Ativista do movimento negro confirma pré-candidatura ao Senado pelo Amazonas; oficialização deve ocorrer dia 29

A decisão torna Christian o primeiro candidato negro do Amazonas ao Senado (Reprodução/Divulgação)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – “A nossa pretensão e desejo de ser pré-candidato ao Senado significa o fim do ‘viralatismo’ político no Amazonas e das oligarquias. Nossa luta não é contra os impérios dos candidatos, e sim, contra a falta de conscientização do próprio eleitor, no qual o sistema acha que ele deve ficar nesse papel de para-choque da sociedade”, a declaração é do jurista e ativista amazonense da causa negra e dos direitos humanos, Christian Rocha, 37, que confirmou no último dia 21 a pré-candidatura ao Senado, em reunião com a diretoria do Instituto Nacional Afro Origem (Inaô) e parceiros de ativismo.

Ao que tudo indica, o integrante do movimento negro deve se filiar ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), mas de acordo com o pré-candidato, o comunicado de modo oficial, bem como o partido ao qual se filiará, será divulgado na próxima terça-feira, 29, por meio de nota divulgada ao público. A decisão torna Christian o primeiro candidato negro do Amazonas ao Senado.

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“Posso dizer que estou com um pé no PSOL, pois quero continuar construindo e debatendo a candidatura. Aceitei este desafio, conversei com a coordenadora pedagógica do Inaô, Izete Santos, que me incentiva e acredita em mim, assim como a integrante da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), Selma Andina. Estou disposto e muito confiante com o movimento de negritude, mulheres, quilombolas e jovens”, diz o presidente do Inaô, que afirma ter apoio de 41 bases em municípios do Amazonas.

Representatividade e diversidade

Ao ser questionado quanto à leitura do cenário político atual em relação às medidas que assistencializem e promovam a diversidade, como um todo, possibilitando a representatividade em espaço de poder, o pré-candidato critica a falta de iniciativa dos políticos locais e considera que a maioria dos partidos não se interessa em combater o social e o racial.

“Discursam igualdade para maquiar uma boa parte da sociedade que desconhece a sua própria história. O País é multirracial e cultural, apesar de termos a segunda maior população negra do mundo, o Brasil é desigual, embora cheio de estatuto, não respeita a criança, o idoso, o homossexual, a mulher, o deficiente, e a demora dos processos judiciais e a ampla reforma do código penal dá ao Brasil o ar de impunidade”, pontua Christian, que completa.

“Nossos políticos são, na sua maioria, fazedores de negócio. Primeiro, infelizmente, eleição é leilão, para eles ganha quem paga mais, e com isso se cria um mercado de emprego político, que se torna negócio de família, onde colocam os filhos e sobrinhos sem pauta, sem bandeira. Eles investem para depois recuperar o que gastaram. Muito além da causa negra, a minha luta e daqueles que me apoiam é pelas mulheres, a população LGBQTIA+, umbandistas, capoeiristas, evangélicos, católicos, umbandistas e candomblecistas, espíritas e todos que merecem o devido respeito e política de qualidade”, salienta o pré-candidato.

Política Públicas

Christian destaca a necessidade de elaboração de iniciativas para combater a desigualdade social e reconhece que implantar projetos e políticas públicas para a geração de emprego e renda, principalmente, daquelas consideradas mais vulneráveis, não será uma trajetória fácil, caso eleito.

“Estou ciente que não será uma briga fácil, mas o que me capacita é que a vida toda venho realizando um trabalho voluntário sem dinheiro, que nenhum político, nem mesmo com mandato e dinheiro fez. Não estou disposto a me colocar para ser somente um nome, ao Senado, pelo Amazonas. Estou disposto a enfrentar um campo avassalador, onde sei que está em jogo lobbys de empresários e interesses obscuros. Se for da vontade de Deus e da construção do partido que vou ingressar, vai dar para fazer uma boa campanha”.

O jurista amazonense salienta, ainda, que não há demandas de políticas públicas ou projetos de lei da bancada federal, ou de políticos do Amazonas, no Congresso Federal, de enfrentamento à violência contra a mulher negra, ao jovem negro e à disparidade no mercado de trabalho. Na leitura do pré-candidato, a população trans, idosos, negros e os moradores das consideradas periferias necessitam com urgência de políticas públicas mais trabalhadas, além de cursos profissionalizantes e preparatórios para concursos nas comunidades, por meio de emendas parlamentares.

“A comunidade trans sofre. A periferia, por exemplo, a única política pública que ela conhece, na maioria das vezes, é a polícia, e não sou contra não, a polícia tem que fazer o papel dela, entrando em todos os lugares. Mas temos que ir além e gerar oportunidade e mudanças para essas pessoas. Nosso Estado tem um papel fundamental na Amazônia Legal e no cenário internacional; o Congresso Federal tem feito o quê em relação a todos esses pontos?, questiona.

Sobre Christian

Christian Rocha da Costa, 41, é manauara, filho de pedagoga e funcionário público federal, possui dois irmãos. Bacharel em Direito e pós-graduado em Direito Penal e Processo Penal, Christian já foi candidato a vereador de Manaus, nas eleições de 2020, pelo PSB, porém, não foi eleito.

Além de atuar combatendo o racismo e discriminação, o pré-candidato já desenvolveu cursos profissionalizantes e palestras para famílias em vulnerabilidade social, nos bairros da Zona Sul e Zona Leste da capital. O atual presidente do Inaô é autor do feriado da consciência negra no âmbito municipal.

A saúde da população negra também é uma das pautas do ativista. Em agosto de 2021, inclusive, Christian alegou ‘desconhecimento’ de parlamentares da Assembleia Legislativa do Amazonas sobre o assunto. Para Christian Rocha, o comportamento dos políticos, em relação ao tema, mostra o despreparo e o real sentido da necessidade de políticas públicas que promovam a equidade entre a população.

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