Artistas criticam Rock in Rio sem cantores do Norte: ‘Amazônia não faz parte do Brasil?’

Da esquerda para direita: Gaby Amarantos, Joelma e Fafá de Belém (Composição: Wesley Santos/Revista Cenarium)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS (AM) – Artistas da Região Norte do País criticaram, nesta terça-feira, 30, a ausência de nomes dos sete Estados no “Dia Brasil” do Rock in Rio, festival de música que acontece no Brasil em setembro deste ano. Personalidades como Gaby Amarantos, Joelma e Fafá de Belém questionaram a organização do evento.

Segundo a organização do Rock in Rio, o dia 21 de setembro será dedicado à música brasileira, sem artistas internacionais. Vão se apresentar artistas de sertanejo, samba, MPB, bossa nova, música clássica, rap, trap e pop nacional. (Veja a lista abaixo)

Line-up do “Dia Brasil” do Rock in Rio 2024 (Divulgação)

A cantora Fafá de Belém questionou, por meio da rede social Instagram, onde estão os artistas que representam a região amazônica no line-up do festival. “A Amazônia não faz parte do Brasil? A cultura amazônica, nortista, não é parte deste País? Onde está @donaonete, @gabyamarantos vencedora do Grammy, @joelmaareal, @ailamusic, onde estou eu?“, disse.

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A artista citou os ritmos regionais e representações culturais que ficaram de fora da programação. “Onde está o carimbó, o siriá, o boi-bumbá, o Caprichoso, o Garantido, Manoel Cordeiro, Felipe Cordeiro, Joelma Kláudia, Gangue do Eletro, aparelhagens (Carabao, Crocodilo, Tupinambá), Nilson chaves, Arthur Nogueira, Suraras do Tapajós, Kae Guajajara, as guitarradas do Pará, o tecnobrega, artistas indígenas, e tantos outros que levam a cultura do Norte no seu sangue e na sua vida? O Norte será sempre visto como peça decorativa de festas da elite?“, acrescentou.

Por fim, Fafá de Belém menciona que o Norte, mais uma vez, continua sendo usado por conveniência e excluído quando não é interessante. “É muito triste sentir na pele a força da realidade batendo na nossa cara. O maior festival de música do País tem um ‘Dia Brasil’ e nos coloca da porta pra fora. Mais uma vez, nos provam que o Norte continua sendo um artigo folclórico usado como e quando querem, pra uma imagem cool. Pertencimento é muito diferente do uso por conveniência. Nós aprendemos isso a duras penas, e exigimos respeito!!!“, conclui, questionando diretamente o Rock in Rio e o vice-presidente artístico do evento, Zé Ricardo.

Publicação de Fafá de Belém (Reprodução/Instagram @fafadbelem)

As cantoras Joelma e Gaby Amarantos, ambas também do Pará, se manifestaram na rede social X. A primeira enfatizou que as músicas e sons do Norte também são músicas brasileiras. Já a segunda lembrou o prêmio que ganhou por “Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa“ no Grammy Awards Latino:

A cantora amazonense Djuena Tikuna, referência da música indígena no País, chama a falta de artistas indígenas e nortistas no line-up de racismo. “Isso é reflexo de uma sociedade doente e de uma indústria cultural que segue o padrão colonialista de apagamento histórico que somos vítimas. E o dito maior festival do Norte, o Sou Manaus, que não chama artistas indígenas?! Vivemos tristes tempos em que o mundo reconhece a importância das culturas indígenas e da nossa diversidade, enquanto aqui, no Brasil, eles se envergonham de sua ancestral identidade. Vai saber, pra eles ‘índio’ bom, é ‘índio’ morto“, critica.

A cantora indígena Djuena Tikuna (Diego Janatã)
Música brasileira?

À Globo, Zé Ricardo falou sobre o “Dia Brasil”:A campanha do Rock in Rio esse ano é Rock in Rio 40 anos e pra sempre. Por isso a gente resolveu homenagear vários estilos da música brasileira. Estilos que a gente acredita que tem a ver com o festival. E estilos novos que nós estamos abrindo a porta pra entrar no festival. Então, vocês vão ver só shows exclusivos no Dia do Brasil. Com artistas como Capitão Inicial, Detonautas, NX0, Pitty. Todos num show de uma hora e meia. Cada um cantando três músicas, gerando interações“, explicou o vice-presidente artístico.

O fundador do Rock in Rio, Roberto Medina, disse que o Dia Brasil é uma tentativa de tirar pessoas das bolhas”.

A gente precisa sair da bolha que a gente está. A música une pessoas, que une quem é diferente. A coisa que fez eu tomar essa atitude de comemorar os 40 anos foi olhar para frente e não pra trás. (…) é através da música que a gente pode tirar essas pessoas das bolhas e a gente fazer um gesto de um mundo melhor. Um gesto para as pessoas conversarem mais. O mundo tá radical, onde ninguém quer ouvir ninguém. Essa era a hora de trazer os grandes artistas, as marcas e trazer todos vocês“, defendeu.

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