Amazônia perdeu área equivalente a sete capitais durante Governo Bolsonaro; desmatamento de 2022 foi o pior em 15 anos

Imazon constatou que a perda de floresta estimada em cerca de 3 mil campos de futebol por dia, entre janeiro e novembro de 2022, se manteve até o último dia do ano (Greenpeace/Reprodução)
Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) terminou de mapear o tamanho do estrago que se alastrou pelo bioma em todo o ano de 2022. O resultado é alarmante: só nos últimos quatro anos, durante a gestão do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), a floresta perdeu mais de 35 mil quilômetros quadrados, uma área maior que a soma de sete das nove capitais da região. É como se Belém, Boa Vista, Rio Branco, Cuiabá, Palmas, Macapá e São Luís tivessem sido retiradas do mapa. 

Desmatamento de dezembro foi o pior desde 2008, segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Foto: Reprodução)

Igualmente grave foi o desmatamento acumulado durante o ano passado. Com quase 11 mil quilômetros quadrados derrubados, o Imazon constatou que a perda de floresta estimada em cerca de 3 mil campos de futebol por dia, entre janeiro e novembro, se manteve até o último dia do ano. 

Foi o quinto recorde anual consecutivo no desmatamento e o pior em 15 anos, desde quando o instituto passou a monitorar a Amazônia com imagens de satélite, em 2008.

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Só no último mês de dezembro, a floresta perdeu 287 quilômetros quadrados de mata, segundo o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon. O equivalente a 105% mais do que em dezembro de 2021, quando foram devastados 140 quilômetros quadrados.

O ano 2022 fechou com perda de 10.573 quilômetros quadrados de floresta na Amazônia Legal (Arte: Thiago Alencar/REVISTA CENARIUM)

Na avaliação do coordenador de Pesquisa do Instituto, Carlos Souza Jr., o motivo para o novo recorde foi bem evidente: “Uma corrida desenfreada para desmatar a Amazônia enquanto a porteira estava aberta para a boiada, para especulação fundiária, garimpos ilegais e o desmatamento dentro de Terras Indígenas e Unidades de Conservação”.

“Isso mostra o tamanho do desafio para o novo governo, que precisa agir rapidamente para reduzir o processo de destruição da Amazônia que acelerou nos últimos quatro anos”, ressalta Souza Jr.

Leia também: Desmatamento: Amazônia teve área quatro vezes o tamanho de Belém sob alerta nos últimos cinco meses de 2022

Coordenador de Pesquisa do Imazon, Carlos Souza Jr. sugere que a PrevisIA, sistema de inteligência artificial do instituto, seja utilizada como ferramenta aliada à proteção ambiental em 2023 (Imazon/Reprodução)

‘Liberou geral’

A devastação aumentou 150% nos quatro anos em que Jair Bolsonaro esteve no poder, refletindo a falta de ações coordenadas para coibir o desmatamento e o desmonte de órgãos federais que deveriam atuar para impedir o aumento da destruição no bioma.

Entre 2015 e 2018, quadriênio anterior, o desmatamento foi um pouco maior que 14 mil quilômetros quadrados.

Para se ter uma ideia do descaso, um estudo do MapBiomas, divulgado ano passado, apontou que o Governo Bolsonaro fiscalizou apenas 2% dos quase 200 mil alertas de desmatamento emitidos desde o início do mandato do ex-presidente.

Pouco mais de 5 mil alertas de desmatamento tiveram autorização, auto de infração ou algum tipo de embargo (Fonte: MapBiomas)

“Os números registrados nos últimos anos mostram como não fomos capazes de atuar com eficiência para proteger o nosso patrimônio florestal”, ressalta a pesquisadora do Imazon, Bianca Santos.  

“Só no último ano, perdemos mais de 3 mil campos de futebol por dia de floresta, na Amazônia. Perdemos áreas para grileiros, garimpo ilegal, madeireiros e muitos outros. São áreas mais difíceis de se recuperar, que representam não só biomassa e estoques de carbono perdidos, mas, também, território indígena e de comunidades tradicionais, áreas de preservação ambiental, mata ciliar, biodiversidade e a possibilidade de incentivo da bioeconomia nessas áreas”, lamenta Santos. 

Pesquisadora do Imazon, Bianca Santos lamenta o descaso do governo anterior com os recursos naturais do Brasil (Imazon/Reprodução)

2022 avassalador

Quando o recorte é feito por Estado, Pará, Amazonas e Mato Grosso seguem liderando os índices de desmatamento na Amazônia, com quase 80% da destruição registrada em 2022, que teve o pior dezembro desde 2008. Juntos, os Estados concentraram 8.053 quilômetros quadrados derrubados, mantendo a tendência iniciada em 2019. 

Amazonas e Mato Grosso foram os únicos que tiveram aumento na destruição em relação a 2021, segundo o Imazon. O caso mais grave é o Amazonas, onde a devastação cresceu 24%. No Estado, a derrubada vem avançando principalmente na divisa com o Acre e Rondônia, na região conhecida como “Amacro”, aponta o Instituto, onde está localizado o município campeão em desmatamento em 2022: Apuí, com 586 quilômetros quadrados. 

No Amazonas, desmatamento segue mais acelerado na fronteira, conhecida como Amacro (Arte: Thiago Alencar/REVISTA CENARIUM)

“Se nada for feito, o cenário para 2023 será de tendência de aumento do desmatamento com base nos dados da PrevisIA”, alerta Carlos Souza Jr., citando a assertividade de 80% da plataforma de inteligência artificial do Imazon, que estima uma destruição superior a 11.800 quilômetros quadrados até o fim deste ano, caso o desmatamento continue no ritmo atual: área dez vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro

“Os dados da PrevisIA podem ser usados para priorizar áreas críticas e evitar novos desmatamentos. É possível, também, usar essas informações sobre áreas críticas com alto risco de desmatamento para criar novas áreas protegidas, evitando, assim, futuras derrubadas de floresta e a apropriação de terras públicas não destinadas”, destaca o coordenador de pesquisa. “É mais barato prevenir do que remediar com ações de comando e controle”, acrescenta o especialista.

Segundo a pesquisadora Bianca Santos, a expectativa do time de especialistas do Imazon é de que o atual recorde de desmatamento tenha sido o último reportado pelo instituto, “já que o novo governo tem prometido dar prioridade à proteção na Amazônia”.

“Mas para que isso aconteça de fato”, pondera Santos, “é preciso que a gestão busque a máxima efetividade nas medidas de combate à devastação que já foram anunciadas, como a volta da demarcação de Terras Indígenas, a reestruturação dos órgãos de fiscalização e incentivo à geração de renda com a floresta em pé. Para isso, é prioritário o estabelecimento de um plano integrado junto aos governos estaduais e outras instituições parceiras para combate ao desmatamento”, finaliza a pesquisadora.

Leia também: Aproximadamente 80% do desmatamento da Amazônia se deu em território brasileiro

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