Ato cívico em monumento histórico, manifestações de enfermeiros e de apoiadores de Bolsonaro marcam comemorações da Independência, em RO

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – A comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil foi marcada por um feito inédito em Vilhena, cidade do interior de Rondônia, distante 706 quilômetros de Porto Velho. A prefeitura deixou de lado o tradicional desfile pelas ruas e avenidas da cidade para, pela primeira vez, realizar o ato cívico alusivo ao 7 de Setembro, no Museu da Casa de Rondon, monumento considerado marco zero da história vilhenense. Toda a movimentação foi pacífica, mas também houve espaço para protestos.

Enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, bem como outros profissionais de saúde, aproveitaram o evento para manifestar tristeza e repúdio à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, que barrou, de forma monocrática, o piso salarial da categoria. Já na BR-364, apoiadores do presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, organizaram uma carreata. O mesmo movimento seguiu na capital do Estado.

Bicentenário da Independência foi marcado por evento realizado na Casa de Rondon, em Vilhena (Júlio Olivar/Acervo Pessoal)

Casa de Rondon

“Um evento e um público grandiosos”. Foi como preferiu descrever a ação promovida pela prefeitura, o secretário municipal de Educação de Vilhena, Júlio Olivar. 

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Mais de 500 pessoas compareceram ao evento, que contou com apresentações de dança e de fanfarras compostas por estudantes matriculados nas 29 escolas da rede municipal, além de todo o resgate cultural promovido durante a festa. O local escolhido não poderia ser melhor, segundo Olivar: “é onde Vilhena nasceu, há 112 anos”, ressaltou o secretário, em entrevista à REVISTA CENARIUM

“Existe uma importância histórica e a educação tem que conviver com a cultura, com a memória. É uma ação transversal que envolve diversos setores da sociedade”, disse ele. “Eu senti muita emoção das pessoas, desde as crianças que participaram do ato até as pessoas mais antigas de Vilhena. A cidade vai comemorar 45 anos de emancipação política, agora, no final do ano, então há esse apelo. Muita gente pioneira veio aqui reverenciar a nossa pátria, também. Foi um momento mágico de muita emoção e alegria”, acrescentou.

Para o Secretário Municipal de Educação de Vilhena, Júlio Olivar, o evento, além de positivo, promoveu resgate histórico da cidade (Iury Lima/REVISTA CENARIUM)

A solenidade ainda incentivou a população a preservar a Amazônia, com o plantio de mudas de ipês, por meio de professores e estudantes presentes. As crianças receberam cartilhas educativas sobre a data e houve hasteamento de bandeiras.

“Fica o exemplo de que não precisa fazer despesa, gastar dinheiro público para promover atos cívicos. Nós fizemos uma ação voluntária, envolvendo diversas entidades militares e civis. Fizemos um evento quase a custo zero, com a mobilização dos próprios servidores públicos municipais e o resultado foi um evento à altura do público que aqui compareceu”, concluiu Júlio Olivar.

Evento foi marcado por apresentações artísticas dos estudantes de Vilhena (Iury Lima/REVISTA CENARIUM)

Protesto

Assim como ocorre em outros estados brasileiros, a classe da enfermagem aproveitou a movimentação do bicentenário da Independência para protestar em favor de seus direitos. Eles querem o pagamento imediato do piso salarial previsto em R$ 4.750 para os enfermeiros; R$ 3.325 para os técnicos de enfermagem e R$ 2.375 para auxiliares e parteiras.

A lei que previa o piso foi suspensa por Barroso no último dia 4 de setembro, sob a condição de melhor avaliar o impacto sobre o sistema de saúde, com base na argumentação da Confederação Nacional de Saúde, Hospitais e Estabelecimentos e Serviços (CNSaúde).

A Confederação alega que a lei contém vícios de inconstitucionalidade e desrespeita a auto-organização financeira, administrativa e orçamentária de entes subnacionais, podendo impactar hospitais privados contratados por estados e municípios para realizar procedimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O caso deve ser reavaliado em 60 dias, o que desagrada aos profissionais.

Classe da enfermagem aproveitou para manifestar repúdio contra a suspensão do piso salarial (Iury Lima/REVISTA CENARIUM)

“Todo mundo esperava esse piso há mais de 30 anos”, disse à reportagem o enfermeiro Shairlon Luca dos Santos, que trabalha como servidor do Hospital Regional de Vilhena (HRV). “No dia que a gente conseguiu, no último dia, o ministro suspendeu”, lamentou ainda. “Nós somos o pilar do hospital, ou seja, se você chegar no hospital hoje, praticamente todas as pessoas que você vai encontrar pela frente, vão ser da enfermagem. Nós prestamos assistência ao paciente (…) Nós viemos hoje de preto, não de verde e amarelo, porque nós estamos de luto”, disse ele.  

O enfermeiro do HRV, Shairlon Luca dos Santos (Iury Lima/REVISTA CENARIUM)

Para a enfermeira Ariadne Vargas, o sentimento também é de “traição” com a classe.
“Enquanto o governo pedia para a sociedade ficar em casa, nós estávamos na linha de frente, trabalhando, e o que a gente quer é um salário digno, apenas isso”, falou à CENARIUM

“Finalmente o nosso piso foi aprovado e acreditamos que, com certeza, será cumprido, porque nós merecemos. Nós não queremos mais aplausos. Nós queremos um salário digno”, acrescentou Vargas.

A enfermeira Ariadne Vargas espera que a lei do piso salarial seja cumprida (Iury Lima/REVISTA CENARIUM)

Atos pró-Bolsonaro

Apoiadores do presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, também foram às ruas. Em Vilhena, uma carreata formada por centenas de veículos adesivados de verde e amarelo e paramentados com bandeiras do Brasil tomaram os dois lados da BR-364.

Os manifestantes gritavam em apoio ao presidente e seguiram pelo percurso, de maneira pacífica, realizando buzinaços.

Manifestantes pró-Bolsonaro tomaram as ruas de Vilhena e Porto Velho neste 7 de Setembro (Foto: Reprodução)

Já na capital Porto Velho, o ato começou por volta das 9h. Os veículos ocuparam a Avenida 7 de Setembro, na região central da cidade. O esquema foi parecido com o que houve em Vilhena: carros e motocicletas adesivadas e decoradas com bandeiras e outros ornamentos.

Os apoiadores do presidente em Porto Velho também seguiram o trajeto proferindo palavras de apoio a Bolsonaro. Diferente de Vilhena, houve congestionamento e o trânsito ficou pesado.

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