ASMR: saiba o que é a prática de ouvir sons do cotidiano e como pode ser usada no tratamento de doenças

O nome vem da língua inglesa e quer dizer resposta “sensorial autônoma do meridiano”. Os primeiros relatos são de 2009, mas só agora a comunidade científica identificou que a esse tipo de som suave de fato produz uma sensação interna de relaxamento profundo. (Shutterstock)
Com informações do Infoglobo

RIO — Sons como sussurros, de unhas batidas em objetos, comidas sendo mastigadas e papel sendo amassado. A prática conhecida como ASMR tem conquistado cada vez mais adeptos, com vídeos no Youtube ultrapassando a casa de 50 milhões de visualizações. A ciência que explica o interesse de tantas pessoas pela técnica ainda é pouco conhecida, mas aos poucos novos estudos revelam como os sons específicos impactam o corpo e a mente humana. 

O nome vem da língua inglesa e quer dizer resposta “sensorial autônoma do meridiano”. Os primeiros relatos são de 2009, mas só agora a comunidade científica identificou que a esse tipo de som suave de fato produz uma sensação interna de relaxamento profundo. 

O estudo mais recente, publicado por pesquisadores da Universidade Northumbria, do Reino Unido, na revista científica PLOS ONE, concluiu que pessoas que sofrem de transtorno de ansiedade são as mais beneficiadas pela técnica. Durante o trabalho, foi observado ainda que, entre os participantes que disseram ser usuários recorrentes dos vídeos de ASMR, houve uma queda no nível de ansiedade após assistirem à prática, indicando benefícios diretos para a saúde mental.

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O trabalho contou com participantes de 18 a 58 anos, que foram divididos em dois grupos, ambos com transtorno de ansiedade. O primeiro com aqueles que se consideravam usuários da experiência ASMR, ou que demonstraram sentir “arrepios” na cabeça provocados pelos vídeos. Já o segundo foi formado por aqueles que afirmaram que não assistiam à técnica. A conclusão foi que os adeptos tiveram os sintomas do problema. 

A professora do departamento de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenadora do AMBSONO (Ambulatório do Sono) da universidade, Katie Almondes explica como a prática age no organismo.

“Ela atua desencadeando reações no corpo através de respostas a estímulos visuais e auditivos. Traz uma agradável sensação fisiológica, reduz o estresse e é muito associada ao relaxamento, além de trazer a perspectiva para aliviar a ansiedade. Mesmo sendo muito recente, já temos também estudos comprovando seus efeitos para o sono e a melhora de humor”, diz Katie.

O impacto psicológico da técnica foi um dos primeiros fatores a serem analisados no estudo pioneiro publicado sobre a ação da ASMR, também na revista PLOS ONE, em 2018. Nele, pesquisadores do departamento de psicologia da University de Sheffield, no Reino Unido, compararam dois grupos e descobriram que aquele que assistiu a vídeos de ASMR tiveram sua frequência cardíaca desacelerada e indicaram que a técnica “pode ter benefícios terapêuticos para a saúde mental e física”.

Um outro trabalho, publicado na revista BioImpacts por pesquisadores da faculdade Dartmouth, nos Estados Unidos, analisou, por meio de exames de ressonância magnética, como os cérebros de dez participantes responderam à experiência de ASMR. Enquanto assistiam a vídeos da técnica, a atividade cerebral dos voluntários foi monitorada, sendo identificados especialmente os momentos de relaxamento e de formigamento.

Os pesquisadores identificaram que, durante o processo, partes do cérebro ligadas à recompensa e à excitação emocional foram ativadas. Uma delas, chamada núcleo accumbens, é conhecida como “o centro do prazer”. Outra, uma parte do córtex pré-frontal, é ligada à autoconsciência, à cognição social e a comportamentos sociais.

Um estudo da Universidade Swansea, no Reino Unido, mostrou também os gatilhos mais comuns entre o público do ASMR. Cerca de 70% dos entrevistados relataram sentir os arrepios com sussurros; 69% com técnicas chamadas de atenção pessoal – como frases ditas próximas ao microfone com elogios direcionados ao ouvinte –; 64% com sons de folhas ou papéis sendo amassados e 54% com movimentos lentos com as mãos.

ASMR como indutor do sono

Um dos vídeos mais visualizados do canal brasileiro Sabrina ASMR no Youtube, que acumula quase meio milhão de inscritos, chama-se “Vou te fazer dormir intensamente hoje”, e ultrapassa três milhões de visualizações. Com cerca de 17 minutos, o vídeo, de 2019, é repleto de comentários de internautas que dizem só conseguir dormir agora com o som dos sussurros.  O caso evidencia outro benefício da técnica ASMR que tem sido observado pelos especialistas: a indução do sono.

Para testar essa capacidade, um estudo publicado na Frontiers in Human Neuroscience, feito por pesquisadores da Universidade Korea, na Coreia do Sul, combinou a ASMR com uma técnica chamada binaural beat — que utiliza batimentos de dois tons em cada ouvido de forma simultânea para induzir sinais cerebrais em uma determinada frequência.

Os resultados mostraram que o estímulo auditivo conseguiu induzir os sinais necessários para ajudar o cérebro a adormecer, e os pesquisadores responsáveis consideram que a descoberta pode abrir caminho para um novo método que ajude a melhorar a qualidade do sono.

“A gente tem visto um aumento crescente no número de pessoas que buscam a ASMR para ajudar a dormir melhor. Apesar de haver poucos estudos ainda, sabe-se que, como a técnica promove um relaxamento para algumas pessoas, ela tem sim o potencial de ajudar”, destaca a médica Helena Hachul, pesquisadora do Instituto do Sono.

Outra prática que tem se tornado uma ferramenta útil para ajudar na hora de adormecer são os chamados ruídos brancos, sons constantes como a estática da televisão, a chuva ou o barulho do ventilador que escondem outros ruídos externos. Especialistas acreditam que a técnica pode levar a audição ao nível máximo, o que abafaria estímulos, ainda que intensos, e os impediria de ativar o córtex cerebral e interromper o sono.

O método tem crescido sobretudo entre um público que naturalmente é mais propenso a ter a noite de sono interrompida: os bebês. No Youtube, vídeos com duração de até dez horas destinados aos pequenos simulam sons como de cachoeiras e ruídos de rádio. Com mais de cinco milhões de visualizações, eles recebem comentários de mães e pais felizes com o resultado. “Cuido de um neném de 8 meses que chega a sorrir durante o sono com este barulhinho maravilhoso”, escreveu uma usuária da rede.

Há também aplicativos destinados à reprodução dos sons, como o “Sono do bebê – ruído branco”, disponível na Play Store, e o “Sound Sleeper: Ruído Branco”, na App Store. Ambos são muito bem avaliados e recebem relatos positivos dos usuários. “Foi indicação de uma consultora de sono. Meu bebê só dorme se estiver escutando ruído branco, são 10h de sono noturno graças ao app”, escreveu uma mãe.

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