Associações repudiam comissão bolsonarista que vai investigar situação dos Yanomami

Jair Bolsonaro e Arthur Lira (Foto: Composição/Paulo Dutra/Revista Cenarium)
Bruna Cássia – Da Revista Cenarium

BOA VISTA (RR) – Indígenas dos povos Yanomami e Ye’kwana lançaram uma nota de repúdio contra a comissão externa instaurada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para investigar a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami (TIY).

A nota foi elaborada pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), Urihi Associação Yanomami (URIHI), Associação Parawami Yanomami (Parawami) e Associação Wanasseduume Ye’kwana, e conta com o apoio de outras 78 associações e entidades indígenas.

De acordo com a nota, a comissão é composta exclusivamente por deputados alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os quais têm histórico de oposição aos direitos dos povos indígenas e apoio ao garimpo ilegal, atividade que desencadeou a crise humanitária na TIY.

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“Manifestamos nosso repúdio e indignação por mais uma ação truculenta da Câmara dos Deputados que, longe de manifestar preocupação e compromisso com nosso povo, pretende utilizar a dor e a morte do povo Yanomami e Ye’kwana para objetivos simulados de disputas políticas e de defesa do garimpo e da mineração em territórios indígenas”, diz trecho da nota.

Garimpo ilegal na TI Yanomami (Fernando Frazão/Agência Brasil)

A nota reforça que em 2022 e 2023 já foram constituídas duas Comissões especiais no Congresso Nacional para acompanhar a situação na TI Yanomami. Estas Comissões concluíram que o descaso e omissão intencional do Estado brasileiro, principalmente durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o aumento do garimpo no território e o abandono do atendimento à saúde foram as principais causas da crise humanitária.

“O Governo Federal determinou, em janeiro de 2023, o estado de emergência porque constatou a dimensão do genocídio que estava em curso em nosso território. No início de 2024, foi instituída a Casa do Governo em Roraima, visando finalmente realizar ações de desintrusão da terra indígena Yanomami (TIY) com a retirada de garimpeiros, invasores e finalmente restabelecer a política de gestão e atendimento da saúde, tão abandonada nos últimos anos”, diz o texto.

Afronta

Para os indígenas, criar uma nova comissão externa, formada por deputados defensores do garimpo e contrários à demarcação das terras indígenas, como os deputados Nicoletti (UB-RR) e Coronel Fernanda (PL-MT), só pode ser entendida como um “escárnio” e uma “afronta” ao sofrimento dos povos tradicionais.

A Comissão é formada por 14 deputados federais dos partidos MDB, PL, Republicanos e União, dos estados de Roraima, Amazonas, Rondônia, Mato Grosso e Amapá. Além de ser coordenada pela deputada Coronel Fernanda (PL-MT).

Segundo informou a Câmara, os deputados não vão receber nenhum ônus pela atuação na Comissão. Confira a lista dos membros:

• Abilio Brunini (PL-MT)
• Capitão Alberto Neto (PL-AM)
• Coronel Assis (União-MT)
• Coronel Chrisóstomo (PL-RO)
• Cristiane Lopes (União-RO)
• Dr. Fernando Máximo (União-RO)
• Gabriel Mota (Republicanos-RR)
• Gisela Simona (União-MT)
• José Medeiros (PL-MT)
• Lucio Mosquini (MDB-RO)
• Nicoletti (União-RR)
• Pastor Diniz (União-RR)
• Silvia Cristina (PL-RO)
• Silvia Waiãpi (PL-AP)

Da lista, três deputados são de Roraima. Entre eles, o pré-candidato a prefeito de Boa Vista, Nicolleti. O parlamentar é conhecido por apoiar as atividades ilegais de garimpeiros na região.

“Em Roraima a economia sempre girou em torno do garimpo, por isso, desde o início do meu mandato, defendo a regularização dessa atividade para que ela possa acontecer de forma correta. O garimpeiro não é bandido!”, disse em publicação no Facebook.

Deputado federal Nicoletti (Divulgação)

Em contrapartida, durante a criação da Comissão Externa, a deputada Silvia Waiãpi garantiu que o grupo vai trazer à tona a realidade do povo indígena, que vive uma crise humanitária marcada por devastação do meio ambiente, doenças, violência e mortes causadas pela atuação do garimpo ilegal.

Leia a nota na íntegra

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Leia mais: Territórios Kayapó, Munduruku e Yanomami são os mais impactados pelo garimpo
Editado por Aldizangela Brito
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