Após pandemia, indústria criativa no Brasil mantém crescimento e passa por transformação

Os impactos da pandemia na cultura, como fechamento de estabelecimentos e desafios institucionais que já vinham acontecendo, a exemplo de mudanças na legislação, afetaram o segmento cultural da indústria criativa (Reprodução/Streetartrio)
Com informações do Infoglobo

RIO DE JANEIRO – Mesmo com vários locais de atividades culturais fechados em meio aos desafios impostos pelo novo coronavírus, a indústria criativa no Brasil manteve crescimento e passou por uma transformação. Entre 2017 e 2020, primeiro ano da pandemia, cresceu 11,7% os números de profissionais formais, chegando a 935 mil.

Esta alta foi puxada pelas áreas de tecnologia e consumo, onde se concentram em torno de 85% dos empregos. Cultura e mídia, no entanto, retraíram.

Este cenário já era uma tendência e, na pandemia, ficou mais evidente, conforme mostra o Mapeamento da Indústria Criativa, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com dados do Ministério do Trabalho e Previdência.

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Julia Zardo, gerente de Ambientes de Inovação da Firjan, explica que o avanço do e-commerce e as mudanças na forma de consumir, seja produtos ou serviços, impulsionaram duas das quatro áreas criativas analisadas: tecnologia e consumo. A primeira cresceu 12,8% e a segunda, 20%, em empregabilidade no período.

Por outro lado, diz ela, os impactos da pandemia na cultura, como fechamento de estabelecimentos e desafios institucionais que já vinham acontecendo, a exemplo de mudanças na legislação, afetaram o segmento cultural da indústria criativa. Houve queda de 7,2% de 2017 a 2020. No caso da mídia, o recuo de 10,7% se deve à contração de vagas e à expansão da tecnologia.

Em 2017, a cultura correspondia a 7,7% dos empregos no núcleo criativo. Em 2020, caiu para 6,4%. Neste mesmo tempo, a mídia passou de 11,4% para 9,1%. Já a tecnologia se manteve estável, na casa dos 37% de participação, e o consumo saltou de 43,8% para 47%.

— Os hábitos de consumo estão mudando a produção e os serviços das empresas. Elas têm que ressignificar como veem suas cadeias produtivas, como conseguem vender e distribuir. A empresa precisa entender este novo consumidor e, para isso, abre vagas como as de análisa de dados, gerente de marketing e de merchandising — pontua Julia Zardo sobre o crescimento expressivo do consumo.

Outra observação é a migração de profissionais de vínculos formais para abrir o próprio negócio no audiovisual.

— Vimos que em 75% das vagas que acabaram aconteceu isso. É uma mudança na estrutura de trabalho, onde houve muita perda de emprego e aumento proporcional de microempresas, diz.

O estudo é feito a cada dois anos e esta é a sétima edição. A penúltima foi realizada em 2019, comparando 2015 a 2017. Neste ano, deveria ser de 2017 a 2019, mas, segundo Julia, atrasaram para 2020, no intuito de apurar o impacto da pandemia.

Rio mais criativo

Os Estados que puxaram esse desempenho foram São Paulo e Rio de Janeiro com 50,9% dos empregos. O PIB criativo no Rio (4,62%) passou o de São Paulo (4,41%). Isso já tinha acontecido em 2013 e 2014. Mas, no ano seguinte, São Paulo ultrapassou o Estado fluminense e manteve-se em destaque por quatro anos, até 2019, quando o Rio voltou a ocupar a posição.

A maior força de trabalho de criativos na área de consumo se concentra no Sul do País. Os sulistas também estão com força em mídias, assim como o Sudeste. Na área de Tecnologia, os Estados de São Paulo, Rio e Minas Gerais é que se sobressaem.

E a cultura ganha destaque no Norte e Nordeste. Julia ressalta que é, percentualmente, pois, em números absolutos, o Sudeste fica na frente. Ela cita o exemplo da Bahia e da Paraíba, em que a cultura corresponde 12,2% e 13,6% da indústria criativa, respectivamente, enquanto em São Paulo é apenas 5,2%.

A pesquisa mostra ainda que os salários no setor criativo são em média 2,37 vezes maiores que a remuneração média do trabalhador brasileiro, mas varia dependendo da área. Os criativos em tecnologia, por sua vez, chegam a ganhar 3,3 vezes mais e os de pesquisa e desenvolvimento, até quatro.

O estudo será lançado, hoje, junto à inauguração do novo Centro de Referência Audiovisual Firjan Senai Sesi Laranjeiras, na Zona Sul do Rio. Será a única escola de ensino médio do País com cursos técnicos totalmente voltados para o tema, como cinema e TV, fotografia, produção de áudio e vídeo e desenvolvedor de conteúdo YouTube. Podem se inscrever também quem já atua no mercado.

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