Amazon Best é acusada de vender ingressos duplicados para Festival de Parintins

Adrisa De Góes – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – A Amazon Best é acusada de vender ingressos duplicados para o 56° Festival Folclórico de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus), realizado de 30 de junho a 2 de julho. Compradores relatam, nas redes sociais, os transtornos para assistir à disputa entre os bumbás Garantido e Caprichoso no Centro Cultural de Parintins (Bumbódromo), local onde acontece o espetáculo.

Em uma publicação no Facebook, uma torcedora do boi vermelho e branco conta que teve problemas com o lugar para o qual adquiriu os passaportes. Assim que chegou ao assento, cuja numeração é definida no ato da compra, já havia um ocupante. A fim de ser realocada para outro espaço, ela diz que chegou a falar com o proprietário da empresa, porém, relata ter sido mal recebida. “Me agrediu verbalmente e me deixou falando sozinha”, escreveu.

Em um comentário da postagem, a mulher ressalta ainda que, após tentar resolver o impasse junto à Amazon Best e aos responsáveis pela venda, não obteve êxito. Desse modo, mesmo após pagar por um assento, a torcedora do Garantido teve que assistir à apresentação, que tem duração de 2h30, em pé. “O responsável desapareceu. [Ele] prometeu nos colocar em algum lugar e sumiu. Assistimos em pé a apresentação do Garantido”, relatou.

Outros relatos, na mesma publicação, reforçam a duplicidade na venda de ingressos pela Amazon Best. Em um comentário, uma pessoa diz ter passado pelo mesmo problema da autora da postagem e afirma ter se sentido constrangida. Ela conta que a situação ocorreu também com visitantes do Estado de Goiás. “(…) sem contar o constrangimento de chegar no lugar que você comprou e outra pessoa estar lá também passando pela mesma situação e todo mundo olhando”, escreveu a outra compradora.

Internautas se mostraram indignados com a empresa Amazon Best, responsável pela venda de ingressos. “Documente tudo e acione judicialmente. Dano moral e material configurado”, orientou um advogado na publicação. “Desrespeito total, deve acionar a Justiça”, disse outro usuário da rede.

Confusão anunciada

Em janeiro deste ano, no início da venda de ingressos para o 56° Festival Folclórico de Parintins, consumidores já relatavam a duplicidade na emissão das entradas ao Bumbódromo pela Amazon Best. No primeiro dia de comercialização, inconsistências no sistema de bilhetagem ocasionaram uma confusão na sede da empresa, localizada na rua Nova Prata, N° 225, Conjunto Vieiralves, bairro Nossa Senhora das Graças, Zona Centro-Sul de Manaus.

“Lotado, maior confusão, e informaram que estava tendo duplicidade dos lugares nas vendas no site e físico”, desabafou o advogado José Maria Monteiro à época. “O cliente comprava uma cadeira no site e outra pessoa que estava na loja física também podia comprar o mesmo assento, ou seja, duplicidade de vendas com um enorme erro no sistema”, descreveu o compositor João Medeiros, na ocasião.

Agentes do Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-AM) e da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM) precisaram intervir na situação, indo até a sede da Amazon Best para tentar garantir a lisura no processo. Na oportunidade, as vendas ficaram, temporariamente, suspensas pelo órgão fiscalizador.

Leia mais: Procon-AM suspende vendas de ingressos para Festival de Parintins 2023 após falha no sistema da Amazon Best

Faturamento obscuro

Sem mostrar critérios de composição de preço e como foi beneficiada com os lugares, a Amazon Best disponibilizou um mapa de comercialização de espaços para três dias do festival no Bumbódromo. Foram colocados à venda 4.492 espaços, além dos 50 camarotes que a empresa não dá transparência para comercialização. O Bumbódromo tem capacidade para 35 mil pessoas, dos quais quase 20 mil espaços são destinados à venda.

Na divisão do mapa da Amazon Best, há 3.306 passaportes para a “arquibancada especial” ao preço unitário de R$ 1.145, que totalizam o faturamento de R$ 3.785.370; 592 passaportes para a “arquibancada central”, com o valor de R$ 1.495, que somam R$ 885.040; 282 ingressos para a “cadeira tipo 2”, com o preço de R$ 980, que contabilizam R$ 276.360.

Já 312 passaportes para a “cadeira tipo 1” possuem o valor unitário de R$ 1.180 que, juntos, fazem R$ 368.160. Se todos os ingressos forem vendidos – como ocorre todo o ano – a Amazon Best fatura um total de R$ 5.314.930. A situação dos outros 15.508 lugares do Bumbódromo não foi explicada pela empresa nem pela Prefeitura de Parintins.

Empresa no radar do MP-AM

O Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM) instaurou uma investigação para apurar o direcionamento de ingressos do Festival Folclórico de Parintins a cambistas. O alvo da investigação é a empresa Amazon Best.

O início da investigação do MP ocorreu quatro meses após a REVISTA CENARIUM publicar um conteúdo sobre as ligações suspeitas da empresa com a Prefeitura de Parintins. A Amazon Best tem entre os sócios Geyna Brelaz, cunhada do prefeito de Parintins, Frank Bi Garcia (UB), e possui o monopólio da venda dos ingressos do festival.

O novo Procedimento Preparatório que instaura a investigação é de 30 de maio deste ano e tem como objeto de investigação a “apuração de eventual prática abusiva ou enganosa com a venda de ingressos em desigualdade de condições ao público em geral para a venda a cambistas”.

Cambista – em caso de eventos – é aquele que compra o ingresso direto da empresa responsável pela organização e revende em preços mais caros ao consumidor final. A priorização do cambista ocorre, principalmente, quando ele é beneficiado com informações exclusivas sobre data, hora e número de ingressos disponibilizadas nos sites de vendas ou presencialmente.

Sem resposta

A CENARIUM entrou em contato com a Amazon Best, na tarde deste domingo, 2, para obter um posicionamento em relação à duplicidade de ingressos relatada por consumidores nas redes sociais. Até o fechamento deste material, a empresa não havia respondido o questionamento.

Leia mais: Empresa que opera Festival de Parintins pode ter direcionado ingressos a cambistas, suspeita MP