Além do rock, Rita Lee se dedicou ao ativismo ambiental e escreveu livro infantil sobre Amazônia

Rita Lee com dois dos seus livros infantis. (Guilherme Samora)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Muito além de ser uma estrela do rock brasileiro, a cantora Rita Lee se dedicou ao ativismo ambiental. A artista criticava a destruição da Amazônia e, não menos que isso, lançou uma série de livros infantis que aborda questões ecológicas, com os títulos “Dr. Alex”, “Dr. Alex e os Reis de Angra”, “Dr. Alex na Amazônia” e “Dr. Alex e o Oráculo de Quartz”. A cantora morreu na noite dessa segunda-feira, 8, aos 75 anos.

Em entrevista ao Estadão, publicada em 2020, Rita Lee fez jus à fama de ser “sem papas na língua” e falou o que pensava sobre as queimadas na Amazônia. “A única bandeira que carrego é a da defesa dos reinos mineral, vegetal e animal. Não é de agora que a Amazônia vem sendo estuprada, mas, como hoje, nunca se viu. E ainda fazem vista grossa. O mundo inteiro está vendo que o Brasil está ao deus-dará. Sou do tempo do Getúlio,yes, I’m fucking old’, e de lá para cá, só piora”, afirmou.

No trabalho como escritora, Rita Lee lançou a série de livros entre 1986 e 1992. O protagonista é o ratinho Alex, que “convida” as crianças a conhecerem mais e defenderem o meio ambiente e os povos que nele vivem. A inspiração surgiu a partir de um ratinho de laboratório que Rita adotou e nomeou de Alex. Rita explicou que a intenção era contar para as crianças do desrespeito que acontece atualmente a todas as formas de vida.

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Ilustração do livro “Dr. Alex e o Phanto”. Livro foi originalmente lançado em 1992, com o título de “Dr. Alex e o Oráculo de Quartz”. (Ilustração Guilherme Francini)

“Os quatro livrinhos do Dr. Alex são dos anos 1980, quando então coloquei no papel algumas das histórias que eu contava para meus filhos antes de dormirem. Não se falava tanto em meio ambiente, na causa dos animais, em usinas atômicas, em mineração desenfreada etc”, disse ao Estadão. “Os estrangeiros caem de boca e fazem a rapa nas pedras brutas semipreciosas que temos aqui, e os brasileiros não dão o devido valor”.

No livro dedicado à Amazônia, a escritora conta como Alex combate os malvados que querem acabar com a floresta, os bichos e os indígenas, por meio de queimadas e derrubando as árvores da floresta. O ratinho fica amigo de uma tribo indígena que estava preocupada com todas as maldades que vinham fazendo na mata.

Leia também: Relembre a trajetória de Rita Lee, estrela do rock brasileiro
Rita Lee com os dois livros da série “Dr. Alex”. (Guilherme Samora)

“Quanto antes a criançada ficar antenada a essas tragédias ambientais, melhor. Mostre a elas o fogo destruindo milhares de árvores; conte que estão aniquilando indígenas e sua rica cultura; mostre que animais, que sentem dor e são seres vivos como nós, são tratados como coisas. Sim, é desagradável, mas as crianças de hoje devem ser preparadas para aprender o que não se deve fazer com a natureza”, defendeu na entrevista.

Trajetória

Rita Lee Jones nasceu em 31 de dezembro de 1947, em São Paulo, filha do dentista o qual era filho de imigrantes dos Estados Unidos Charles Jones e da pianista italiana Romilda Padula. Logo aos 16 anos, integrou as Teenage Singers, onde foi descoberta e passou a trabalhar como backing vocal. Em 1964, entrou em um grupo de rock chamado Six Sided Rockers, que deu origem aos Mutantes, em 1966.

O grupo, que viria a se tornar fundamento ao tropicalismo, foi formado inicialmente por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. O fim do relacionamento com Arnaldo Baptista coincidiu com a saída dela dos Mutantes, no início dos anos 1970.

Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. (Reprodução/ Internet)

No ano de 2001, ela ganhou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com “3001”. Já em 2012, anunciou que deixaria de fazer shows devido à fragilidade física. Em 28 de janeiro daquele ano, no Festival de Verão de Sergipe, ao anunciar o show como o último da carreira, discutiu com um policial. Foi acusada de desacato à autoridade, levada à delegacia e liberada em seguida.  Ao todo, foram 40 álbuns, sendo seis dos Mutantes e 34 na carreira solo.

Em 2016, ela lançou “Rita Lee: uma autobiografia”. Uma das revelações do livro foi que ela foi abusada sexualmente aos 6 anos de idade por um técnico que foi consertar uma máquina de costura de sua mãe em casa. Em março de 2023, ela anunciou “Outra Autobiografia”. Também escreveu “Amiga Ursa: Uma história triste, mas com final feliz” na literatura infantil. “FavoRita”, “Dropz”, “Storynhas” e “Rita Lírica” são outros livros escritos pela cantora.

Na TV, Rita participou das novelas “Top Model”, “Malu Mulher”, “Vamp” e “Celebridade”, em participações especiais.

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Falecimento

A cantora morreu na casa onde morava, na capital São Paulo. Rita Lee vivia reclusa desde que recebeu um diagnóstico de câncer de pulmão, em 2021. Após tratamentos, em abril de 2022, a doença teria entrado em remissão.

A família de Rita Lee divulgou um comunicado nas redes sociais dela: “Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”.

O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera. A cerimônia está marcada para quarta-feira, dia 10, das 10h às 17h.

Anúncio publicado pela família sobre o falecimento e velório da cantora Rita Lee (Reprodução/ Instagram)
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