Amigos ressaltam a importância de ‘Mãe Nonata’ para as lutas sociais no Amazonas

Iyálorisá Nonata Corrêa, também conhecida como Mãe Nonata, partiu com 66 anos (Divulgação)

Victória Sales – Da Revista Cenarium

MANAUS – Após lutar contra um câncer, morreu nesse domingo, 6, uma das mais conhecidas líderes religiosas de matriz africana de Manaus. Iyálorisá Nonata Corrêa, também conhecida como Mãe Nonata, partiu com 66 anos, se tornando uma figura importante nas lutas por direitos humanos no Amazonas, em especial no combate ao racismo e à intolerância religiosa.

A jornalista e também amiga de Mãe Nonata, Luciana dos Santos, em uma conversa com a equipe da REVISTA CENARIUM disse: “Ela era uma voz combativa e sempre presente, mantendo a busca por uma sociedade realmente igualitária até o fim. Em março deste ano, por meio da Associação Nossa Senhora da Conceição, buscou a Justiça, juntamente com a Associação Toy Badé, para garantir que os estudantes de Manaus tivessem o direito garantido ao ensino das diversidades étnico-racial, religiosa, de gênero e sexual; temáticas que são alvos de políticos com ideologias conservadoras”, destacou.

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Mãe Nonata como uma das principais líderes religiosas e uma figura importante para questões sociais (Divulgação)

Luciana ressalta ainda que durante a pandemia sua casa também auxiliou inúmeras famílias em vulnerabilidade social, reafirmando esse espaço de acolhida que são os terreiros. “Com sua partida para o Orun (conhecido na língua iorubá como céu ou o mundo espiritual), fica o exemplo de resistência dessa mulher negra extremamente inteligente e acolhedora, que agora segue na luta como uma ancestral, guiando os passos dos que permanecem aqui lutando por justiça social”, destacou.

Para o pai de santo Alberto Jorge, Mãe Nonata tem uma representação a qual ela se divide em vários campos em torno de uma figura de uma mulher negra, que quis acima de tudo assumir, vivenciar essa identidade étnica, cultural e religiosa. “Ela nasceu de uma família católica e entrou no axé por uma questão de saúde e passou a vivenciar isso com grande intensidade, não fez questão de usar títulos acadêmicos, ela ficou muito mais dentro como militante do movimento social”, destacou.

Alberto ressalta ainda que ela com as irmãs fundaram o Partido dos Trabalhadores (PT) no Amazonas. “Elas tiveram um inserção gigantesca na vida política e ela nunca teve medo de enfrentar situações, tanto que hoje na despedida na frente do terreiro, uma militante deu um depoimento falando sobre a coragem que Mãe Nonata teve quando, no Movimento Sem-Terra, a militante foi jurada de morte e Nonata chegou com o carro levando ela de lá”, ressaltou.

Por meio de uma homenagem, o deputado federal José Ricardo afirmou que Nonata era mãe de santo e militante do Partido dos Trabalhadores (PT), o qual chegou a ser vice-presidente. “Esteve à frente do Movimento Negro no Amazonas e no Brasil, cuja principal pauta é a luta contra o racismo. Também foi fundadora do Fórum de Mulheres Afro-Ameríndias e Caribenhas. E em 2020, pensando em contribuir no combate aos impactos da pandemia de Covid-19 em Manaus, ajudou na criação do Comitê Pela Vida, que auxiliou centenas de famílias em situação de vulnerabilidade econômica”, ressaltou por meio de nota.

Mãe Nonata e o deputado federal José Ricardo (Divulgação/Rarimar Portela)

Mãe Nonata

Raimunda Nonata Corrêa nasceu às margens do rio Juruá, no dia 14 de setembro de 1954. Teve sua vida dividida entre a atuação nas religiões de matrizes africanas, nos movimentos sociais e na política. Foi aos 14 anos que Mãe Nonata, como era conhecida, começou a frequentar o terreiro de Umbanda. Corrêa relacionava a prática espiritual com a parte social e conduzia o terreiro com essas duas questões.

Para discutir questões de religiosidade em contexto amazônico, Nonata articulou o início da Organização no Amazonas, inicialmente conhecida como Coordenação Amazônica da Religião de Matriz Africana e Ameríndia (Carma) e logo mais ficou conhecida como Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana (Aratrama). Em 1979, Nonata passou a integrar a Articulação Nacional dos Movimentos Sociais e em 1984 passou a atuar no Movimento Sem-Terra.

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