista em Direito Administrativo, publicou um vídeo no Instagram no qual debochou da agressão sofrida por Angela Hiromi Miyazaki Bastos. Ela acusa o ex-marido, Marcelo Medeiros de Castro, e a atual esposa dele, Aleandra Silva, de a agredirem em Manaus (AM). Santos, que é faixa preta 6º Dan no Jiu-jítsu, ainda parabenizou o casal por usar a arte marcial contra a vítima.

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No vídeo que circula nas redes sociais, Adalberto dos Santos zomba da alegação da mulher, que afirmou ter sido agredida na frente do filho, de 9 anos, na segunda-feira, 8, e a chama de “louca”. Segundo a vítima, ela estava separada de Marcelo há um ano, mas ainda havia pendências a serem resolvidas. Esse foi o motivo de ter ido à residência do casal, no bairro Parque 10, Zona Centro-Sul da capital amazonense.

Inscrição de Adalberto Silva dos Santos na OAB-AM. (Reprodução/CNA)

Toda vez a mesma história. Para! Se tu é louca, admite que tu é louca. Pegou uma ‘peia’ da mulher do cara, para deixar de ser lesa. E ainda foi pagar de doidona na imprensa, a imprensa querendo like, ‘tá aí, ‘vamo’ proteger as loucas’“, debochou o advogado.

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Ele ainda afirma que um dos propósitos da arte marcial é controlar “loucos e loucas“. “Parabéns ao casal, parabéns à mulher que defendeu, se defendeu, e parabéns ao nosso querido lutador de Jiu-jítsu que usou o Jiu-jítsu como forma de defesa, que é para isso que serve o Jiu-jítsu, para conter a loucura dos loucos e das loucas“, concluiu no vídeo, que não está mais disponível no perfil do atleta.

Veja o vídeo:

A REVISTA CENARIUM AMAZÔNIA questionou Adalberto Silva dos Santos, via Instagram, sobre a declaração feita por meio das redes sociais. O advogado não retornou os questionamentos até a publicação desta matéria.

A reportagem também entrou em contato com Angela Hiromi Miyazaki Bastos e a Ordem dos Advogados do Brasil seccional Amazonas (OAB-AM) para saber se a entidade considerar respondabilizar o profissional pelo teor das declarações e aguarda posicionamento oficial.

Atuação em caso de agressão

Adalberto Silva dos Santos atual na advocacia sob inscrição de número 8370, na Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Amazonas (OAB-AM). Ele já atuou em casos de grande repercussão, como a defesa do investigador de polícia Raimundo Nonato Monteiro Machado e da lutadora de Jiu-jítsu Jussana de Oliveria Machado denunciados por agressão à babá Cláudia Gonzaga de Lima e ao advogado Ygor de Menezes Colares.

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Além de defender o casal, Adalberto dos Santos também treina a modalidade esportiva junto ao investigador de polícia. No último dia 21 de dezembro, ambos participaram da graduação dos faixas pretas no centro de treinamento Otávio Rodrigues Team BJJ, no bairro Alvorada, Zona Centro-Oeste de Manaus.

Raimundo Nonato e Adalberto Santos em foto, no Instagram. (Reprodução/ Instagram @sergioribeirorc)
Entenda o caso

Angela Hiromi Miyazaki Bastos afirmou que a agressão ocorreu quando ela foi à casa do ex-marido, que era assessor parlamentar da deputada estadual Alessandra Campello (Podemos), para cobrá-lo por pendências financeiras após o divórcio. A vítima acusou o homem de ter incentivado a esposa, que é atleta de Jiu-jítsu, a bater nela.


Por outro lado, Marcelo Medeiros de Castro se defendeu em uma entrevista da acusação de ter tido envolvimento na agressão da ex-mulher. O ex-assessor parlamentar afirmou que a mulher o persegue há meses e, no dia da ocorrência, ela invadiu sua residência acompanhada de uma criança, o filho do casal, de 9 anos. Segundo Marcelo, Angela agrediu Aleandra Silva, que se defendeu.

“Ela entrou para brigar com minha esposa e brigou. Ela se machucou brigando com minha esposa, eu tive que proteger na hora duas crianças e a minha mãe que estava passando mal e se recuperando de um AVC. Estão querendo me colocar como autor; eu sou vítima, tive minha casa violada e meu bem material. Essa mulher teve a pachorra de vir dentro da minha casa agredir a minha mulher, ameaçar todo mundo de morte”, alegou Marcelo.

O casal Marcelo Castro e Aleandra Silva; e Angela Hiromi Miyazaki Bastos. (Reprodução/Redes sociais)

Aleandra Silva também alegou em vídeo divulgado nas redes sociais que teve a casa invadida por Angela, mas agiu em legítima defesa ao agredir a mulher. “Eu tive a minha casa invadida. Estava eu e meu esposo. A nossa casa foi invadida pela ex dele que não aceita o fim do relacionamento. Ela tem nos ameaçado, nos importunado. Eu fui surpreendida quando sai do banheiro. Eu estava no banheiro, ouvi uma gritaria, sai do banheiro e já fui pega de surpresa com um puxão de cabelo, com arranhão, no rosto, no peito, mordida nos braços e ela gritando falando que iria pegar a gente, iria voltar e matar todo mundo, foi quando eu consegui conter ela“, disse.

A mulher explicou como agrediu Angela, e que o marido acionou a polícia: “Coloquei ela no chão, sentei em cima dela sem agressão, até então, mas ela continuou puxando o meu cabelo, foi aqui eu que decidi me defender, fiquei pedindo o tempo todo para o Marcelo não se aproximar, porque a gente já conhece a procedência dela e qualquer coisa que ele chegasse perto ela poderia usar que ele agrediu ela. Ele ficou o tempo todo tentando acalmar a mãe dele que estava fora, ela é sequelada de AVC e não pode se estressar. Ele ficou com a mãe dele o tempo todo e eu segurando ela. Eu pedi para que ele ligasse para a polícia e foi o que aconteceu”, completou.

Angela Hiromi Miyazaki Bastos chegou a ser presa em flagrante por invasão a domicílio e agressão, mas foi liberada após ser ouvida.

Exoneração

Após tomar conhecimento do caso, a deputada Alessandra Campello, responsável pela Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), exonerou o assessor. Em nota divulgada na quarta-feira, 10, a parlamentar condenou a violência contra as mulheres e informou que a exoneração do assessor foi uma medida preventiva para o andamento da investigação.

“Da minha parte, enquanto mulher, deputada e procuradora da Mulher da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), repudio e condeno todas as formas de violência, principalmente envolvendo mulheres. Nesse mundo machista, onde precisamos nos unir, por vezes o machismo, a insegurança e a falta de amor-próprio nos afastam, nos tornam ‘rivais’ e nos levam a extremos assim. Combater a violência é minha bandeira e minha luta diária”, alegou.

“Sobre o assessor, assim que tomei conhecimento do caso, determinei que o mesmo fosse exonerado preventivamente, para que as autoridades competentes (polícia) concluam a investigação e também considerem o relato de testemunhas (pessoas presentes)”, concluiu.

A parlamentar confirmou que ofereceu atendimento psicológico e jurídico da Procuradoria da Mulher às duas mulheres, assim como atendimento psicológico aos filhos das duas mulheres que presenciaram o ocorrido.

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Editado por Jefferson Ramos
Revisado por Gustavo Gilona
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